Os desafios para a educação brasileira em 2021

Definitivamente, 2020 foi um ano marcante e desafiador para a educação brasileira. Alunos e professores, distantes uns dos outros, separados por telas de computadores, tablets e celulares, como uma forma de, ao menos, conseguirem compartilhar, mesmo que virtualmente, um ambiente parecido com o escolar. Com a pandemia, a educação precisou se reinventar.
Mas o que esperar para 2021? O que toda esta experiência nos trouxe de positivo? O SERRANOSSA conversou com o vice-reitor da  Universidade de Caxias do Sul (UCS), Odacir Graciolli, para tentar entender este cenário e projetar 2021. Confira:

SERRANOSSA: O ano de 2020 foi de muitos desafios para a educação brasileira. A pandemia obrigou as escolas e universidades a se reinventarem e buscarem alternativas para seguir ensinando. Como o senhor avalia esse período e quais foram as principais adaptações feitas pela UCS para manter suas atividades?

Professor Odacir Graciolli: A UCS desenvolve constantemente projetos com o objetivo de melhorar a aprendizagem dos estudantes. Mantém parcerias com universidades que estão no topo do ranking das melhores do mundo nesse quesito, como, por exemplo, com a Universidade de Turko, da Finlândia. Uma vez que as metodologias ativas, contemporâneas e inovadoras de aprendizagem fazem parte do cotidiano da Universidade, com a pandemia se proliferando no Rio Grande do Sul em meados de março de 2020, momento em que foram interrompidas as atividades presenciais, em uma semana retornamos com aproximadamente 3.000 turmas através da modalidade de aula síncrona. Ou seja, professores e alunos conectados ao mesmo tempo através de uma plataforma digital robusta e com metodologias apropriadas a essa modalidade, com o suporte do nosso Centro de Inovação e de Tecnologias Educacionais – CINTED. O nível de aprendizagem foi preservado durante todo o período desde o início da pandemia. No entanto, não posso deixar de ressaltar e agradecer o esforço gigante dos professores, comprometidos com nossa Instituição e nossa região, e também o esforço dos próprios estudantes, que se adaptaram rapidamente ao novo modelo.


 

SN: O ensino on-line foi a alternativa utilizada para seguir os estudos. O senhor acredita que essa é uma opção que veio para ficar?

Odacir: O processo de ensino precisa estar associado à aprendizagem (que de fato é o mais importante). A educação de uma forma geral vem passando por mudanças no mundo inteiro antes mesmo da pandemia. O que a pandemia fez foi acelerar o processo de transformação da educação, migrando parte da aplicação para o digital. É possível proporcionar uma boa educação a distância, mas isso exige metodologias diferentes, conteúdos relevantes, envolvimento e comprometimento tanto de quem ensina quanto de quem aprende e, claro, não pode faltar tecnologia (computadores/tablets/smartphones, internet, sistemas de informações inteligentes, simuladores, etc.). No entanto, é preciso enfatizar que a interação entre pessoas é fundamental na educação e na formação das pessoas, portanto o modelo que teremos nos próximos anos contempla, de forma equilibrada, atividades presenciais e atividades através de plataformas digitais. De qualquer forma, ainda precisamos aprender os fundamentos do conhecimento para poder aprender coisas novas. Usar um software que faça cálculos estruturais ou um que auxilie no diagnóstico de uma doença é importante, mas o engenheiro precisa saber cálculo e física, o médico precisa saber química e biologia para que possa produzir conhecimento novo para resolver problemas novos que aparecem cada vez com mais frequência na atuação profissional. O conhecimento superficial não dá conta, são necessários os fundamentos, o conhecimento com qualidade. 

SN: Como as novas tecnologias podem contribuir com o ensino para além do período da pandemia?

Odacir: A pandemia gerou um consumo em escala de tecnologia (hardware e software), não só para a educação, mas também para o entretenimento, a saúde, o trabalho, etc. Isso desencadeou um processo produtivo, economicamente mais sustentável, de soluções tecnológicas que visam o bem-estar das pessoas. Na educação, vamos ter muitos produtos tecnológicos associados à inteligência artificial, com valores mais acessíveis, que permitirão gerar ambientes de aprendizagem mais efetivos (realidade virtual/aumentada, simuladores, experimentações através do digital, etc.). No entanto, o desafio é tornar acessível a todos e com qualidade.

SN: Em 2020, a UCS não reajustou as mensalidades, trouxe opções de financiamento, lançou cursos EAD e também proporcionou novas oportunidades de capacitação para a comunidade. Essas iniciativas fazem parte do projeto da universidade para os próximos anos?

