Oselame avalia quatro anos no comando do Esportivo

Às vésperas de encerrar o mandato de quatro anos à frente do Esportivo, o presidente Luis Delano Oselame manifesta disposição em continuar colaborando, se não como “o dono da caneta”, sim como um conselheiro tarimbado, que liderou o triunfo na árdua jornada na segunda divisão, fracassou entre os grandes e, em meio a essa expedição de extremos, absorveu importantes lições. Boa parte delas o empresário de 46 anos divide nesta entrevista ao SERRANOSSA, marcada por autocríticas e convicções que ele espera, agora mais como torcedor do que dirigente, que possam ajudar a tornar menos difícil o caminho do seu sucessor.

SERRANOSSA: Você viveu extremos à frente do Esportivo, com a conquista da volta para a primeira divisão, em 2012, e o descenso, dois anos depois. Qual é o sentimento, agora, às vésperas de entregar o mandato?

Luis Oselame: Com relação à situação do clube, é de frustração, porque gostaríamos de termos mantido na primeira divisão. É tão difícil subir. Naquela oportunidade, pareceu fácil, porque fomos bem em todas as fases. Mas foi muito difícil, e o sentimento, em termos de futebol profissional, infelizmente, é de que poderíamos, com algumas ações, de alguma forma, ter mantido o clube na primeira divisão. Todos enfrentaram dificuldades, e com o Esportivo não foi diferente. Porém, nós não conseguimos, o que me deixa um pouco frustrado. De qualquer forma, fizemos o melhor possível dentro daquilo que estava ao nosso alcance.

SN: Qual você considera a principal falha nessa trajetória, que foi da festa do acesso à decepção por um novo rebaixamento?

Oselame: Eu acho que começou bem lá no início…  É importante ter uma diretoria concisa e engajada no sentido de respeitar e não interferir nos limites de cada um, principalmente quando envolve o financeiro. Quando a gente montou a equipe de 2011 para 2012 (grupo campeão da Divisão de Acesso), extrapolamos valores (um dos montantes considerados excessivos pelo mandatário foi o prêmio prometido aos jogadores pelo acesso). O Esportivo deveria ter negociado melhor os seus contratos. Eu tenho certeza de que os mesmos atletas viriam, talvez um ou outro não. Isso gerou um grande ativo que foi colocar o Esportivo na primeira divisão, mas também um passivo financeiro, em 2012, e, inclusive, em 2013, porque renovamos com atletas de 2012, que acabaram não tendo o mesmo desempenho, por valores muito altos, só porque o clube estava na primeira divisão. E não é assim; o Esportivo errou nesse sentido, e eu não poderia ter permitido. Confiei e acabei me dando mal, por isso, assumo toda a responsabilidade. Uma diretoria concisa e consciente não comete erros assim. Acho que seria melhor, ao invés de ter um castelo e desmoronar, irmos construindo um “castelinho” e tentar subir no quarto ano. Seria muito melhor do que ter subido e descido dessa maneira.

SN: Mas o rebaixamento foi reflexo isso?

Oselame: A queda é reflexo disso, sim. Tivemos que controlar despesas, enxugamos muito. O orçamento do futebol, em 2014 (ano do rebaixamento), era muito parecido com o de 2012, na segunda divisão. Tivemos outros problemas, passamos por uma série de dificuldades, mas a financeira foi a principal. Ela nos limitou. Se tivéssemos um pouco mais de respaldo, também… Porque o público da segunda divisão foi maior ou igual ao da primeira. Teria que ser o contrário, deveria ter crescido. Isso não acompanhou e as despesas cresceram muito. O Esportivo deveria ter sido mais consciente nesse sentido, e estamos pagando por isso, infelizmente.

SN: Nos últimos quatro anos, o clube fez uma série de apostas no futebol, com dirigentes remunerados e treinadores desconhecidos do torcedor. Qual delas mais lhe frustou?

Oselame: Com relação aos dirigentes remunerados, ou é isso ou os clubes não conseguem ir adiante, porque a diretoria é formada por pessoas da cidade, que têm as suas empresas e não conseguem dar a atenção devida ao clube. Não fomos bem nas nossas escolhas e não tivemos o sucesso que imaginávamos. Acho que a nossa maior frustração foi essa, por não ter dado certo. Trouxemos o Emerson Ávila (comandou o clube nos cinco primeiros jogos de 2014 – uma vitória, dois empates e duas derrotas), um cara que pode ser inexperiente em termos de Gauchão, mas tinha tudo para fazer um belo papel. Talvez o Esportivo tenha se precipitado em demiti-lo, porque, depois, não fez nada melhor. Pagamos para ver, mas era preciso mais tempo. O que aconteceu, também, é que a adaptação dele demorou; precisava ter se adaptado mais rapidamente ao clube e à cidade. Então, não sei, não rolou aquela química necessária. Mas eu não me arrependo de tê-lo trazido, nem de ter tentado profissionalizar a gestão. Não foram as melhores escolhas, realmente, e descobrimos isso depois. Agora, quanto ao Ávila, foi um técnico que veio de fora, mas muito bem credenciado, e é um excelente profissional. Apenas não deu certo, como muitos treinadores. Tem que ter um resultado, porque é um campeonato tiro curto. A gente tentou o melhor para o Esportivo. Há outras receitas que poderíamos ter seguido, daquele profissional que está aí rodando tanto, mas eu quis mudar um pouco, arejar. Não deu certo, só levei revés nesse sentido.

