Prisão de caçador de javali gera manifestações e greve na região

A prisão de um controlador de javali de Caxias do Sul tem levado a uma série de manifestações na Serra Gaúcha, tanto presenciais quanto on-line. O homem foi preso no dia 3 de outubro, após retornar de uma fazenda onde realizava o chamado “abate controlado de espécie exótica invasora (Javali)”. De acordo com o comandante do Pelotão Ambiental de Caxias do Sul, 1º tenente Clodoaldo Santin Dill, a prisão aconteceu porque uma das quatro armas que o caçador transportava não estava devidamente legalizada. Além disso, “ele conduzia 10 cães de porte médio e grande, todos juntos no mesmo espaço, sem divisórias (carroceria de uma caminhonete), sendo que essa carroceria foi transformada em um local tipo ‘jaula’, sem proteção a intempéries”, afirma. O comandante complementa que, conforme a 2ª Companhia Ambiental da Brigada Militar de Caxias do Sul – que realizou a abordagem – todas as carteiras de vacinação e os atestados de saúde dos cães estavam vencidos. “Alguns cães estavam com uma corda fina no pescoço, amarrados às grades da ‘jaula’. Então foi considerado crime de maus-tratos”, complementa.

Entretanto, o controlador rebate as acusações, afirmando que todas as suas armas são legalizadas e que ele foi preso pelo fato de uma delas estar municiada no momento da abordagem. “Mas conforme o Exército, hoje nós podemos portar uma arma pequena municiada, para cuidar do nosso arsenal em deslocamento, tanto para ir até a fazenda, quanto para voltar,”, comenta. “Em relação aos cães, se tivesse mesmo maus-tratos, eles teriam que ser recolhidos. Não poderiam ficar comigo, mas eles foram liberados. E os cães precisam estar saudáveis para conseguir auxiliar na caça”, continua o homem, que não quis ser identificado. 

Há 10 anos praticando o abate de javalis, o homem é uma figura conhecida entre controladores da região e até mesmo de outros Estados, como Santa Catarina e Paraná. O episódio, conforme o próprio controlador, causou receio em outros praticantes do abate controlado. “Gastamos muito para ter tudo regularizado, cadastro com IBAMA, com o Exército, carteirinhas e laudo médico dos cachorros e permissão da fazenda para a prática. Nosso controle é voluntário, não temos auxílio nenhum. Então as manifestações buscam flexibilizar a prática e solicitar uma cobrança correta, uma padronização. Não falar uma coisa e depois outro policial chegar e falar outra. Queremos que a lei seja mais ampla”, comenta. 

Até o momento, já foram realizadas mobilizações presenciais em Vacaria, Flores da Cunha e Farroupilha. A manifestação intitulada “euparoocontrole” também está sendo compartilhada via redes sociais. “Nosso manifesto é pacífico. Todo nosso grupo de Caxias está parado, sem caçar”, informa. 


Foto: Divulgação

Entenda melhor

O abate controlado de javalis é liberado em todo o país, mediante requisitos, normativas e legislações específicas. De acordo com o Pelotão Ambiental de Caxias do Sul, cada controlador deve portar as seguintes autorizações, expedidas pelo Exército Brasileiro, pelo Ibama e por um médico veterinário: Certificado de Registro (CR); Certificado de Registro de Arma de Fogo (CRAF); Guia de Tráfego Especial (GTE); Certificado de Regularidade (CR); Autorização de Manejo de Javali; Documento com foto; Carteira de vacinação de cada cão devidamente atualizada; e Atestado de saúde de cada cão com data de validade.

As pessoas que se consideram controladoras veem a prática como um esporte. “A gente vai bastante para a fronteira, onde os fazendeiros reclamam muito. Esses animais estragam lavouras, atacam cordeiros… principalmente em locais onde há mais plantação”, explica o controlador.  De acordo com o Pelotão Ambiental de Caxias do Sul, os javalis são considerados uma das espécies exóticas invasoras mais prejudiciais ao meio ambiente e à economia, por isso o abate é liberado. 
“Nós somos pessoas do bem, até porque, para se ter uma arma, é preciso ser uma pessoa totalmente limpa. Só queremos apenas poder continuar a prática sem perseguição”, conclui.