Pelotão Curumim: há 20 anos mudando vidas

Há 20 anos, o projeto social Pelotão Curumim vem transformado a vida de centenas de crianças e adolescentes em vulnerabilidade social. Encaminhadas pelo Conselho Tutelar e pelo Centro de Referência em Assistência Social (Cras), crianças e adolescentes de 12 a 17 anos encontram no 6° Batalhão de Comunicações um espaço para terem perspectivas melhores de vida, reeducarem-se e de se tornarem bons cidadãos. No último domingo, dia 9, uma confraternização reuniu alunos, parceiros e ex-participantes do projeto para marcar as duas décadas do Pelotão Curumim.

De acordo com o coordenador do projeto, sargento Gelson Luis Scalco, mais de 40 crianças são atendidas de segunda a sexta-feira, à tarde, no contraturno escolar. Neste período, eles participam de reforço escolar, aulas de informática, educação física, palestras com profissionais do Senac e Senai, ensino religioso, além de atividades com psicólogos e orientadores. Os mais velhos, geralmente a partir dos 14 anos, são encaminhados para cursos do jovem aprendiz e também são acompanhados de perto pelo projeto. “A evolução deles é muito nítida. A maioria sai preparada para encarar uma carreira profissional e com uma perspectiva de futuro diferente, positiva e otimista”, garante Scalco.

Além de todas as atividades, os curumins também aprendem a marchar, seguem a disciplina militar, estudam o civismo, símbolos e como ser patriota. “O que percebemos é que, pelo menos, 80% deles se espelham em nós. Muitos, inclusive, seguem carreira militar”, comenta o coordenador.

Engajamento comunitário
O presidente da Associação Amigos da Criança, Claudio Ivanez João Pegoraro, acompanha o projeto desde sua fundação. Aos 75 anos, 50 deles destinados à causa social, Pegoraro afirma que o projeto só está ativo há duas décadas graças ao engajamento da comunidade e de muitos voluntários. “São pessoas físicas que destinam verbas, outras que deduzem o Imposto de Renda, empresas que doam móveis, materiais e equipamentos, entidades que contribuem generosamente, enfim, uma série de auxílios que mantém o projeto vivo”, comenta, dizendo que entre as importantes doações estão computadores, geladeira, máquina de lavar roupa, móveis, cadeiras, alimentos, material escolar e até gasolina. “Ao participarem do projeto, as crianças e jovens ganham tudo: almoço, janta, uniforme, tênis, mochila, material escolar, enfim, toda a estrutura para aprenderem com ainda mais facilidade e qualidade”, conta Pegoraro.

Para o presidente da Associação, ver os resultados de tantos esforços para manter o projeto é motivo de orgulho. “Quando recebemos o reconhecimento da comunidade, familiares e dos próprios jovens que participaram do Curumim, dá ainda mais ânimo para trabalhar em prol da comunidade. Sinto-me realizado e feliz em poder ajudar”, emociona-se. 

Para melhorar ainda mais a qualidade do atendimento, Pegoraro admite que mais recursos financeiros seriam necessários. “Hoje a casa onde eles são atendidos tem uma boa estrutura. Mas existem duas salas desocupadas, porque não têm condições de uso. Seria necessário reformar forro, assoalho, melhorias elétricas, entre outras obras estruturais. Caso isso acontecesse, poderíamos separar os mais novos dos mais velhos, em atividades como as de reforço escolar, por exemplo”, explica ele, reiterando que, através das obras, seria possível, inclusive, aumentar o número de beneficiados.

“A gente aprende a ser um bom cidadão”

Com a certeza de que seguiria caminhos diferentes caso não tivesse participado do Pelotão Curumim, Lucas de Freitas (à direita na foto) enche-se de orgulho e de gratidão por ter vivido sua infância e adolescência no projeto. Aos 22 anos, ele é sócio-proprietário de um restaurante e atribui aos ensinamentos e valores aprendidos no pelotão o resultado feliz de suas escolhas. “Nós morávamos ao lado do 6°BCom e, certo dia, minha mãe foi pedir para deixar eu participar do projeto. Cresci sem a presença do meu pai e não tinha recursos para fazer cursos ou participar de escolinhas particulares. Fui aceito e fiquei lá dos 13 aos 17 anos”, relata Lucas. No último domingo, Lucas foi um dos convidados a participar do almoço festivo em comemoração aos 20 anos do projeto (foto acima) e teve a oportunidade de falar para os alunos que hoje integram o Pelotão. “Eu disse que eles devem aproveitar esta oportunidade, que é única. Como Curumim, aprendi a ter disciplina, a respeitar a hierarquia e, o principal, a ser um bom cidadão”, enfatizou.

O Pelotão Curumim
Fundado em 1996 por iniciativa do 6º BCom, da prefeitura de Bento Gonçalves, da Associação Amigos da Criança, do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente (Comdica), do Rotary e do Conselho Tutelar, o projeto tem o compromisso de receber crianças e adolescentes com idade entre 12 e 17 anos e em situação de risco social, proporcionando-lhes melhores condições de enfrentamento da realidade e afastando-os dos riscos inerentes à ociosidade das ruas. Até agora, mais de mil bento-gonçalvenses já passaram pelo projeto. Além de atividades como reforço escolar, assistência educacional, cursos e oficinas profissionalizantes, esporte e dança, os integrantes do projeto recebem, assim como seus familiares, atendimento psicológico. Os alunos também são beneficiados com almoço todos os dias, uniforme completo e transporte até o 6º BCom.