Preocupar-se ou confiar?
Preocupação e despreocupação. O filósofo Martin Heidegger diz que o homem é essencialmente um ser que se preocupa. A existência é preocupação. Ser, no mundo, significa preocupar-se consigo, com a existência, preocupar-se consigo e com o cuidado de si e dos outros. A preocupação, por isso, inquieta o homem e não o deixa descansar em lugar algum. Esse filósofo conta uma parábola, uma fábula romana, sobre a preocupação: certa vez, atravessando um rio, a preocupação viu um pedaço de terra argilosa: cogitando, tomou um pedaço e começou a lhe dar forma. Enquanto refletia sobre o que criara, interveio Júpiter. A preocupação pediu-lhe que desse espírito à forma de argila, o que ele fez de bom grado. Como ela quis então dar seu nome ao que tinha dado forma, Júpiter a proibiu e exigiu que fosse dado o nome dele. Enquanto preocupação e Júpiter disputavam sobre o nome, surgiu também a Terra querendo dar o seu nome, uma vez que havia fornecido um pedaço de seu corpo. Os disputantes tomaram Saturno como árbitro. Saturno pronunciou a seguinte decisão, aparentemente equitativa: Tu, Júpiter, por teres dado o espírito, deves receber na morte o espírito e tu, Terra, por teres dado o corpo, deves receber o corpo. Como, porém, foi a preocupação quem primeiro o formou, ele deve pertencer à preocupação enquanto viver. Como, no entanto, sobre o nome há disputa, ele deve se chamar homo, pois foi feito de humus, da terra.
Essa pequena fábula mostra que o homem é, portanto, essencialmente, alguém que se preocupa. Toda sua existência é determinada pela preocupação consigo mesmo. Enquanto viver pertencerá à preocupação, somente na morte a preocupação cessa de dominá-lo. Então, pertencerá a Júpiter ou a terra como diz a fábula. Com essa fábula os romanos exprimiam que tudo o que fazemos traz a marca da preocupação. A preocupação nos impele a trabalhar, a ganhar a subsistência, garantir o futuro, aumentar as posses, para finalmente podermos viver com tranquilidade e segurança.
Jesus, contudo, entende o ser humano de outra maneira. Ele diz que o ser humano não é primeiramente alguém que se preocupa, mas que confia, que se sabe confiantemente levado a Deus, que dele cuida. No sermão da montanha Jesus fala aos discípulos para não se preocuparem: “não vos preocupeis por vossa vida, com o que comer, nem por vosso corpo, com o que vestir, e quem dentre vós pode à força de preocupar-se, prolongar por pouco que seja sua existência?”
Portanto, aqui, temos duas ideias. Uma da filosofia, que diz que o ser humano se preocupa. E uma de Jesus, que diz o ser humano é uma pessoa que pode confiar. Confiar-se a Deus, confiar-se ao transcendente, ao amor. Por isso, nós escolhemos o que fazer. Se queremos viver continuamente preocupados ou se queremos confiar mais e deixar a vida fluir de forma serena e natural. Pensemos nisso!