Prefeito e vice eleitos falam sobre suas ideias e projetos para Bento Gonçalves

Após mais de três horas de atraso no resultado das eleições, Bento Gonçalves conheceu, por volta das 22h de domingo, 15/11, quem será o novo prefeito do município. Diogo Siqueira (PSDB) venceu os outros oito concorrentes ao pleito com 19.105 votos (30,54%).  Ele governará a Capital Brasileira do Vinho ao lado do vice-prefeito Amarildo Lucatelli (PP). 

O novo prefeito de Bento é cirurgião-dentista pela UFRGS e entrou na política como prefeito de Santa Tereza, conquistando a reeleição. Em 2017, foi convidado pelo prefeito Guilherme Pasin para ser secretário de Saúde de Bento Gonçalves. 

Já Amarildo Lucatelli foi vereador e secretário de Viação e Obras Públicas, também na gestão de Guilherme Pasin. Também atuou como subprefeito de Tuiuty, vice-presidente do Clube Esportivo de Bento Gonçalves e secretário-adjunto de Governo e de Meio Ambiente.

O SERRANOSSA entrevistou o prefeito e o vice eleitos para conhecer os principais projetos e medidas que deverão ser implantadas durante gestão:


 

SERRANOSSA: Qual será a primeira medida adotada assim que assumirem a prefeitura? 

Diogo: nós temos que fazer nosso município crescer cada vez mais. Nossa primeira ação será manter as prioridades. Bento Gonçalves é uma cidade que tem um Índice de Desenvolvimento Humano muito forte, temos uma saúde e uma educação de excelência, um crescimento na segurança pública, empresas e muito trabalho. Sempre temos que estar baseados nisso: como vamos manter esse crescimento e quais os passos que temos que fazer para tornar Bento referência em todo o Brasil. 

SN: A gente viu, em toda a região, mulheres sendo eleitas nos legislativos municipais. Garibaldi elegeu quatro e Carlos Barbosa, três. Bento Gonçalves não elegeu nenhuma mulher. Vocês pretendem colocar mulheres para coordenar as pastas municipais e aumentar a representatividade delas em Bento?

Diogo: lamentamos que nenhuma mulher tenha conseguido chegar às cadeiras Legislativas. A gente tem que criar vagas dentro da prefeitura para as mulheres, obviamente tem que ter o perfil técnico e competente. A gente vê como importante também a questão dos haitianos. Temos que ampliar mais as vagas para integrar as pessoas na sociedade. Nós tivemos uma menina, a Letícia Bonassina, que fez uma votação fantástica. Foi uma das mulheres mais votadas em Bento e ela é jovem. Bento Gonçalves aceita muito bem novas lideranças, consegue entender que não é uma questão de sobrenome ou poder aquisitivo da pessoa, é uma questão de trabalho.

SN: O resultado das urnas evidenciou que a população quer mudanças, tendo em vista a grande quantidade de votos feitos pelos demais candidatos e, até mesmo, pelos votos nulos e brancos. Vocês falam muito em continuidade, mas, de fato, o que será feito diferente do governo Pasin?

Diogo: a eleição foi dividida. Tínhamos nove candidatos e obviamente iria haver uma divisão de votos. Eram candidatos fortes. A gente tem muito orgulho de fazer parte desse governo, temos limitações como todos os outros, mas muito foi avançado nesses últimos oito anos. Uma grande continuidade é o trabalho correto, temos uma prefeitura que não tem dívidas, não tem atraso de salários, conseguimos fazer obras, temos medicamento, conseguimos fazer cirurgias, temos uma merenda de qualidade para todos os alunos. O que temos que fazer de mudança é cada vez mais trabalhar com mais tecnologia, agilizar os trabalhos, desburocratizar. Temos que nos reinventar.

SN: Na questão da infraestrutura, muito se reclamou em relação ao descaso com o interior de Bento. Como vocês pretendem resolver esse problema nos próximos quatro anos e atender a demanda dos agricultores?

Amarildo: Nos 45 dias de campanha a gente andou muito por toda a cidade, mas principalmente pelo interior. Os moradores pedem muito uma atenção especial ao interior. Eu nasci em Tuiuty, sou filho de agricultor, passei uma boa parte trabalhando lá com o meu pai. Então a gente vai trabalhar muito, cuidar muito dessa parte da agricultura, de obras e essa questão do turismo, que é muito forte em nossos distritos. O agricultor não depende do turismo, mas o turismo depende muito do agricultor. Então vamos dar uma atenção muito especial ao interior e investir muito, principalmente melhorando a questão das estradas. Até para que eles trabalhem com mais entusiasmo, principalmente os jovens. Eu vou fazer um trabalho muito forte, vou ser um vice que estará muito ligado às secretarias de Agricultura e Obras. Vou estar nas ruas todos os dias. Quem me conhece sabe que não gosto de gabinete.  

