Promessa de alargamento da ERS-444 é descumprida

Uma das maiores tragédias do trânsito de Bento Gonçalves completou dois anos no mês de abril. No local em que os irmãos Itamar, 18 anos, Willian, 16, e Rodrigo Kasmiriski, 14, morreram atropelados no dia 11 de abril de 2009, três cruzes com flores plásticas são o único alerta para motoristas e pedestres sobre os perigos do trecho. Se depender do Departamento Autônomo de Estradas e Rodagem (Daer), as cruzes permanecerão como um protesto silencioso e solitário por tempo indeterminado. 

A principal função do órgão é manter as estradas gaúchas em condições seguras de trafegabilidade. Na época do acidente, os representantes locais chegaram a anunciar um projeto para alargamento da pista no trecho onde os três irmãos perderam a vida – o quilômetro quatro da ERS-444. Entretanto, até agora, nada saiu do papel. A assessoria do Daer, único meio pelo qual a autarquia se comunica com a imprensa, garantiu que haverá obras na rodovia, mas nenhuma relacionada a ampliação da pista.

Em nota, o departamento afirma que “no projeto consta apenas reforço na sinalização vertical (placas) e horizontal (pintura), entre Vale dos Vinhedos, Barracão e Bento Gonçalves. Ainda não foram realizados estudos para alargamento da ERS-444”. A informação é de que os trabalhos têm início previsto para 40 dias e devem durar duas semanas, sem custos adicionais ao Daer em função de um contrato corrente para a melhoria da sinalização com a empresa Signasul.

Decepção

Nestor Foresti, presidente da Associação Caminhos de Pedra, lamenta, revoltado, a notícia. “O Barracão e a ERS-444 são a nossa porta de entrada e nossa maior vergonha”, brada. Para ele, não haverá solução enquanto o jogo de empurra não acabar. “O Daer diz que cabe à prefeitura; a prefeitura repassa para o Daer. Enquanto isto, ninguém faz nada”, lamenta.

Cláudio e Inês Kasmiriski, pais dos três jovens, foram procurados pela reportagem, mas preferiram não conceder entrevista. Dois anos depois da tragédia, ainda muito abalados, eles tentam retomar a rotina. A falta de ações que, segundo Inês, deveriam ter sido feitas ainda antes do atropelamento, torna o sofrimento ainda mais angustiante. “Para nós já aconteceu. Não queremos que aconteça com outros”, resumiu.

Parceria

O prefeito de Bento Gonçalves, Roberto Lunelli, confirma que, na época do acidente, a prefeitura se dispôs a estabelecer uma parceria com o Daer para melhorar a segurança no local. Entretanto, segundo ele, os contatos com o órgão não foram mais retomados. “A iniciativa deveria ser do Estado”, justifica. Ele se dispôs a agendar uma audiência para os próximos dias com o novo diretor do Daer local para reavaliar as medidas possíveis.

Saiba mais:

Um inquérito sobre a situação da estrada tramita no Ministério Público de Bento Gonçalves. O promotor substituto responsável pelo caso informou, através de sua assessoria, que o inquérito está em fase de estudos e ainda não há uma posição oficial a respeito do assunto.

Relembre o caso

Por volta das 20h do dia 11 de abril de 2009, os irmãos Itamar, 18 anos, Willian, 16, e Rodrigo Kasmiriski, 14, caminhavam em fila no acostamento no quilômetro quatro da ERS-444 quando foram atropelados. Moradores do Barracão, eles participariam de um evento automobilístico na Associação Bento-gonçalvense de Cultura Tradicionalista Gaúcha (ABCTG), local que fica a cerca de um quilômetro da casa onde residiam com os pais. O

A Polícia Civil instaurou inquérito policial para apurar as causas e apontar a autoria do crime. Depois de receber diversas denúncias e, inclusive, investigar pistas falsas, o delegado responsável chega a um suspeito com base nos depoimentos de testemunhas que teriam visto um caminhão guincho, momentos antes do atropelamento, trafegando pela rodovia no sentido Farroupilha/Barracão. O condutor do guincho e a companheira dele, que conduzia uma camionete branca logo atrás do caminhão na noite do atropelamento são identificados e indiciados pelas mortes. Em depoimento, eles negaram a participação no ocorrido.

A perícia apontou claramente que a haste de sustentação do guincho, que apresentava um defeito na trava, saiu da posição de recuo durante o percurso pela rodovia e atingiu os jovens. O motorista justificou que não parou para prestar socorro, pois não percebeu ter atropelado alguém, embora tenha visto os irmãos quando passou por eles.

O inquérito policial encaminhado à Justiça indiciou o casal por homicídio com dolo eventual, tendo o Ministério Público denunciado apenas o condutor, entendendo que a companheira dele não teve participação no evento por estar em outro veículo no momento em que os irmãos foram atingidos. O acusado aguarda julgamento em liberdade.

Greice Scotton

 

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