Petry fala sobre infraestrutura e eleições 2014

Prestes a definir se oficializa a candidatura a deputado estadual, a convite da senadora Ana Amélia Lemos (PP), o presidente da Associação das Entidades Representativas da Classe Empresarial da Serra Gaúcha (CICs Serra), Ademar Petry, ainda não fala como um político. A decisão de Petry pode se dar até o final de março, depois de ouvir a opinião dos integrantes do grupo regional e os conselhos de parentes e amigos próximos – até lá, entretanto, ele ainda se mantém focado nas brigas compradas nos últimos anos pela CICs Serra por melhorias em vários aspectos na infraestrutura serrana, especialmente com relação às condições precárias das estradas locais.

Na lista de esperanças para 2014, Petry tem como os tópicos mais otimistas a conclusão do processo de retomada da federalização da RSC-470 e a elaboração dos estudos técnicos para o prolongamento da BR-448 até Portão, o que ajudaria a desafogar o saturado tráfego na BR-116 e beneficiaria, inclusive, o escoamento da produção. Mas a luta pela redução das tarifas de energia elétrica para as empresas também deve pautar o ano, na tentativa de diminuir os custos de operação e aumentar a competitividade do polo industrial bento-gonçalvense e vizinhos.

A Cics Serra defenderá, ainda, a inclusão no projeto do trem regional a previsão de que, no futuro, o novo modal também contemple uma ligação ferroviária com Porto Alegre. Por mais que essa etapa se consolide somente a longo prazo, Petry entende que a oportunidade de incluí-la na proposta, para se ter alguma possibilidade de execução, seria agora. “Nem que seja para se fazer isso daqui a 20 anos, mas tem que constar hoje no projeto uma sequência para que ele vá à capital. É o grande objetivo que devemos ter neste momento. E trará uma contribuição para a região como um todo, porque nos daria um novo modal para o transporte de pessoas e cargas de pequeno peso, e isso reduziria muito o custo do transporte”, avalia. Confira a entrevista:

Jornal SERRANOSSA – A CICs Serra não nasceu exclusivamente para lutar por melhorias em estradas da região, mas esta bandeira praticamente permeou todas as principais ações da entidade até agora. Era uma trajetória esperada?

Ademar Petry – Uma de nossas grandes metas, que sempre se discutiu muito e foi o fato que constitui a CICs Serra, foi a questão da infraestrutura como um todo, as estradas, ferrovias, enfim, os vários modais de transporte, como também a questão da energia elétrica, pelo custo que hoje representa para nossas empresas, e isso bate direto no lucro que elas têm. Ou seja, faz com que a competitividade sofra bastante nesse sentido. E isso motivou o nosso trabalho. Já havíamos nos reunido informalmente em 2007 e 2008, tocando todas essas questões, mas dada a necessidade de ter um apelo oficial frente aos governos, a gente constituiu a entidade juridicamente, para ter personalidade e falar com direito. Nosso trabalho nasceu para trazer o desenvolvimento para a região, a diversificação das plantas empresariais, um “plus” na busca do crescimento de receita e emprego. Aí que a gente se deu conta que o maior gargalo que se tinha, e ainda se tem, era a questão estrutural. Poucas estradas e as poucas que se tem, mal conservadas. E vamos ao centro do país buscar matérias-primas, trazemos para a região, que é um polo industrial bastante forte, industrializamos e devolvemos para o centro do país ou para exportação. E as estradas têm trazido uma dificuldade no que diz respeito à lucratividade das empresas, e isso bate de frente com o desenvolvimento.

SERRANOSSA – E esse custo a mais não pode simplesmente ser jogado no preço do produto…

Petry – Então, aí temos um fenômeno que nós começamos a perceber, que é a desindustrialização. Como não se consegue absorver, jogar no custo, isso faz com que haja uma diminuição do potencial industrial do Estado como um todo. E a indústria vem crescendo menos do que os setores de comércio e serviços, por exemplo. Ela fica por volta de 1,1%, ao ano, enquanto o comércio fica em torno de 3% e os serviços bateram, no final do ano passado, a casa de quase 7%. Isso é uma característica clara da desindustrialização. Um Estado que necessita da diversificação dos segmentos para poder desenvolver e ter uma planta empresarial competitiva com o resto do país precisa, pelo menos, ter estradas em condições para fazer o transporte.

SERRANOSSA – Essa luta deve se manter como a principal daqui para frente?

