Prefeitura prepara nova área para indígenas

Tradicionais visitantes de final de ano, os indígenas que desembarcam em Bento Gonçalves principalmente a fim de vender seus artesanatos, poderão ter um novo local para se instalar nas próximas semanas. Com o objetivo de oferecer condições mais seguras e adequadas de alojamento, a prefeitura está preparando um terreno em uma área localizada entre o bairro São Roque e o trevo que dá acesso à linha Eulália, no lado norte da cidade – normalmente, eles acampavam nas proximidades da Pipa Pórtico, às margens da RSC-470, em zona de intenso fluxo de veículos. 

O assunto vinha sendo conduzido de forma discreta, mas, em um grupo criado no Facebook para discutir problemas estruturais do município, o tema ganhou bastante repercussão, inicialmente pelo corte de árvores que está sendo promovido no local, e teve até intervenções do procurador-geral do município, Sidgrei Spassini, nos comentários. De acordo com ele, o Poder Público está seguindo um acordo estabelecido entre o governo, o Ministério Público Federal (MPF) e representantes indígenas.

Segundo a secretária de Habitação e Assistência Social, Rosali Faccio Fornazier, pelo menos 20 índios devem chegar a Bento em novembro. Na manhã da última terça-feira, 19, uma retroescavadeira da prefeitura realizava a limpeza do lote em que eles devem ser alojados. A poucos metros do local, desemboca uma tubulação de esgoto.

A administração ainda estudará a possibilidade de sinalizar a área como de acampamento indígena, já que no período de Páscoa também é registrada a vinda dos grupos, e ajardiná-la, o que dependerá de uma nova conversa entre as partes. No antigo espaço em que ficavam, no acesso principal, barreiras de pedras tentarão impedir que os índios se instalem no local.

 
Pedidos

Rosali afirma que o terreno escolhido, que é da prefeitura, foi visitado por representantes indígenas, que apresentaram apenas dois pedidos: a abertura de uma clareira no trecho e a disponibilização de água durante a permanência deles. Um reservatório será instalado e a secretaria de Obras será responsável por mantê-lo abastecido. “Eles aprovaram o lugar, ficou definido mais por eles do que por nós. Nem iluminação nos pediram”, destaca.

Mas, um dos pontos que ainda preocupam o Poder Público é a presença de crianças indígenas pedindo esmolas em praças e semáforos da zona urbana, situação constante em outras passagens do grupo pela cidade. “É um caso a ser bastante discutido entre o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente(Comdica) e o Conselho Tutelar sobre que medida pode ser tomada. Elas não podem ficar assim. Temos que fazer alguma coisa, mas sem causar rebeldia ou algum dano emocional”, conclui Rosali. Uma das ações poderia ser a tentativa de negociação para que os pequenos permanecessem no acampamento quando os pais saíssem.

A possibilidade de definição de um local para instalação dos indígenas durante a sua passagem pela cidade foi, inclusive, assunto de uma reportagem do SERRANOSSA há quase dois anos, em janeiro de 2012. Na época, o então secretário de Habitação e Assistência Social, Roberto Locatelli, afirmou que o principal objetivo da medida era “encontrar uma forma de realizar uma acolhida com mais dignidade”, mas não detalhou – segundo ele, a pedido do próprio MPF – os procedimentos que seriam adotados pela administração municipal.

A reportagem tentou contato com representantes dos indígenas, mas eles não foram localizados. O procurador federal Alexandre Schneider, que conduz um inquérito sobre o assunto, também não foi encontrado.

Reportagem: Jorge Bronzato Jr.


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