Os estragos, um ano depois do temporal

Uma colheita promissora e com bons frutos. Assim era vista a produção da safra 2011/2012, que foi destruída em poucos minutos há exatamente um ano. O dia 14 de dezembro de 2011 ficará marcado na memória de pelo menos dois mil produtores da Serra Gaúcha, que sofreram com um temporal de granizo cujas consequências são sentidas até hoje. A chuva causou prejuízos de mais de R$ 60 milhões. Na região de Bento Gonçalves, os mais atingidos foram agricultores da Linha Brasil, em Pinto Bandeira, e da comunidade de São Luiz das Antas, em Tuiuty, onde os prejuízos ultrapassaram os R$ 6,6 milhões. 

Em algumas propriedades, como da família de Josephina Marini Pastorello, moradora da Linha Brasil, em Pinto Bandeira, a produção de uva caiu 50%. Já para o agricultor Gilberto Pastorello, morador do mesmo local, as perdas foram ainda maiores. Até o ano passado eram colhidos 20 mil quilos de caqui. Neste ano, nenhum fruto cresceu. Nos parreirais, a perda chega a 60% e o pêssego está com apenas 60% da sua produção costumeira. Mas apesar da quantidade aquém do normal, os produtores comemoram a qualidade dos frutos.

Segundo levantamento da Emater, em Pinto Bandeira a uva e o pêssego são as culturas predominantes. No município há mil hectares de pêssego que rendem 16 toneladas do fruto a cada safra e 1,3 mil hectares de uva, o que equivale a uma produção de 28 toneladas por ano. “Na safra passada não houve tanta perda no pêssego. Na área afetada, grande parte do que havia já tinha sido colhido. Mas com a uva foi mais complicado. As perdas chegaram a 95% da produção nas famílias atingidas. E o que restou não tinha qualidade mínima”, destaca o enólogo da Emater Thompson Benhur Didone. 

Depois que a prefeitura decretou situação de emergência, o governo do Estado disponibilizou às famílias atingidas uma linha de crédito especial, com juros menores e facilidade de pagamento. 

Em alguns, como o de Josephina, o seguro agrícola auxiliou para que o prejuízo não fosse mais significativo. “Nos parreirais colhemos entre 100 e 120 mil quilos todo ano. Com o granizo do ano passado, conseguimos pouco mais de 20 toneladas. Os prejuízos só não foram maiores porque tínhamos seguro da safra”, conta a agricultora. Ela ainda relatou que neste ano a produção deve chegar a, no máximo, 60 mil quilos de uva, o que representa uma quebra de 50%. “O fruto está bonito e com boa qualidade”, comemora, na esperança de que o valor mínimo pago pelo produto seja superior ao do ano passado.

Cuidados

Após o temporal que atingiu a região, a Emater orientou os produtores que fizessem uma nova poda nas parreiras. “A estimativa é de que tenha havido um decréscimo na produção total do município em torno de 20% a 30%, em virtude de não terem sobrado varas produtivas. Muitas videiras foram devastadas. Mas as famílias que realizaram a repoda nesta safra estão colhendo próximo ao normal”, destaca Didone. O enólogo ainda explica que, em geral, os frutos estão com boa qualidade, devido ao déficit hídrico. “Isso causou maior acúmulo de açúcar nos frutos, tanto no pêssego como na uva e eles estão mais coloridos. Não temos ocorrência de podridões, o que é bastante significativo. Estamos apenas enfrentando problemas no desenvolvimento dos frutos, que neste ano estão menores”, relata. Mas o enólogo chama a atenção para o uso dos agrotóxicos. “Embora a qualidade esteja ótima e sem a ocorrência de doenças, é sempre importante destacar o cuidado ao usar produtos agroquímicos nos frutos. E quando aplicados, o período de carência deve ser observado. Uma grande quantidade de produtos químicos reflete em resíduos nos vinhos e nos sucos, apresenta problemas na fermentação além de por em risco a saúde do consumidor”, enfatiza. 