Petry – Sem dúvida nenhuma, é uma das grandes campanhas que vamos manter na busca de soluções para esses problemas. Já estamos dando respostas à sociedade e não há como não se dar continuidade. Nesse governo, infelizmente, cremos que não há mais nada a se fazer, porque logo começa o pleito eleitoral, e a lei proíbe que sejam feitas novas licitações e se contrate a partir do mês de abril. Consequentemente, há uma dificuldade de se fazer com que o Estado ainda cumpra determinadas obrigações, como a duplicação da RSC-453, que nos liga a Farroupilha, e que hoje é uma grande carência. Ou a construção do novo trevo da Telasul, que era a proposta original, e depois o secretário veio aqui com a proposta de uma elevada, que nós defendemos desde o início. Só que não há prazo, nunca se diz quando começa e, menos ainda, quando vai ficar pronto.


SERRANOSSA
– Ao mesmo tempo em que não consegue agilizar ações como o Crema Serra e a reconstrução da ERS-431, o Estado assume um compromisso antes “inviável”, que é justamente instalação de um viaduto no Trevo da Telasul. Essas contradições são preocupantes e indicam o risco de apenas novas promessas vazias?

Petry – É o sentimento que nós temos, que o Estado não tem condições técnicas de implementar qualquer tipo de atividade em relação a essas obras mais importantes, como é a questão da ERS-431. Agora, uma empresa ganhou o contrato para as obras, mas, pelo que está sendo colocado, é em um único ponto, onde houve o deslizamento maior. E a pergunta então fica dentro da promessa que o secretário de Infraestrutura, João Victor Domingues, fez de que, com os R$ 35 milhões que teriam sido alocados para um trecho de mais de 12 quilômetros, haveria uma solução definitiva. Tem outros seis pontos que estão em condições de deslizamento e trajetos ainda sem asfalto. Queremos ver qual será a obra que a empresa vai realizar. É uma desorganização, por incapacidade técnica ou por condições políticas que não permitem que ele tenha recursos, mesmo quando o governador sempre disse que dinheiro não seria problema. São situações que nos levam a não crer em todas as propostas que nos são trazidas.

SERRANOSSA – Você acredita que a falta de retorno do Estado a solicitações da Cics Serra, mesmo no caso de simples pedidos de informações, tem sido uma estratégia para tentar desestabilizar as ações da entidade?

Petry – Eu diria que o governo do Estado usa de todos os artifícios para justificar a falta de planejamento e, dentre eles, um é justamente desconhecer os apelos mais veementes que as entidades de um modo geral vêm fazendo. E não é só a CICs Serra, é também a CIC de Caxias do Sul, e na região de Santa Rosa também é a mesma situação, no sentido de não dar retornos. Tentam desconsiderar a existência de um apelo regional quanto à necessidade de melhorias de infraestrutura. E é isso que nós temos presentes, até pelos contatos que fizemos, desde a direção do Daer, os secretários e o próprio governador, que por diversas vezes entregamos documentos na mão dele, mostrando imagens, números de acidentes, mortes, que infelizmente nossa região está acima da média do Estado inteiro. Não se faz críticas a pessoas, é ao sistema, à estrutura do Estado, que é problemática. Mas isso não é de agora, vem de mais de 20 anos. Só que a CICs Serra resolveu cobrar mais e, quando se exige tanta coisa, percebe-se como a fragilidade do Estado é muito grande. Quando passamos a tratar isso de forma regional, percebemos que as dificuldades afloraram mais, principalmente com relação ao diálogo. A CICs Serra nasceu em março de 2009 e, desses cinco anos, três são dentro do governo Tarso. Foi quando a gente conseguiu reunir as demandas mais importantes, mas a forma de nos tratar tem sido sempre a mesma.

SERRANOSSA – Como você recebeu o convite da senadora Ana Amélia Lemos (candidata do PP ao governo do Estado) para a disputa política como candidato a deputado? De que forma o pedido foi analisado até agora e quando pretende dar uma resposta?