SN: O governo Guilherme Pasin sempre levantou muito a bandeira das Parcerias Público- Privadas (PPPs), com o projeto da Usina de Resíduos Sólidos e com a PPP da Iluminação Pública, mas nenhuma propriamente saiu do papel até o momento. Vocês continuarão investindo nesse tipo de parceria e darão uma atenção a esses projetos iniciados no governo atual?

Diogo: essa é uma nova forma de gestão. As PPPs da iluminação pública e dos resíduos sólidos pararam muito no Tribunal de Contas. Hoje no Rio Grande do Sul não temos nenhuma PPP, então é um estado que não aceita muito bem essas parcerias. Mas eu vejo que a gente tem que manter, avançar, quebrar esse paradigma e voltar com essas parcerias. Temos que avançar com o sistema misto, onde não haja apenas a dependência de um setor. Na saúde a gente conseguiu evoluir para um sistema mais inteligente da terceirização. Fizemos o credenciamento de médicos para que os pacientes não fossem atendidos dentro da estrutura física do município, mas dentro das clínicas particulares dos médicos. Isso acabou agilizando as filas, aumentou a quantidade e a qualidade dos atendimentos. Então, com esses exemplos que tivemos, percebemos que a gente pode avançar muito com essas parcerias em outros setores também.

Amarildo: A gente fez muita parceria em ruas, pavimentações, e deu certo. Os moradores nos procuram, querem participar, assim não dependem totalmente do recurso do Poder Público. As concessões de espaços públicos também têm uma procura muito grande. E quanto mais diminuir a despesa do município, mais você consegue investir em outras áreas, como saúde, educação e segurança.


 

SN: Como vocês pretendem dar continuidade ao trabalho de prevenção ao Coronavírus? Como vocês atuarão diante de uma possível segunda onda? E quanto às cirurgias eletivas, como vocês normalizarão o fluxo?

Diogo: Hoje nós estamos em um patamar muito mais estável da pandemia. No início a gente não sabia como o vírus se comportava. Hoje não estamos livres de uma nova pandemia, de uma nova doença… a pandemia foi uma lástima, mas ela nos levou a grandes avanços em questão de atendimento, separando o cidadão contaminado, tendo um controle maior, agilizando os atendimentos e testando os cidadãos. Em relação às cirurgias, não foi somente em Bento que elas foram paralisadas. Agora precisamos avançar de uma maneira organizada, para voltarmos à média que tínhamos antes. A gente tinha uma intenção neste ano de aumentar o número de cirurgias eletivas, ampliando no Tacchini e em Barbosa, utilizando a estrutura do hospital de lá para fazer mais cirurgias. E claro que precisamos de mais uma estrutura ainda que será nosso hospital público. Então a gente vai conseguir suprir a demanda com essas três estruturas, as quais eu vejo, a médio prazo, funcionando tranquilamente. 

SN: As vagas em creches seguem sendo uma demanda frequente na cidade. Como vocês pretendem resolver definitivamente esse problema? E quanto às escolas cívico-militares?

Diogo: a gente tem, mais ou menos, 1.500 cidadãos vindos a Bento todos os anos, então sabemos que terá uma demanda cada vez maior de educação, mais vagas de creche e mais vagas de turno de escola normal, o grande problema é que essa migração é difusa no município, nos diferentes bairros, então a gente precisa criar mais vagas. Para isso, existe a forma tradicional, que é construindo mais escolas, o que demora muito. Mas também temos o sistema misto, por meio da ampliação da compra de vagas. Também a questão do modelo de escola público/privada, que também é uma medida legal. Então a forma de contratação, se é terceirizando o serviço ou fazendo um contrato de gestão, isso depende. O que a gente precisa mesmo é aumentar vagas.  Temos duas escolas cívico-militares cadastradas. Essa é uma política nacional e vem como incentivo para mantermos esse tipo de estrutura. Eu, particularmente, quando estive na saúde e na prefeitura de Santa Tereza, gostava muito de entrar nos programas nacionais, porque tu consegue ter um incentivo muito grande e entregar um serviço melhor para a sociedade. 

SN: Sabemos que hoje Bento tem inúmeras modalidades esportivas. No entanto, muitos reclamam do abandono da municipalidade nesta questão. Como vocês pretendem valorizar o esporte local, atendendo o maior número de atletas profissionais e amadores?

Amarildo: realmente Bento tem várias modalidades. Nessa campanha, a gente conversou com muitas pessoas ligadas ao esporte, desde escolinhas nos bairros ate voluntários que trabalham com crianças e, realmente, eles têm dificuldades para continuar as atividades. Então vamos criar um Fundo Municipal de Esportes para que possamos captar mais recursos e investir mais, também na questão dos campeonatos, do futebol de salão, amador e de campo, das bochas… todas as modalidades. Dentro da secretaria de Esporte terá um setor que cuidará disso, para que o município consiga participar nesses campeonatos. O esporte é vida e saúde e precisamos tirar as crianças das ruas. 

