Pandemia e qualificação profissional: o que aprendemos?


 

É certo que a pandemia mudou hábitos, fez aflorar sentimentos de inquietação, medo e incerteza. Passados quase um ano desde seu início no Brasil, ainda vivenciamos seus efeitos. Um dos aspectos mais presentes está relacionado à economia e sua consequência imediata, o emprego.

O ano de 2020 estava marcado pela esperança coletiva de que o país sairia de sua estagnação econômica. Tudo estava certo e combinado de que o crescimento seria de 4%, 5%… só faltou avisar o tal Coronavírus!

Bem, o resto da história todo mundo conhece. Até outubro de 2020, segundo o IBGE, 13,8 milhões de brasileiros estavam desempregados. Isso representa 14,1% da força de trabalho do país. Além disso, calcula-se que mais de 30% da força de trabalho brasileira foi afetada pela pandemia. Medidas como paralisação temporária, redução de salários, corte parcial ou total de renda foram sentidos em todos os setores da economia.

É certo que as relações de trabalho mudarão pós-pandemia. Onde antes havia necessidade da presença, agora surge possibilidade de trabalho remoto. Novas profissões e especializações surgem com a retomada da economia e com a volta à normalidade. 

Em meio a todo esse cenário difícil, uma oportunidade surge com o aumento da procura por especializações e cursos técnicos pós-médios. No período de 2016 a 2019, o número de matrículas em especialização cresceu 74% no Brasil. Na modalidade presencial, o crescimento foi de 44% entre 2016 e 2018, e, na modalidade EAD, foi de 124%. Em 2020, considerando que os números ainda não estão fechados, segundo o Instituto SEMESP, a procura deve manter a média de 74% de aumento.

De acordo com a pesquisa do Instituto, a maioria das pessoas matriculadas em programas de especialização e MBA tem entre 25 e 34 anos. Porém, houve um aumento de pessoas acima dos 35. Em 2016, a faixa de 35 aos 39 representava 16,6% do total; em 2019, ela subiu para 17,6%. No grupo dos 40 aos 44 anos, houve um salto de 9,8% para 11,9%.

O receio do desemprego e a busca por recolocação, somados ao novo formato de aulas on-line, com alta interação com professores e colegas, foram os gatilhos para que houvesse um aumento do interesse por cursos das áreas de Educação, concentrando 32,2% dos alunos, seguida de Saúde e Bem-Estar Social (30,9%) e Ciências Sociais, Negócios e Direito (26,5%). Já nos cursos EAD, a Educação também é a área com maior procura, com 37,5% das matrículas, porém em segundo vem Ciências Sociais, Negócios e Direito com 37,2% e Saúde em terceiro, com 13,8% da preferência, segundo o SEMESP.

Já os cursos técnicos, puxados principalmente pelos da saúde (Técnico em Enfermagem, Radiologia e Análises Clínicas) tiveram procura bem maior em tempo de pandemia. A educação profissional é uma das estratégias para controlar o desemprego, especialmente entre os jovens, que já vêm sendo apontados como a parcela da população que mais deve ser afetada pela crise econômica pós-pandemia.

Particularmente em relação aos cursos da saúde, o profissional de técnico em enfermagem é a quarta profissão mais procurada nas agências de emprego no Brasil, segundo a agência de recolocação Glassdoor. O mesmo vale para o Rio Grande do Sul e para a Serra Gaúcha, em que o aumento da estrutura de prestação de serviços em saúde demanda profissionais de outras regiões do Estado e do país.

Finalmente, cabe ao profissional, de todas as áreas, refletir como este momento irá ou está afetando sua colocação no mercado e buscar ampliar suas competências profissionais para que, em um futuro próximo, esteja preparado para as novas oportunidades. As crises podem ser momentos difíceis, mas também podem ser espaços de reflexão e de reconstrução. 

Sigamos em frente e com a esperança de que em 2021, com a chegada das vacinas, esse “novo normal” apresente novas perspectivas e possibilidades.