Petry – Para mim foi uma honra e uma surpresa muito grande quando a senadora Ana Amélia Lemos veio a Bento Gonçalves e, de público, fez o convite. Nós já trabalhamos juntos, especialmente na questão da federalização da RSC-470, quando ela foi uma aliada importante em Brasília, principalmente nos ministérios, para que a gente pudesse vencer essas barreiras todas e para que a União pudesse absorver esse trajeto todo de 232 quilômetros. Tínhamos uma estreita ligação com ela, entretanto, era dentro dos projetos que a CICs Serra vinha trabalhando. No ano passado, ainda em setembro, ela pediu que eu me filiasse. Eu nunca fui filiado, até porque nunca me despertou essa ideia, eu trabalho nessas questões das entidades há mais de 20 anos. E assim, não me parcializo, mesmo que eu nunca tenha tido essa preocupação de olhar um partido A, uma ideologia B ou C. Caso eu venha futuramente concluir por me candidatar, não há dúvida que eu não mudaria meu perfil de atuação, mesmo que amanhã eu tivesse que cobrar de um eventual partido que fosse do governo. O que se faz hoje nas entidades de classe se faria dentro de um viés político. É isso que eu vejo. E, naquela ocasião, eu me filiei. Mas, por ora, não existe nenhuma definição, porque eu tenho um compromisso bastante importante com a CICs Serra e meu período como presidente vai até março de 2015. Eu preciso levar isso aos meus presidentes da CICs Serra, que são 11. Nós temos agora, dia 21, uma reunião em que vou expor o convite e discutir com eles a importância de se posicionar com relação a isso, pelo sim ou pelo não. Depende da família também e de um grupo de pessoas que acredita na gente, amizades que ao longo destes anos todos me auxiliaram no CIC, na Fervi, em Garibaldi, onde eu participei da Comissão dos Direitos da Criança e da Comissão de Saúde. Enfim, é um grupo de pessoas que eu preciso ouvir, mas o primeiro passo vai ser dentro da Cics Serra. E é o que deve ter mais peso, pelo compromisso que tenho. Não posso simplesmente dizer ‘obrigado e estou indo embora’.

SERRANOSSA – Depois da definição do aeroporto regional em Vila Oliva, em 2011, de que forma a CICs Serra acompanhou o andamento do projeto, que avançou a passos lentos até agora?

Petry – Sempre dissemos que, quando fosse definido o local, nós apoiaríamos. Hoje, a CICs Serra faz parte de um comitê de trabalho para a construção do aeroporto em Vila Oliva. Então, estamos cumprindo com o que prometemos com relação à unidade da Serra Gaúcha. Entretanto, houve uma mudança na classificação desse aeroporto, que transformou ele em um de porte regional, para atender às demandas regionais. Não é mais dentro da expectativa de que seria um aeroporto internacional, que permitiria o transporte de cargas e passageiros para todos os cantos do planeta. Nesse sentido, hoje há uma dificuldade com relação a esse projeto na área técnica do Estado e da União, porque ainda não foi definido claramente o tipo de aeroporto que vai ser implantado na Serra Gaúcha. Com certeza, não será de porte internacional. Isso, e pelo menos nós acreditamos nessa informação, em função do aeroporto que será construído em Portão, o 20 de setembro. Mas um não exclui o outro, porque nós precisamos de uma atividade de transporte aéreo que atenda às demandas internas a São Paulo, Brasília, Minas Gerais. Mas também existe outra demanda, que é a do Mercosul, internacional. E esse aeroporto de Portão vem por atender essas questões, será uma referência. Até porque com a continuidade da BR-448, a Rodovia do Parque, o trecho que vem até Portão estará pronto e encurtará mais o caminho de quem vai daqui para lá. Temos que trabalhar agora dentro de uma visão estratégica para que o de Vila Oliva saia do papel dentro de uma realidade regional e o de Portão atenda às demandas de longo curso.

SERRANOSSA – A extensão da BR-448, a Rodovia do Parque, até Portão, que seria uma alternativa à BR-116, é uma obra que pode ser esperada para logo? De que forma ela poderia beneficiar a região da Serra Gaúcha?

Petry – Tenho certeza que essa foi uma das grandes metas em que conseguimos avançar em 2012 e, em 2013, se definiu de forma plena. Em março do ano passado, quando a presidente fez as inspeções, ela anunciou R$ 350 milhões para esse prolongamento, entre a parte média da Rodovia do Parque até o município de Portão, e depois a sequência até a BR-116. O que ocorre hoje é que 2014 vai ser o ano de fazer todos os levantamentos, técnicos, ambientais, financeiros. Para 2015, a ideia é abrir o processo licitatório, no início do ano, de maneira que, na metade do ano, tenhamos a probabilidade de as obras começarem nesses 17 quilômetros. O prazo do Dnit é de dois anos, então, entre julho e o final de 2017, é para estar pronto. Para nós, retira totalmente o fluxo de pessoas e cargas de dentro da 116, nós vamos em direção à fronteira, ao Sul do Estado, ao porto de Rio Grande. Isso é uma economia de percurso, com uma redução substancial no custo dos transportes.

SERRANOSSA – Pode-se esperar ainda para 2014 a conclusão do processo de retomada da federalização da RSC-470? Que mudanças viriam a curto e médio prazo no que se refere a melhorias da rodovia?