SN: E com relação ao Valdir Espinosa e ao Rodrigo Carpegiani?

Oselame: O Espinosa é um dos dirigentes remunerados dos quais eu estava falando. Não deu certo, a gente imaginou outra coisa. O Bento Vôlei trouxe o Paulão para ser o treinador, e ele trouxe contatos e relacionamentos dele. Imagina um cara do mundo do futebol, que é muito mais nesse país. Não poderia ter trazido alguma coisa para nós? Essa foi a maior decepção. Não conseguiu somar em nada, não trouxe nada de especial. Teve tempo para isso, mas não deu certo. O Carpegiani (demitido após seis jogos na Divisão de Acesso 2015, com três derrotas e três empates) foi uma sugestão do Espinosa. A gente valorizou a presença do Espinosa aqui, na direção de futebol, e atendeu a um pedido dele, que achava que o Júlio (treinador que comandou o clube nas Copas Serrana e Fernandão em 2014) não estava pronto, não que fosse mau treinador. Então trouxemos um profissional que o Espinosa indicou, até porque, se eu trago você para trabalhar aqui, e aí você começa a sugerir nomes, eu não vou aceitar nenhum? Demos o crédito, confiamos. Acabou não dando certo. O Carpegiani não conseguiu tirar dos atletas um pouco de organização, de futebol, de empenho. O que mudou, do dia para a noite, quando veio o Ben Hur (treinou o time nos últimos oito jogos da Divisão de Acesso 2015, com quatro vitórias, um empate e três derrotas). Não sei o que faltou. A gente imagina, mas, enfim, talvez seja essa distância o que muitas vezes não faz o sucesso de muitos treinadores. Pode ser que o Ávila tenha se mantido um pouco blindado pela sua própria comissão, e talvez o Carpegiani não estivesse na linguagem…

SN: Em contraponto aos resultados de campo, no entanto, a sua gestão também será marcada por redução das dívidas e valorização das categorias de base. Qual é o principal legado que você deixará para o clube?

Oselame: Eu acredito, pelo menos, ter mudado um pouco a imagem do Esportivo, em termos de credibilidade, fazendo as pessoas enxergarem o clube como algo para o qual é possível dar um crédito. Agora, com um pouco mais de serviço, bem executado, que eu sei que a próxima diretoria vai fazer, eu acho que isso vai melhorando, porque era preciso uma temporada grande de resgate, de credibilidade do clube. Apesar de todo esse sobe e desce, vai e volta, as pessoas viram que tem gente, aqui, interessada exclusivamente no Esportivo. Acho que o nosso legado é esse, pensar exclusivamente no bem do Esportivo, mesmo na base da dificuldade, e conseguir dar continuidade àquele embrião das categorias de base, que começou em 2011 e, hoje, está rendendo frutos. Recentemente, tivemos outro atleta que foi fazer avaliação no Grêmio – atacante Fabrício, da equipe Sub-17. Deu para ver, nessa reta final de campeonato – Estadual Juvenil B –, uma gurizada que, com continuidade, tem potencial. Graças a Deus mantivemos isso, quando era mais fácil não ter mantido.   

SN: Quão difícil ser presidente, durante quatro temporadas, de um clube como o Esportivo?

Oselame: O problema é que não se sabe, quando você vai ser presidente, qual é a realidade do clube e as suas dificuldades. O futebol tem as suas particularidades. Você tem que dar resultado dentro e fora de campo. As coisas têm que andar juntas, pois, se não for assim, desequilibra tudo. Acho que esta é a maior dificuldade: conseguir manter o equilíbrio. Um ajuda o outro, sim, mas fazer essa engrenagem rodar, acredito que é a parte mais difícil.  

SN: Qual é a sua expectativa sobre o grupo que assumirá o clube no biênio 2016/2017?

Oselame: A melhor possível. Se a gente observar e analisar, eles têm muito mais relacionamentos empresariais do que a nossa diretoria, e eu torço para que consigam tirar resultados daí. Eu sempre fui recebido pelas empresas, mas, talvez, eles sejam recebidos e saiam com uma placa vendida. Existe essa diferença, essa proximidade que eles têm, muito maior, com o empresariado local, por serem empresários, estarem relacionados com o conselho do Tacchini, CIC, etc. Isso é ótimo para o Esportivo. Talvez seja mais fácil para eles, e torço para que seja, porque, se não, ficam muito sacrificantes as partes administrativa e financeira.

SN: Se pudesse dar apenas um conselho a Guilherme Salton, qual seria?

Oselame: Tem que se impor e dizer “não”. Não hesite em dizer. Se fizer isso nas primeiras vezes, as pessoas não vão tomar atitudes deliberadas. Pode-se imaginar que se esteja podando, mas, muitas vezes, é em função do bem-querer que a gente tem pelo clube. Às vezes, você concede algumas coisas ao invés de dizer “não” e buscar de outra forma; e, depois, paga-se um preço muito caro por isso. Quem paga, é o Esportivo. Quem sou eu para dar conselho, mas tem que ser duro nesse sentido. Eu falhei em 2011 e 2012, lá no início, e ainda estamos pagando por isso. É importante tomar as rédeas. 

 

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