Participação feminina na política ainda é pequena

Embora as mulheres sejam maioria entre a população, – elas representam 50,93% do total de moradores de Bento Gonçalves – a mesma proporção não se repete na área política. Nos últimos anos, as mulheres conquistaram posições importantes em lugares antes ocupados exclusivamente por homens. Apesar disso, no meio político a evolução ainda é lenta. Para as eleições municipais deste ano, dos 170 candidatos a vereador, apenas 57, ou seja, 33,52%, são do sexo feminino. A boa notícia, segundo o cientista político Rodrigo Giacomet, é que a participação feminina tende a aumentar. Segundo ele, chegará o momento em que o número de mulheres no meio político irá se igualar aos homens.

Bento teve sua primeira vereadora em 1964

Mafalda Maria MichelonNeis (foto) nunca sonhou em se envolver com política. Apesar disso, foi a primeira vereadora eleita em Bento Gonçalves, em 1964. Hoje, aos 76 anos, diz que não se filiaria a nenhum partido, tampouco voltaria a concorrer. Pioneira em diversas áreas, como ao ingressar na faculdade de Ciências Econômicas– tradicionalmente frequentada apenas por homens – tinha 26 anos quando foi convidada por Plauto de Abreu (deputado estadual pelo PSD de 1955 a 1959) para ser candidata à vereadora. Mafalda acredita que o convite partiu pela representatividade e reconhecimento que ela tinha no bairro Maria Goretti em função do posto que ocupava como diretora de escola.

A ex-vereadora defende a participação feminina na política, mas acredita que o número ainda é pequeno porque as mulheres pensam mais antes de assumir novas funções. Ela própria conta que, em um primeiro momento, resistiu ao convite para concorrer. Devido às pressões de diversos lados, aceitou o desafio quando faltava pouco tempo para o encerramentodo prazo para homologar a candidatura. Mafalda lembra que nos bares da cidade era comum fazer apostas para saber quem ganharia a eleição para prefeito. Naquele ano, como havia duas mulheres candidatas (ela e Volida Dalla Coletta, que assumiu uma vaga como suplente na mesma legislatura), foram feitas apostas para saber qual das duas mulheres seria eleita. “Fui em vários churrascos pagos pelos perdedores”, diverte-se.

Ela lembra que, naquela época, vereador não recebia salário. “Era um título honorífico. Não tinha gastos para o município”, conta. Segundo ela, uma mulher vereadora era uma novidade tão grande que ela era chamada para acompanhar o governador Ildo Meneghetti pelo Estado quando ele iniciou o processo de descentralização da sua administração.

Mas, apesar do prestígio, depois do primeiro mandato Mafalda não quis mais ser candidata. “Poderia concorrer à deputada estadual com chances de me eleger, mas não quis”. O motivo, segundo ela, é sua preferência pelo poder Executivo. “Talvez por isso sempre tenha exercido durante a vida cargos de comando”, conta. Na visão dela, a experiência como vereadora e suas viagens ao redor do Estado serviram para projetar seu nome, motivo que lhe fez ser indicada aos cargos que ocupou posteriormente. Além de diretora de escola, também acumulou funções como delegada e coordenadora de educação e secretária de governo na administração de Fortunato Rizzardo.

Vereadoras em Bento *

Alzira Sanches Rossini (2009/2012), Ângela OzelameBassotto (1993/1996), Elisabeth Luci Toso Stefenon (2001/2004), Eneiva Teresinha SassiCristofoli (2001/2004), Mafalda Maria MichelonNeis (1964/1968), MarlenPelicioli (2009/2012), Mercedes Cavalet (1977/1988), NeileneLunelliCristófoli (2009/2012), Selma Schiedeck (1983/1988), Vitória Conceição SaltonLiguori (1997/2000) e Volida Dalla Coletta (1964/1968)

*Nomes em ordem alfabética, incluindo suplentes
Fonte: Câmara de Vereadores

 

Para cientista político, número de mulheres na política tende a aumentar

Embora a presença feminina no meio político ainda não seja tão numerosa quanto a dos homens, no futuro essa diferença deve diminuir. É o que revela o cientista político Rodrigo Giacomet em conversa com o SERRANOSSA. Ele esteve recentemente em Bento Gonçalves para palestrar sobre a importância da liderança estudantil na política, em evento organizado pelo Sindilojas. Confira a entrevista:

Jornal SERRANOSSA: Embora as mulheres sejam maioria entre a população, a participação delas no meio político ainda é pequena. Quais os fatores que podem explicar esse fenômeno?