Petry – Nós estamos na dependência do inventário da rodovia como um todo, para finalizar o processo de federalização junto ao Dnit. Está justamente faltando o trecho em que há o projeto do Crema Serra. Estamos esperando que o Estado finalize esse processo para a gente terminar o trabalho começado há três anos, e que é uma saída definitiva para a RSC-470. O calendário determinado pelo Dnit, segundo nos consta, é que neste ano tem que estar pronto o inventário e encaminhada a determinação para que o decreto de federalização seja publicado. Tudo para que, em 2015, seja feita a inclusão no orçamento da União para fazer as manutenções necessárias, pelo menos um reparo mais adequado, e não o que está sendo feito. O passo seguinte é trabalharmos para que ela seja inserida no Plano Nacional Viário e buscar na União verbas alocadas para essa finalidade. Em 2012, quando o presidente da Comissão Mista de Orçamento era o Paulo Pimenta (PT-RS), ele colocou uma rubrica que prevê verbas de manutenção e investimento para a BR-470, nesse trecho que começa em Camaquã e vai até André da Rocha. Quanto ao Crema Serra, pelo que foi dito ainda pelo então secretário Beto Albuquerque, havia um convênio com a União que não traria nenhum tipo de problema, porque depois haveria uma espécie de compensação pela obra que será feita. É dentro dessa informação que trabalhamos, e esperamos que realmente não haja problema nesse sentido.

SERRANOSSA – É um ano em que também se pode esperar alguma novidade quanto ao Trem Regional da Serra Gaúcha? 

Petry – Nós entendemos que é um projeto muito importante para a Serra como um todo, mas não pode se limitar a esse percurso entre Bento e Caxias. Nem que seja para se fazer isso daqui a 20 anos, mas tem que constar hoje no projeto uma sequência para que ele vá à capital. É o grande objetivo que devemos ter neste momento. E trará uma contribuição para a região como um todo, porque nos daria um novo modal para o transporte de pessoas e cargas de pequeno peso, e isso reduziria muito o custo do transporte. Essa será uma de nossas grandes demandas nesse ano. Mas esse projeto inicial é muito importante, só que também é preciso que a Serra esteja integrada e não só na questão de unir lideranças econômicas. Tem que haver uma participação das lideranças políticas, a começar pelo governo do Estado e pela bancada gaúcha em Brasília. A questão toda é a execução, porque exige um novo tratado, com desapropriações, porque esse que existe praticamente não serve para essa finalidade. Aí que a situação fica mais complicada. Uma parceria público-privada depende do potencial de lucro que uma empresa pode ter nesse projeto. Se ela não enxergar essa possibilidade, não vai fazer esse aporte de recursos. Fora isso, ou é feito com recursos públicos ou é algo que ficará sendo discutido na eternidade. Acredito que ainda teremos muitas mudanças nesse projeto, até porque tem que se agregar aí esse elo com Porto Alegre, que a longo prazo será um ganho. Se isso não constar hoje nessa proposta, depois vai ficar difícil.

SERRANOSSA – Além disso, quais seriam as outras demandas da CICs Serra para o ano?

Petry – Uma delas, com certeza, é a construção da Ferrovia Norte-Sul, que hoje está em Panorama, São Paulo, e o projeto dela ainda tem que ser definido para vir até Rio Grande. E nós já participamos de alguns encontros dessa natureza. Existem três estudos, um passando pela fronteira, um pela região aqui do Vale do Taquari e outro pela região litorânea. Evidente que estamos trabalhando para que seja uma região mediana e traga uma contribuição para o Estado todo. Se passar lá pela região dos grãos, por exemplo, é sazonal. Imagina o trecho que teríamos que fazer de um ramal até lá. Outra demanda seria a questão da tarifa de energia elétrica para as empresas, porque das três que temos no Estado, a RGE é a que mais cobra. É um trabalho que está se fazendo junto à Aneel, tem uma ação civil na Justiça Federal tratando desse assunto e há uma mobilização bastante grande das empresas que mais consomem energia, que é a situação das indústrias do plástico, por exemplo. Claro, ainda está no início, temos que trabalhar muito. Outro ponto, e há muito tempo foi feito um estudo por um acadêmico de Caxias do Sul sobre isso, vamos discutir a possibilidade de se reativar o modal hidroviário aqui em Estrela. Ou seja, fazer com que o rio Taquari possa ser mais um meio de transporte. E, por fim, também temos outra frente de atuação, que é buscar dentro do polo naval de Rio Grande oportunidades de instalação de empresas de alta tecnologia aqui na região. Elas se instalariam aqui para atender a demanda da construção de plataformas por lá. A gente pensa grande nesse sentido.

Reportagem: Jorge Bronzato Jr.


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