Procuram-se quitinetes em Bento

Quem já procurou quitinete em Bento Gonçalves sabe o quão difícil pode ser encontrar um imóvel deste tipo, seja para compra ou locação. Este tipo de moradia, na qual dormitório e sala são integrados, é bastante requisitada por estudantes e pessoas solteiras por, geralmente, ter o preço mais acessível em relação a outros apartamentos. A oferta, hoje escassa, pode aumentar caso se confirme a vinda da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) para Bento Gonçalves. Muitas construtoras locais têm optado por aguardar para construir e se dispõem a mudar projetos, transformando moradias de dois dormitórios em quitinetes para atender a nova demanda criada. Pelo menos é o que garante o prefeito Roberto Lunelli, utilizando este argumento como forma de justificar que a cidade é capaz de se adaptar para receber a extensão da Universidade e as conseqüentes demandas da instalação.

O presidente da Associação das Empresas de Construção Civil da Região dos Vinhedos (Ascon Vinhedos), Irani Raymondi, reconhece a pouca oferta. “Bento Gonçalves não tinha a cultura de construir quitinetes. Sempre trabalhamos com o conceito de família”, conta. Segundo ele, com o passar dos anos as construtoras passaram a pensar em públicos diferentes, mas a oferta ainda é baixa se comparada, por exemplo, a Porto Alegre e São Leopoldo. Raymondi comenta que, internamente, associados chegaram a discutir a possibilidade de investir neste tipo de imóvel, porém até agora nenhuma proposta oficial chegou a tomar forma. 

O Censo Imobiliário 2011, preparado pela entidade, apresentado oficialmente na tarde da última quinta-feira, revelou que no último ano foram construídas 36 quitinetes, sendo que 16 ainda estão à venda. Para fins comparativos, no mesmo período foram construídos 608 apartamentos de um dormitório, sendo que 198 ainda não foram comercializados. Além destes, existem ainda 53 apartamentos na planta. A diferença entre um apartamento de um dormitório e uma quitinete é que o apartamento tem a divisão das peças, enquanto que no quitinete quarto e sala são um único ambiente. Quitinetes são geralmente procurados para locação, para quem deseja algo temporário, como, por exemplo, troca de cidade para estudos ou trabalho. São casos em que ou não é vantajoso adquirir um imóvel novo ou que a pessoa não dispõe de dinheiro suficiente para o investimento.

O município carece de estatísticas que apontem o real número de quitinetes existentes. De acordo com o diretor do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (Ipurb), Cláudio Marcelo Germiniani, o órgão não possui estimativas de quantas quitinetes existem em Bento Gonçalves devido às informações priorizadas nas aprovações de projetos prediais. “Priorizamos o número de pavimentos, a quantidade de unidades residenciais e a quantidade de vagas de estacionamento, não necessariamente o número de dormitórios”, observa. Até o final do ano deve ser alterado o programa do protocolo, incluindo dados para maior controle de informações. 

Preços abusivos

Para quem deseja adquirir um imóvel pagando pouco, o Programa Minha Casa, Minha Vida é uma boa alternativa. Entretanto para quem busca locação, a situação é mais complicada. O problema não é apenas a escassez da oferta, mas o valor abusivo cobrado. Em uma pesquisa informal realizada pelo SERRANOSSA entre as imobiliárias, o valor médio das poucas quitinetes disponíveis para locação gira em torno de R$ 450 reais, sem incluir o condomínio.  No caso de apartamentos de um dormitório, o valor varia conforme a imobiliária. Em algumas, os imóveis deste tipo mais baratos ultrapassam R$ 550, com condomínio pago separadamente. Há o caso de imobiliárias em que as únicas opções disponíveis de apartamentos de um dormitório ultrapassam R$ 700.

Este foi um dos motivos que levou a estudante de Josiele de Almeida, de 21 anos, a ter que dividir apartamento com outras duas jovens. Em busca de sua independência financeira, saiu da casa dos pais, mas encontrou dificuldade na busca de um lugar para chamar de seu. “Na época em que estava procurando um apartamento não havia quitinetes disponíveis e o que encontrava para locar era muito caro. Tive que optar por dividir aluguel, o que para mim não é a melhor opção, pois restringe um pouco a liberdade e a privacidade”, comenta.

Por que é tão caro?

Em maio, uma reportagem publicada no SERRANOSSA abordou o alto preço dos imóveis, terrenos e locações. De acordo com Wanderly José Ferreira, delegado regional em Bento Gonçalves do Conselho Regional dos Corretores de Imóveis do Rio Grande do Sul (Creci-RS) característica e tipo de imóvel (terreno, casa, apartamento, prédio residencial ou comercial) são informações importantes para a determinação do preço final de venda. Complementos como área, localização, acessibilidade, índices construtivos, avaliação de profundidade, índice de aproveitamento e até impacto na vizinhança (no caso dos terrenos) também são itens levados em conta, assim como o desenvolvimento econômico da cidade. Na visão dele, só encalham os imóveis que não foram corretamente avaliados, sendo que o alto valor não é um fator que afaste o comprador. “Temos imóveis para todos os gostos. Tudo vai depender do perfil do comprador e o que ele procura”, salienta. Em Bento Gonçalves nos últimos cinco anos foram construídos mais de 3,2 mil imóveis residenciais. Analisando os números, a demanda por locação poderia cair. Entretanto, a economista Mônica Mattia comenta que pelo fato da região ser bastante rica, o município é altamente atrativo para recursos humanos de outras regiões para todos os segmentos produtivos e com isso, os novos moradores estarão sempre buscando por locações.

 

Carina Furlanetto

 

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