Patagônia Run: uma jornada de superação pessoal
Em 2013, Clécio Rasador (à esquerda na foto), 41 anos, superou extenuantes 63 quilômetros da ultramaratona Patagônia Run, em San Martín de los Andes, na Argentina. Sedento por desafios de superação, entretanto, decidiu que poderia ir mais longe, e voltou à prova no último dia 12 para encarar o percurso mais longo, com um total de 100 quilômetros. Passou por temperaturas de até 10°C abaixo de zero, rios gelados e subiu mais de quatro mil metros de montanhas antes de cruzar a linha de chegada 21 horas depois da largada. Não esteve entre os primeiros colocados, mas cumpriu com êxito o maior de todos os desafios: superar a si próprio.
Mais do que uma competição com adversários a serem vencidos, a ultramaratona é um desafio pessoal do atleta, e não são todos os que chegam até o fim. Dos 500 corredores que largaram no Patagônia Run 2014, cerca de 200 ficaram pelo caminho durante a jornada. Alguns não suportaram o desgaste físico, outros abandonaram em meio às águas geladas que batiam no joelho em um dos oito rios do percurso, vítimas de hipotermia. Mais da metade do trajeto foi feito à noite, com o corredor isolado em um caminho desconhecido, guiado apenas pelas marcações. “É o atleta, a lanterna dele e Deus”, conta Rasador.
São apenas algumas das adversidades, que exigem mais do que vontade para serem superadas. Antes de tudo, é preciso estar pronto. Rasador dedicou oito meses à preparação pré-prova, que inicialmente incluiu planilhas semanais com 40 quilômetros de corrida, além de exercícios de reforço muscular três vezes por semana e acompanhamento nutricional. Há um mês da viagem, os treinos se intensificaram para 100 quilômetros de corrida por semana. “Além disso, o psicológico também é muito importante. O atleta tem que estar na linha de largada sabendo que vai percorrer 15 ou 20 horas até chegar à meta. E o principal de uma prova longa como essa é estar bem alimentado e bem hidratado sempre. Se tu não fizer tudo conforme planejou com relação à alimentação e hidratação, não conseguirá terminar”, relata o bento-gonçalvense, que cruzou a linha de chegada em 206º na classificação geral e 67º na categoria 40/49 anos. “Quando tu chega, a emoção é indescritível, porque não é só a chegada dos 100 quilômetros. Na realidade é a chegada dos oito meses de treinos. Tu pode pensar: falta um quilômetro para completar os 100, mas na verdade falta um quilômetro pra completar os dois mil de treinos. É o quilometro final de todo um ciclo de treinamento”, salienta.
Apesar de todo o esforço dedicado à empreitada, Rasador não é um atleta profissional. Ele conta que não encara os desafios pela vontade de ser destaque entre os ultramaratonistas, mas por outro troféu, muito mais valioso: o próprio bem estar: “O objetivo é sempre encontrar maiores desafios e me manter saudável. Apesar de muita gente achar que 100 quilômetros é fora do comum, eu não acho, acredito que esses desafios levam a pessoa a ter uma vida saudável e regrada. Ninguém consegue fazer uma prova como essa sem ter uma vida saudável e regrada”, ressalta o bento-gonçalvense, que já traçou uma nova jornada, bem mais ambiciosa. A meta, agora, é encarar os 160 quilômetros da ultramaratona de Mont Blanc, uma das mais desafiadoras do mundo, com percurso entre cadeias de montanhas da França, Itália e Suíça. A previsão do bento-gonçalvense é chegar lá em 2016.
Reportagem: João Paulo Mileski
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