Pela revogação da Lei de Gerson

O brasileiro é um ser fantástico. Brasileiro, literalmente, consegue fazer “do limão uma limonada”. E digo isso pelo simples fato de sabermos que o brasileiro é um povo que, nas maiores adversidades, encontra um “que” de positivo em tudo, consegue sempre ver, mesmo que sem querer, a “metade cheia do copo”, mais uma vez lançando mão da expressão do meu querido amigo e colega Ricardo Vogt.

Isso é, sim, um dom. Quiçá uma dádiva!

Com essa característica, conseguimos suportar as diversidades existentes nas diferenças territoriais. Suportamos seca, chuva, frio, poluição, calor, e tudo, sempre, com bom humor, com gritos de gol e samba no pé. Ou xote, no nosso caso.

Porém, na última semana vivenciamos uma situação por demais entristecedora. Discorrerei mais adiante sobre ela! Antes disso, quero falar da “Lei de Gerson”. Gerson foi um meia-armador da seleção brasileira que, em 1976, contratado para um comercial de cigarros, quando ainda se podia fazer comercial de cigarros, dizia,explicando em apertada síntese, que gostava de levar vantagem em tudo. Anos depois, na década de 80, um jornalista e entrevistador, fazendo referência a esse comercial, e tratando do conhecido e malfadado jeitinho brasileiro, cunhou a expressão “Lei de Gerson”, batizando a condição do brasileiro de querer levar vantagem em tudo.

Eu particularmente não consigo me orgulhar desse rótulo, desse título. Ainda que derivado do futebol, quando sabemos de todas as artimanhas e subterfúgios dos jogadores em campo, cujos protagonistas sempre se vangloriam das suas “malandragens”, tal situação não é motivo de alegria, mas sim de tristeza. A desonestidade não merece, em nenhuma hipótese, louvor. Nesse ponto, nunca esqueço – e acredito que a grande maioria dos leitores também não esqueceu – do episódio envolvendo Maradona, nas quartas de final da Copa do Mundo de 1986, quando este fez um gol de mão e, ao final do jogo, atribuiu tal fato a Deus, episódio que ficou conhecido como “La Mano de Diós”. Situação que depois virou até música.

Pois bem, na última semana foi divulgada a lista das pessoas que beneficiaram do auxílio emergencial concedido pelo Governo Federal aos necessitados. Essa lista surpreendeu as comunidades locais, e de toda a região, por alguns nomes nela constantes. Confesso que, em um primeiro momento, indignei-me de ver pessoas que ostentam em redes sociais como levando uma vida abastada buscando – e recebendo – tal auxílio. Porém, depois, conversando com meu querido sócio, Gustavo Neis, com colocações dele, de fato dei-me conta de que não estamos “dentro” das casas dos demais. Não sabemos suas reais condições, que os levaram a fazer tal pedido. E isso me fez lembrar um ditado chinês, que diz: “acredite em metade do que vê e em nada do que te contam”.

E é bem isso! A vida de redes sociais não é a vida real. Às vezes é só um faz de conta. Andar de carro do ano não é sinônimo de sucesso. Talvez seja só um bom crédito na praça. Ou uma imagem a ser sustentada, mas irreal. E não me cabe julgar nada disso, mas somente aprender como não fazer.

Aqueles que realmente estão necessitados, contem, sempre, com a minha solidariedade. Aos que se lançaram mão da “Lei de Gerson”, fica meu lamento, esperando que um dia ela seja revogada, para um mundo com pessoas melhores.

Até a próxima!

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