Os perigos de respirar pela boca

Se alguém perguntar por onde você respira, a resposta automática será “pelo nariz”, certo? Pois, apesar de óbvia e natural, nem sempre a respiração nasal acontece. Isto porque muitas pessoas respiram pela boca, o que pode trazer uma série de consequências, algumas graves e permanentes. O problema geralmente começa na infância e, se a causa não for descoberta e tratada, pode se estender para a vida adulta.

Quando alguém respira pela boca, corre risco de desenvolver problemas na laringe, traqueia e pulmões, além de estar mais suscetível a doenças relacionadas à garganta. Isto porque uma das funções do nariz é filtrar o ar, protegendo seu corpo contra uma série de micro-organismos e, quando o ar entra pela boca, essa triagem deixa de ser feita. “O nariz é responsável por reter partículas, mesmo que muito pequenas. Ele ainda umedece e aquece o ar, tornando-o mais adequado à passagem pelo sistema respiratório”, explica o otorrinolaringologista Fábio Anselmi, de Bento Gonçalves. Isto sem contar o benefício do olfato, que pode alertar para alguma situação de risco, como um alimento contaminado, por exemplo.

O especialista explica que a principal causa da respiração bucal é a existência de algum fator que cause a obstrução do nariz. “Existem diversos fatores que podem impedir parcial ou totalmente o fluxo normal pelas vias aéreas superiores, entre os quais desvio de septo nasal, hipertrofia de cornetos, rinite alérgica e amígdalas e adenoides aumentadas”, enumera.

A longo prazo, a forma incorreta de respirar pode gerar efeitos adversos no desenvolvimento facial e no posicionamento dentário (veja box). Isto porque a respiração é, junto com a mastigação, um fator primordial que contribui para o correto desenvolvimento dos ossos maxilares e, consequentemente, um posicionamento dentário adequado.

Nas crianças, características como nariz estreito, narinas afiladas, lábio superior curto, boca entreaberta e olheiras acentuadas podem indicar problema, assim como a posição da cabeça. Isto porque quem não consegue respirar pelo nariz acaba, de forma involuntária, projetando a cabeça para frente para facilitar a entrada de ar na traqueia. Crianças que respiram pela boca também podem apresentar baixo rendimento escolar, inquietude, sonolência sem motivo aparente, cansaço ao menor esforço físico, além de roncar e babar durante o sono.

Profissionais que podem ajudar

Otorrinolaringologista – médico especializado em nariz, ouvido e garganta. Ele irá detectar alterações no sistema respiratório que possam contribuir para a respiração errada.

Ortodontista/Odontopediatra – profissionais que acompanharão o desenvolvimento crânio-facial e dentário e que podem corrigir problemas oclusais (na superfície mastigatória dos dentes)

Fonoaudiólogo – profissional que trabalha a função muscular, reeducando as diversas funções relacionadas à fala e dicção

Fisioterapeuta – profissional especializado em corrigir os distúrbios de postura, bem como reeducação das funções motoras

 

Em um adulto passam pelo nariz de 15 a 20 mil litros de ar por dia. A rápida adaptação do corpo a qualquer bloqueio nasal é um dos fatores que faz com que a pessoa não procure ajuda, já que pode usar a boca como via respiratória.

A Academia Brasileira de Rinologia desenvolve desde o ano passado uma campanha específica buscando conscientizar as pessoas sobre as consequências negativas da respiração bucal. No site www.rinologia.org.br podem ser conferidos vídeos da campanha.

Sinal de alerta

* Deformidade dos dentes e maxilares (dentes tortos, projetados para fora, palato estreito, falta de espaço);

* Aumento no número de cáries;

* Deformidade da face (rosto cresce para baixo, fica alongado);

* Cavidade nasal com espaço diminuído;

* Olheiras profundas e olhar cansado;

* Postura corporal caída;

* Cansaço, dificuldades escolares e para dormir;

* Ronco e baba à noite.

Consequências dentárias

Entre as consequências para o desenvolvimento dentário, estão céu da boca alto e estreito, mordidas abertas (quando, mesmo fechando a boca, os dentes da frente não se tocam, ficando um espaço entre os dentes superiores e os inferiores) e mordidas cruzadas (quando a arcada superior fica atrás da inferior ao fechar a boca). “Também percebemos incidência de os apinhamentos dentários, uma vez que a falta de espaço gera um desalinhamento dos dentes, e as retrusões mandibulares, ou seja, a falta de crescimento da mandíbula”, enumera a odontopediatra Daiana Tanzini, de Bento Gonçalves.

Quando o problema for percebido já nos primeiros anos de vida, a indicação é procurar ajuda o mais rápido possível. “O tratamento será mais bem sucedido quanto mais cedo tiver início uma vez que a respiração bucal traz muitos efeitos prejudiciais, inclusive no processo de crescimento facial”, orienta.

Segundo a especialista, além de tratar a causa direta, o paciente deve ser submetido a uma reeducação da respiração e a uma readaptação da musculatura para que o problema não persista como um hábito residual. “A reeducação inclui exercícios para fortalecer a musculatura ao redor da boca e que tonifiquem os músculos elevadores da mandíbula. Em casos específicos também pode ser necessária a prática de dicção em função do mau posicionamento da língua e dos lábios”, detalha. Junto com a readaptação dos músculos, pode ser feita um intervenção ortodôntica e/ou ortopédica, além de processo cirúrgico, quando necessário.

 

Greice Scotton

 

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