Odacir: Considerar a capacidade financeira das famílias, bem como a disponibilização de um ambiente apropriado para a promoção da aprendizagem, sempre está presente no planejamento da Instituição. Para 2021, a UCS não reajustou as mensalidades, tanto na graduação quanto na pós-graduação, entendendo claramente o cenário econômico enfrentado pelos estudantes e familiares e a importância de dar condições de continuar a formação, mesmo que seja preciso fazer alguns sacrifícios. Além disso, absorvendo parte dos custos, oportuniza várias formas de financiamento dos estudos. Uma das linhas tratadas no planejamento é a busca de novas fontes de recursos através da pesquisa e inovação. A UCS se destaca internacionalmente não só por consumir/usar conhecimento, mas também por produzir e socializar conhecimento de alto valor científico e aplicado.


 

SN: Todos os anos a gente vê novas universidades nascendo no país, especialmente oferecendo ensino a distância. Muitas delas apresentam resultados insatisfatórios em avaliações institucionais, inclusive quanto à formação da equipe de professores. Como estes e outros fatores podem afetar a educação brasileira em longo prazo?

Odacir: A principal base de uma sociedade desenvolvida é a educação de qualidade. Para muitas pessoas, é difícil avaliar o valor do “produto” educação, diferentemente de outros serviços ou produtos. É preciso conhecer algumas variáveis para escolher uma boa instituição e um curso desejado. É preciso investir um pouco de tempo, visitar a Instituição, conversar com pessoas que estão ou passaram por ela, para não se arrepender no futuro. Não podemos nos enganar e achar que estamos fazendo um bom negócio tendo 50% de desconto no curso. É preciso avaliar muito mais que preço (até porque as formas de financiamento disponíveis atendem praticamente a qualquer limitação financeira), mas as entregas que a Instituição faz para a formação do estudante, que é o que lhe proporcionará, no mínimo, mais competitividade no mercado de trabalho a longo prazo.

SN: Uma das principais reclamações de professores universitários é o nível de conhecimento dos acadêmicos que ingressam no Ensino Superior. O que o senhor acredita que pode ser feito para melhorar a qualidade do ensino básico brasileiro, em especial nas escolas públicas?

Odacir: A educação não está entre as principais prioridades dos nossos últimos governantes, infelizmente. No entanto, podemos trabalhar para fortalecê-la em nossa região. A educação é de responsabilidade de todos. A valorização de um estudante “bem formado/qualificado” traz benefícios para ele próprio, para a família, para a empresa em que desenvolve suas atividades profissionais (mais produtivo, inovativo, empreendedor) e para toda a sociedade. Nós temos que mostrar para os jovens que é possível – e necessária – uma boa formação sem abrir mão da juventude, de uma vida saudável e feliz. Mas para isso é preciso haver estímulos de todos e envolvimento e comprometimento dele próprio.

SN: A UCS desenvolve diversas pesquisas e projetos com reconhecimento no meio acadêmico. Como a universidade pode contribuir com a comunidade regional de forma direta?

Odacir: A UCS é uma Universidade sem fins lucrativos. O poder público não contribui com o orçamento da UCS. A gestão eficiente dos recursos oriundos das mensalidades dos estudantes faz com que ela continue, há mais de 53 anos, transformando vidas. Já passaram por aqui mais de 110 mil estudantes, que estão atuando na região, no Brasil e no mundo. Essa é a entrega de maior valor que a Instituição devolve para a sociedade. Além disso, uma série de benefícios, ações e serviços são prestados pela Instituição. No que tange à questão financeira, neste semestre, são quase 500 estudantes com bolsas PROUNI, muitos estudantes com financiamento FIES, Banrisul, Pravaler (em que a UCS absorve parte do curso), Desconto Família, entre outros, tudo para oportunizar ao estudante frequentar a Universidade em busca da construção de seu futuro. Referente às ações para a comunidade, só para citar algumas, temos o Serviço de Assistência Jurídica (SAJU), no qual são atendidas, por ano, mais de 3 mil pessoas gratuitamente, e o Serviço de Psicologia Aplicada (SEPA), inaugurado este ano no campus. Centenas de estudantes prestam serviços dentro da comunidade nas mais diversas áreas (educação, saúde, ação social, etc.) através de seus estágios de curso. Quando é dada a oportunidade, fazemos formação de professores do ensino fundamental ao ensino médio da rede pública. Oferecemos, ainda, inúmeros cursos voltados à comunidade em geral, através da Extensão Universitária, em diferentes áreas e com diferentes objetivos. Mas, com certeza, podemos fazer muito mais, através de parcerias com poder público e privado de forma a não onerar os valores oriundos das mensalidades dos nossos estudantes. A universidade está de portas abertas, e vamos até as portas que também estejam abertas, para alinharmos parcerias que possam beneficiar a comunidade.

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