Qual o sentido de pedir algo a Deus?
Estamos acostumados a pedir muitas coisas a Deus. Pedimos saúde, proteção, ajuda, conforto, paciência, enfim, inumeráveis auxílios. Aprendemos através da formação religiosa que isto é bom e quanto maior a nossa fé, mais Deus atende nossos pedidos. A própria Sagrada Escritura confirma: “Pedi e recebereis”. Certamente, a oração de petição traz consigo valores importantes como a preocupação pelas pessoas, o reconhecimento de nossa humildade e necessidade de Deus, a confissão da bondade e do poder divinos, entre outros.
Podemos, contudo nos fazer a seguinte pergunta: tem sentido pedir algo a um Deus que é puro amor, sempre em atividade? Ou ainda, tem sentido pedir algo a alguém que está sempre disposto a dar? O Deus que se revelou em Jesus como Abbá (pai e mãe) é um Deus sempre preocupado e sempre entregue ao ser humano. Sua ternura é infinita e sua bondade é oferta continua a todos nós. Se pensarmos na sua gratuidade e respeitando a iniciativa absoluta de sua graça, é difícil encontrar sentido no fato de pedir-lhe alguma coisa. Será preciso pedir algo a alguém que está sempre entregue. Jesus nos mostrou que no que depende de Deus a sua ajuda está sempre acontecendo. Ele está sempre disposto a ajudar. Não é preciso pedir algo. É, sim, preciso acolher o amor e a salvação que Ele está sempre pronto a nos dar. Aqui aparece o valor da liberdade humana. Embora, Deus queira se dar para a nossa salvação, nós livremente precisamos dizer sim, acolher esta salvação. Diante disso, o pedido perde muito o seu sentido. Pedir por quê? Se Deus está desde sempre disposto a dar. Pode-se pedir a alguém que não conhece o nosso desejo de receber algo ou que ainda não está decidido a dar-nos algo. Deus, porém, nos conhece e já está decidido. Rezar como louvor, como meditação e escuta atenta, como reconhecimento do amor de Deus sempre entregue, continua sendo fundamental e uma necessidade pessoal e comunitária intransferível. O pedido, porém, perde o seu sentido.
Certamente, essa afirmação aparece como dura e produz estranheza. Ocorre que o jeito de rezar forma o nosso espírito. Não dá para dizer: eu compreendo assim, mas rezo como estou acostumado. Ainda, eu sei que Deus é amor e está sempre entregue a nós, mas mesmo assim eu peço. O fato de pedir caracteriza e cria possibilidades de pensar num Deus distante, desatento, que precisa ser despertado para que venha em nosso auxílio. Quando as coisas não acontecem como pedimos, podemos interpretar que Deus não auxilia ou que não auxiliou porque ele sabe o que é melhor para nós. Todas essas conclusões vão criando em nós uma imagem de Deus. O fato é que a imagem mais plena de Deus nos foi mostrada por Jesus e a partir Dele precisamos ir captando quem é Deus e purificando as nossas imagens contraditórias. Essas contradições fazem mal aos seres humanos. Sócrates afirmava que compreensões distorcidas de Deus “fazem mal à alma”.
Para sermos coerentes com a revelação de que Deus é amor sempre em ato, isto é, sempre em atividade, precisamos perceber que a nossa liberdade diante de Deus, consiste em acolher aquilo que Ele está sempre pronto a nos ofertar. A oferta Dele é puro amor. Pedir algo a alguém que já quer dar é no mínimo estranho. Ele está sempre amando, sustentando o mundo e salvando. Nele não há castigo, nem condenação, nem juízo sem amor. Aquilo que conseguimos captar dessa presença amorosa nos humaniza, nos cura, conforta e nos realiza plenamente. Pensemos nisso…