Pelo menos quatro feridos no incêndio são de Bento

O drama do incêndio da boate Kiss, em Santa Maria, no domingo, não ficou restrito a habitantes do município do centro do Estado. Pelo menos quatro pessoas de Bento Gonçalves estavam entre as centenas de feridos. Todos tiveram que ser atendidos em hospitais e encontram-se em recuperação.

Karine Ariotti, de 19 anos, estudante da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), saiu ilesa do local, mas em um site de relacionamentos na internet conta que as marcas deixadas pela tragédia estão sendo complicadas de curar. Augusto Eggres, 19 anos, também estudante da UFSM, relata que perdeu 13 amigos no incêndio.

O bento-gonçalvense Tiago Brezolin Ribeiro, 27 anos, saiu da boate sem ferimentos aparentes. Na noite de terça, porém, após passar mal, foi atendido no Hospital Tacchini em Bento Gonçalves. Ele foi examinado e medicado e recebeu alta no final da manhã de quarta. A outra ferida é Bibiana Meireles Cembranel, 20 anos.

No domingo, dia 3, a partir das 17h, haverá uma caminhada e celebração de missa em homenagem às vítimas. A caminhada iniciará na Estação Rodoviária de Bento e seguirá até a igreja Cristo Rei, onde será celebrada a missa.

Presa sob os corpos de vítimas do incêndio

A bento-gonçalvense Bibiana Meireles Cembranel, estudante do curso de Farmácia, na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), permanece internada no Hospital de Caridade de Santa Maria. Após os momentos de terror na casa noturna e do testemunho do sofrimento de outras vítimas no hospital, ela só quer voltar à rotina de antes da tragédia. Mesmo abalada e internada no Hospital de Caridade em Santa Maria por ter inalado muita fumaça, a estudante concedeu entrevista ao SERRANOSSA via e-mail.

SERRANOSSA – O que você lembra do incêndio?

Bibiana Meireles Cembranel – Estava próxima ao palco quando o grupo iniciou a apresentação. O incêndio começou poucos minutos depois. Pessoas começaram a gritar que o teto estava pegando fogo, mas como o vocalista da banda recém havia acendido o sinalizador achei que fosse uma brincadeira. Quando vi a fumaça se alastrando percebi que realmente havia algo errado, mas o pânico já havia tomado conta do ambiente. As pessoas estavam se empurrando, tentando encontrar um meio de sair o mais rápido possível de lá. Como não havia mais luzes, apenas as de emergência, segui o fluxo da multidão. Havia algumas barras de ferro perto da porta, onde acabei caindo. Uma perna ficou presa na porta e a outra com vários corpos de jovens, que caíram por cima de mim e não se mexiam, o que dificultou meus movimentos para sair. Nesse momento a fumaça já havia tomado conta da boate, dificultando minha respiração e os pedidos por socorro. Já estava perdendo as forças quando consegui avistar um bombeiro perto do local onde estava e me agarrei em suas pernas pedindo ajuda para sair. Ele tentou me puxar, mas estava imobilizada pelos corpos em cima de mim e a perna que estava presa. Depois ele retirou os corpos e finalmente conseguiu me tirar de lá. Fui imediatamente colocada na ambulância e levada ao hospital. Ao chegar vi uma cena que nunca imaginei presenciar, muito pior que em qualquer filme de guerra. Eram corpos nos corredores, pessoas tendo paradas cardíacas e respiratórias e com queimaduras no corpo todo. A equipe do hospital foi incansável, tentando socorrer a todos, mas o número de pessoas que chegavam a todo minuto era muito grande. Conforme íamos chegando, éramos devidamente atendidos e medicados, mas muitos chegavam já sem vida.

SERRANOSSA – Qual é seu estado de saúde agora?

Bibiana – Atualmente ainda estou internada no Hospital de Caridade (a entrevista foi concedida na quarta-feira). Como inalei muita fumaça, preciso eliminá-la. Estou sob cuidados de uma grande equipe, composta por médicos, enfermeiras, fisioterapeutas e psicólogas. Mas minha recuperação, segundo os médicos, é boa.

SERRANOSSA – Perdeu amigos na tragédia?

Bibiana – Sim, perdi diversos amigos e outros ainda seguem hospitalizados.

SERRANOSSA – O que tem sido mais difícil para vocês nestes últimos dias?

Bibiana – Acho que o mais difícil será voltar a frequentar a faculdade e os ambientes onde encontrava esses amigos que já não estão mais aqui.

SERRANOSSA – Qual é o seu maior desejo neste momento?

Bibiana – Quero voltar para casa, rever meus amigos que estão mandando muita força e que esta tragédia conscientize a todos nós.

SERRANOSSA – Pretende continuar a estudar em Santa Maria?

Bibiana – Mesmo sendo difícil esquecer tudo que se passou nessa tragédia, pretendo seguir meus estudos.

Comandante dos bombeiros de Bento foi a Santa Maria

O comandante do Corpo de Bombeiros de Bento Gonçalves, capitão Sandro Carlos Gonçalves da Silva, esteve em Santa Maria na manhã de domingo, dia 27, horas depois do incêndio na boate Kiss. Com ele foram três servidores do Corpo de Bombeiros de Caxias do Sul, para auxiliar no resgate das vítimas e realizar levantamento prévio de dados para investigar como o fogo se espalhou pela casa noturna. “Na hora trabalhamos no automático, queremos somente ajudar as vítimas, mas quando paramos e começamos a pensar em tudo, percebemos a grandiosidade da tragédia e a tristeza de tudo isso”, desabafa. “Já havia atuado em outras tragédias, mas nunca com esse número tão grande de vítimas fatais. Que isso sirva de alerta para todos e que possamos com isso melhorar até mesmo os procedimentos que são adotados tanto para prevenção como para socorro.”

O comandante dos bombeiros de Bento Gonçalves destaca uma questão óbvia, mas alarmante: caso normas de segurança forem descumpridas em espaços de reunião de público em Bento Gonçalves, tragédias como a ocorrida em Santa Maria podem acontecer aqui também. “A cidade corre o mesmo risco de outros municípios se houver imprudência ou negligência de pessoas que não estejam pensando nos riscos das atitudes”, avalia.

Reportagem: Katiane Cardoso


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