Diogo: A gente tem o Bolsa Atleta e várias modalidades que estão dando certo, como o Bento Vôlei, o Esportivo na primeira divisão, a parte profissional e amadora funcionando muito bem. Já temos um incentivo e o que a gente quer fazer é algo parecido com a cultura, ter nosso fundo, que consiga fazer com conselho deliberativo para fazer a distribuição de recursos para algumas áreas. Já tivemos o trabalho forte do Eduardo Virissimo e a secretaria de Esportes já avançou bastante. Vamos fazer um trabalho muito mais forte para o nosso esporte de Bento Gonçalves.

SN: A Causa Animal foi defendida por muitos candidatos durante suas campanhas. Em suas propostas, está prevista a construção de um Centro de Saúde Animal, a qual contemplaria resgate, tratamento, castração e encaminhamento à adoção. Como de fato vocês vão contribuir com a causa?

Diogo: a causa animal é muito complexa, não é apenas uma secretaria, tem a parte do meio ambiente, da saúde, com o controle das doenças, a parte da educação para as crianças para que tenham uma consciência da causa animal, então é algo que exige vários braços para funcionar efetivamente. Eu acho que já temos um avanço muito grande. Temos um sistema de castração no qual são investidos R$ 100 mil reais por ano mais ou menos, sempre priorizando animais de ruas e de famílias em vulnerabilidade social. Mas lógico que a gente precisa mais. Então, tendo um setor especializado nisso, no qual o foco seja prioridade para os animais, acabamos tendo uma prioridade de gestão. O problema maior é quando tem um setor dividido nas secretarias. Dependendo do fundo orçamentário, tu acaba deixando de lado algum setor. Na saúde, tu vai priorizar a urgência e emergência de uma UPA, por exemplo. Por isso que temos que ter um setor priorizando a causa animal. 

SN: O Pasin foi o principal nome da campanha da coligação “Gente que Faz Bento”. Vocês pretendem contar com o apoio dele no governo e de que forma?

Diogo: O [Guilherme] Pasin e o Aido [Bertuol] são dois professores que tivemos a honra de termos como padrinhos políticos. Tenho certeza que qualquer candidato gostaria de ter eles ao lado de suas campanhas. O Pasin fez muito por Bento Gonçalves. Nesses oito anos, Bento se tornou referência, muito pelo trabalho que foi feito. É um amigo nosso e temos certeza que ainda vai ser um grande deputado, governador ou senador. Ele tem uma visão muito bonita do que é a sociedade e consegue entender o que é prioridade.

Amarildo: Em todos os momentos de nossa campanha nós defendemos o governo. Sempre deixamos claro que éramos os candidatos do governo. A gente deve muito a eles, até porque também fizemos parte desse governo. Nenhuma pessoa ligada ao prefeito se envolveu com corrupção. Fizemos um trabalho sério, transparente e foi isso que nos levou à vitória. A população entendeu que é um governo de pessoas boas.

SN: Para encerrar, deixem suas considerações finais e uma mensagem à comunidade.

Diogo: Nós estamos prontos para governar para toda a cidade. Bento é um polo regional e vai crescer cada vez mais. A gente precisa dessa sensibilidade para fazer ela crescer de maneira organizada. Isso vai ser o grande desafio, mas nós estamos preparados para fazer de Bento uma referência nacional, não somente de móveis, de turismo, de vinho e suco da uva. A gente pode ser referência em tecnologia, em metalurgia… Tem muita gente boa e trabalhadora em Bento. Só temos que agradecer a toda população e retribuir com muito trabalho.

Amarildo: Hoje não tem mais partido, não tem somente os 19.105 votos. Hoje temos uma população inteira para atender e para governar, junto com a Câmara de Vereadores. Quero parabenizar a todos eles [parlamentares]. Vamos sim ter essa parceria e aproximação junto com o Legislativo, porque eles também fazem parte desse governo. Ao mesmo tempo, precisamos do apoio da população que, com certeza, vai estar ao nosso lado para ajudar a governar esse município que eu amo de paixão. Eu quero ver as pessoas se sentindo bem, felizes, em um local agradável não somente para trabalhar, mas para morar e viver. Nós vamos fazer muito por Bento Gonçalves.

*Na matéria impressa do SERRANOSSA desta sexta-feira, 20/11, o jornal citou a vereadora suplente Letícia Bonassina (REPUBLICANOS – 554 votos) como a candidata mais votada em Bento Gonçalves. Na verdade, a candidata mais votada foi Beatriz Lima (PT), com 582 votos, que não foi eleita.

Fotos: Raquel Konrad