Tanto a colheita da uva como do pêssego já iniciaram. As variedades precoces de uva, que acabam tendo a colheita antecipada em função do clima mais quente, tiveram os primeiros frutos colhidos ainda no final de novembro. A colheita do pêssego iniciou em novembro e segue até janeiro. A expectativa é que volte a chover para ajudar no desenvolvimento dos frutos, mas sem temporais e granizo. A previsão da Emater é que as plantações se recuperem dos estragos causados em 2011, apenas na safra de 2013/2014.

Linha Brasil: um novo recomeço após temporal

Após o temporal que destruiu toda a produção da família de Gilberto Pastorello, em 2011, este ano foi marcado pelo trabalho pesado para que as plantas que sobraram pudessem dar novos frutos. Apesar de todo esforço, a queda na produção da propriedade, em Pinto Bandeira, chega a 100% no caqui, 60% nos parreirais e 40% nos pessegueiros. 

A produtora Sônia conta que no ano passado a família, preocupada com a falta de chuva, investiu na construção de dutos para irrigação dos pomares e nos parreirais para garantir uma boa safra, mas não foi o suficiente. Com a chuva, de menos de 15 minutos, tudo veio ao chão. “Depois do temporal conseguimos apenas colher uma pequena safra de uva em abril. O resto foi tudo perdido”, relata. Apesar de terem recebido a visita de diversos órgãos e autoridades, a agricultora conta que nenhuma ajuda, nem mesmo do empréstimo ofertado pelo governo, foi conseguida. “Tivemos que arcar com todo o prejuízo. Por sorte tínhamos um pouco de dinheiro guardado”, conta. 

Segundo ela, o ano foi de bastante trabalho e infelizmente nem os tratamentos realizados durante o ano, auxiliaram. “Quando venta, os galhos, principalmente aqueles danificados pelas pedras, acabam quebrando. Nossa produção está bem abaixo do normal”, relata sem perder o otimismo, de que irá melhorar a situação e enfatizando que, apesar da quebra, a qualidade está satisfatória. No final de outubro, a família começou a colher os pêssegos, que são comercializados também em outros Estados e a safra de uva iniciará na segunda quinzena de janeiro.

Apesar da qualidade dos frutos, o preço pago aos produtores está baixo, apenas R$ 0,70 ao quilo, quando o custo para produção gira em torno de R$ 0,50. Tendo praticamente a mesma variação do ano passado, quando o custo de produção ficava em torno de R$ 0,90 a R$ 1, e o pago aos produtores no máximo R$ 1,20. “O valor pago varia bastante conforme o tamanho e a coloração do pêssego. Em alguns casos acabamos comercializando por R$ 0,40 ao quilo, quando ele é muito pequeno ou até menos que esse valor”, descreve. Ela acrescenta que sua maior decepção não está na baixa produtividade e sim na falta de apoio, mas afirma que não irá desistir e se mostra bastante otimista ao acreditar que a situação irá melhorar.

Preço mínimo da uva indefinido

O preço mínimo para comercialização da uva ainda não foi definido, somente o custo de produção, que neste ano ficou em R$ 0,67, dois centavos a mais que no ano anterior. O valor da venda é definido pelo governo federal, através da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). 

O preço mínimo da uva é calculado com base na inflação, salário mínimo e o custo dos insumos agrícolas. Conforme o coordenador da Comissão Interestadual da Uva, Olir Schavenin, estão sendo realizadas tratativas para um possível acordo, mas ainda não há data para ser estabelecido. Ele ainda destaca que a definição deve ser feita até o final do ano. Uma nova reunião que será realizada na próxima segunda-feira, dia 17, em Flores da Cunha pode definir o custo mínimo. No ano passado o valor foi de R$ 0,57 o quilo da uva comum da variedade Isabel.

Reportagem: Katiane Cardoso


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