Rodrigo Giacomet: A participação das mulheres na política é um processo natural. Primeiro era preciso haver a ascensão ao mercado de trabalho e a briga pelas condições de trabalho e salário semelhantes. Com essas questões já resolvidas, o próximo passo é o ingresso na vida política. A cada ano, aumenta o número de mulheres que participam de partidos políticos e que se dispõem a fazer parte desse universo.

SERRANOSSA: A eleição de uma presidente mulher pode contribuir para mudar esse cenário?

Giacomet: Sim, uma mulher na presidência da República inspira outras mulheres a fazerem parte da política. Sem contar que as escolhas que ela faz – um exemplo disso são os ministérios comandados pelas mulheres – também podem fortalecer esse cenário. 

SERRANOSSA: Você acredita que chegará um momento em que a participação feminina no meio político vai se igualar à masculina?

Giacomet: Vai chegar um momento em que haverá em igual número homens e mulheres na política. É uma tendência natural. Não sei dizer quando, mas esse momento vai chegar.

SERRANOSSA:As mulheres sofrem preconceito no meio político?

Giacomet: Não há preconceito. Inclusive os homens veem nelas oponentes difíceis de serem enfrentadas.

 

Política por gêneros nos países

Em um ranking que avalia a penetração política por gêneros em 146 países, preparado pela União Interparlamentar, o Brasil ocupa o modesto 110º lugar, atrás de nações como Togo, Eslovênia e Serra Leoa. Embora representem 51,7% dos eleitores brasileiros, a participação das mulheres na Câmara dos Deputados é de 9%, número semelhante aos 10% registrados no Senado. São Paulo, a maior cidade do país, possui os mesmos 9% de vereadoras na Câmara Municipal. No Poder Executivo, a situação não é diferente: das 26 capitais, somente duas têm mulheres como prefeitas. A tímida representação feminina no Poder Legislativo se mantém inalterada mesmo depois da aprovação da Lei Eleitoral 9.100, promulgada em 1995, segundo a qual 20% dos postos deveriam ser ocupados pelas mulheres. Em 2010, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) promoveu uma reforma na lei, tornando obrigatória a participação de 30% de mulheres, mas os partidos políticos alegam dificuldades em atrair candidatas para seus quadros. Nas últimas eleições legislativas, a média de concorrentes mulheres à Câmara dosDeputados foi de 19%; para as assembleias legislativas, 21%.

 

Sexo dos eleitores

Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), dos 80.892 eleitores de Bento Gonçalves, 41.762 são mulheres, o que representa 51, 62% do total

 
Um pouco de história 

*A luta das mulheres pelo espaço na política é antiga. Ainda no período do Império, em 1880, a dentista Isabel de Mattos Dillon evocou na Justiça a Lei Saraiva (que permitia aos detentores de títulos científicos votar) para requerer seu alistamento eleitoral;

*Em 1894, Santos, no litoral paulista, promulgou o direito das mulheres ao voto, entretanto, a medida foi derrubada no ano seguinte;

*Em 1905, três mulheres conseguiram se alistar e votar em Minas Gerais;

*Em 1928, o Brasil elegeu sua primeira prefeita: Alzira Soriano de Souza, na cidade de Lajes, no Rio Grande do Norte;

*O voto feminino só se tornou um direito nacional no ano de 1932;

*Em 1933, a médica paulista Carlota de Queirós foi eleita a primeira deputada federal do Brasil;

*O Senado só elegeu suas primeiras parlamentares em 1990: Júnia Marise (Minas Gerais) e Marluce Pinto (Roraima);

*Em 1994, Roseana Sarney foia primeira mulher escolhida pelo voto popular para chefiar um Estado, o Maranhão;

*Em 2011, as brasileiras obtiveram grandes conquistas. A primeira mulher presidente do Brasil, Dilma Rousseff, tomou posse. No Parlamento, foram eleitas as primeiras vice-presidentes da Câmara dos Deputados (Rose de Freitas, do Espírito Santo) e do Senado (Marta Suplicy, de São Paulo).

Fonte: http://www.brasil.gov.br


Reportagem: Carina Furlanetto

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