Profissionais de segurança de Bento revelam os hobbies que os auxiliam a manter saúde mental em dia
A rotina de um profissional de segurança inclui uma série de acontecimentos traumáticos que podem abalar a saúde mental de qualquer um. Mesmo preparados para lidar com situações de perigo, com tragédias e com a adrenalina do dia a dia, muitos profissionais acrescentaram às suas vidas atividades menos agitadas que os auxiliam a tornar a rotina mais leve. Em Bento Gonçalves, o SERRANOSSA encontrou diversos cases bacanas que, além de mostrarem o perfil de policiais e bombeiros “por trás da farda”, ainda evidenciam talentos em diversas áreas.
Fisiculturista
Em setembro de 2017 o diagnóstico do diabetes tipo 1 transformou a perspectiva de vida do policial militar Mateus Wagner. A fim de controlar a doença, Wagner passou a praticar musculação e tornar o exercício físico parte dos seus dias. Mas em 2019, o amor pela prática levou o policial à aspiração do fisiculturismo, “inclusive pra motivar outros diabéticos a saírem da zona de conforto e se desafiarem”, relata.
Desde então, vem aliando a rotina na Brigada Militar de Bento Gonçalves com seus treinos diários. “Às vezes trabalho durante o dia, às vezes na madrugada. Treino 6 vezes na semana e tenho um dia de descanso. Mas quando estou de serviço, minhas marmitas estão sempre comigo para não errar na dieta. Faço o melhor que eu posso com aquilo que eu tenho”, comenta Wagner.
Nas redes sociais, o policial compartilha dicas e conteúdos motivacionais para aqueles que também sonham em se tornar um profissional da segurança pública ou elevar seu nível de treinamento físico, mesmo sendo diabéticos. Mas além de vencer desafios, motivar outras pessoas e cuidar de sua saúde física, os treinos trazem um bônus importante à rotina do policial. “Essa profissão exige muito preparo psicológico, pela carga de estresse, adrenalina, situações tristes, mortes e violência. Então é essencial termos uma atividade pra focar nossa energia, limpar a mente e fazermos o que nos faz bem. Pra mim, meu treino é minha terapia”, afirma.
Jogador de rugby
Desde 2011 o hoje policial rodoviário federal (PRF) Jardel Luís Vettorato vinha atuando pela seleção brasileira de Rugby. Mesmo após se tornar policial há seis anos e deixar a seleção agora em 2021, Vettorato continuou praticando o esporte como forma de manter sua saúde física e mental. “O rugby é fundamentado em ‘integridade, paixão, solidariedade, disciplina e respeito’, princípios que aplico no meu dia a dia”, revela o PRF.
A prática do esporte, segundo conta Vettorato, sempre foi apoiada pela PRF, a fim de conseguir conciliar a profissão e o esporte. “Eu preciso adaptar meus treinos à rotina da atividade policial. Usar das folgas, acordar às 5h da manhã, usar os finais de semana. Esporte de alto rendimento impõe diversos sacrifícios e demanda duas ou três horas de treinos diárias, além da alimentação e outros pontos importantes”, relata.
Em sua opinião, todos os profissionais da área deveriam praticar alguma atividade desportiva, principalmente visando à saúde mental. “Encontrar ferramentas para esse lazer garante nossa sanidade mental, sendo um instrumento de prevenção a diversas doenças, dentre elas a depressão, que mais afeta os policiais do Brasil e que, em diversas vezes, culmina no suicídio. Hoje a taxa entre os policiais está bem acima da média brasileira”, ressalta.
Escritor
Simples detalhes do cotidiano podem passar despercebidos aos olhos de grande parte da população. Mas não do soldado do Corpo de Bombeiros Militar de Bento Gonçalves Juliano Baigorra Ribeiro. Há cerca de três anos atuando na corporação do município e há mais de 11 anos na segurança pública – anteriormente na Brigada Militar – Baigorra adquiriu um hobby diferente nos últimos anos. Em seu Facebook, passou a retratar familiares, pessoas queridas e situações simples do dia a dia em forma de textos divertidos e poéticos.
A paixão pela leitura e pela escrita surgiu ainda quando pequeno, quando esperava ansioso pelo dia de alugar um novo livro na biblioteca pública em Rio Grande, onde morava. “Como faltava ‘os pilas’ para o xerox, eu sentava e copiava os trechos que mais me agradavam nas histórias para um caderno”, recorda.
Aos dois anos de sua filha mais velha, Mariana, uma cena “fofa” rendeu sua primeira “imagem legenda” nas redes sociais. “Depois disso foi se tornando mais gostoso colocar fotos ali [principalmente da Mariana e da filha mais nova, Rafaela]. Eu também conseguia quebrar um pouco da seriedade que as pessoas colocam naquela rede, ironizando minha própria imagem, por exemplo”, conta o soldado.
Conforme Baigorra, seus textos buscam preservar a essência da pessoa relatada, a fim de que os leitores consigam se identificar com a figura e possam entender sua importância na vida do soldado, “como quando falo de minha mãe, por exemplo. São relatos de uma época que minhas filhas nunca vão sonhar que existiu se eu não contar”, diz.
Trazendo para seus textos inspirações como o escritor Luís Fernando Veríssimo, que “trabalhava histórias comuns de maneira que se tornassem interessantes”, o soldado tem cativado um público cada vez mais ansioso por novos textos. E para ele, além do registro eternizado, os textos significam “uma fuga da correria. Ajuda minha ansiedade, me desconecta do dia a dia que, às vezes, é mais pesado do que deveria”, revela.
Fotógrafo
Lidar com a pressão do comando do 3º Batalhão de Policiamento de Áreas Turísticas (3º BPAT) de Bento Gonçalves não é tarefa fácil. O tenente-coronel Luis Fernando Becker assumiu a função no início deste ano, mas há cerca de 30 ele vem prestando serviço à Brigada Militar do Rio Grande do Sul. Diante dos desafios diários, o comandante encontrou há alguns anos um refúgio especial: a fotografia. “Comecei a gostar de fotografia de forma casual, quando registrei dois pombos com uma câmera que tinha. Gostei do resultado e percebi que poderia me aperfeiçoar”, recorda. Becker, então, começou a estudar sobre fotografia e ingressou em um curso na Universidade de Caxias do Sul (UCS). Comprou uma câmera melhor, uma Nikon 7100 e, depois, investiu em uma Nikon d750, além de lentes diversas. “Aos poucos fui percebendo que a fotografia realmente é uma arte”, comenta.
E o hobby do comandante tem rendido registros de tirar o fôlego. Suas fotografias captam momentos únicos de insetos, animais, de paisagens naturais e, ainda, do próprio trabalho de policial. “Como admirador da natureza, gosto de fotografar paisagens, animais e pássaros. Inclusive, participo de algumas ONGs em defesa da causa animal e acabo fotografando alguns pets para adoção”, revela o comandante.
Corredora
A policial militar Elsa Ribeiro entrou em uma rotina de corridas há 14 anos, a fim de passar no teste físico exigido para ingresso na Brigada Militar. Mas o que começou como uma exigência, tornou-se uma atividade prazerosa e essencial na vida da policial. “Correr ajuda a manter a forma física exigida para atuação do policial militar, além de me manter saudável. Ainda, me traz sensação de bem-estar, relaxamento mental e me ajuda a desconectar do resto do mundo e a tirar um tempo só para mim”, comenta.
Elsa costuma correr de três a cinco vezes por semana, aliando a prática com o trabalho. Também já participou de diversas competições em Bento e região, como a Sparkling Night Run, a Wine Run e a Trilhas e Montanhas, alcançando a primeira colocação em grande parte dos desafios.
“É de fundamental importância a prática de qualquer tipo de atividade física para o bom desenvolvimento do nosso serviço, pois, além de proporcionar saúde física e qualidade de vida, contribui e muito para a saúde mental. Fazer algo que nos dá prazer é uma forma de nos autorrecompensar por toda a carga negativa que inevitavelmente temos que suportar no nosso dia a dia, no trabalho policial”, comenta.
Yogini
Há cerca de três anos atuando como soldado no Corpo de Bombeiros Militar, Bruna Roberta Toillier nunca deixou de lado um de seus refúgios do estresse do dia a dia, o Yoga. Antes mesmo de se mudar de Santa Cruz do Sul para Bento Gonçalves, a prática já fazia parte da sua rotina. “É o único momento da semana em que eu paro de pensar no que tenho para fazer e me concentro só naquele momento. Eu foco em conhecer os limites do meu corpo, na respiração e no controle corporal, e isso me ajuda no dia a dia”, comenta.
Na opinião da soldado, a prática do Yoga a auxilia a lidar melhor com a pressão da rotina dentro do Corpo de Bombeiros Militar. “É de extrema importância para profissionais de segurança pública realizar práticas de autoconhecimento, de concentração e meditação ativa, além de, no caso dos bombeiros, auxiliar no condicionamento físico, alongamento, respiração e força”, analisa.
Fotos: arquivo pessoal