Qualidade da safra deve superar anos anteriores

A falta de condições climáticas adequadas foi definitiva para a safra da uva 2015-2016. Marcada pela quebra de mais de 50% na Serra Gaúcha, a colheita acabou contando com a colaboração do tempo para compensar em qualidade da fruta. As vinícolas e produtores ainda não concluíram o envio de seus relatórios para o Ministério da Agricultura compor um quadro final, mas especialistas afirmam ter observado uma safra de boa qualidade. 

Para o enólogo da Emater de Bento Gonçalves, Thompson Didoné, a expectativa é positiva para a elaboração de bons produtos neste ano. “Conversando com agricultores, percebemos que a uva vai possibilitar isso”, prevê. A média de teor de açúcar na fruta da região é de cerca de 16 graus Babo em variedades como Merlot e Cabernet Sauvignon, e as amostras colhidas apresentaram, aproximadamente, essa graduação, além de boa sanidade, segundo o enólogo. 

O excesso de chuvas no período de floração, entre setembro e outubro, foi o que mais prejudicou o enchimento dos cachos, além de causar abortamento floral. Já durante a colheita, entre janeiro e março, as precipitações reduziram, possibilitando a concentração de açúcar nos grãos. “Quanto menos cachos, mais aspectos qualitativos, como cor e sabor”, acrescenta o diretor técnico do Instituto Brasileiro do Vinho, Leocir Bottega. 

Ele cita a Cabernet Sauvignon como exemplo de cultivar de boa qualidade neste ano, já que a maturação ocorreu depois das chuvas e com grande amplitude térmica – noites frias e calor durante o dia. “As variedades tardias, com amadurecimento nas últimas semanas, tiveram esse benefício. Mas as comuns, como a Bordô e Isabel, e brancas, como a Chardonnay, também tiveram resultado positivo”, avalia Bottega. 

Os atributos, no entanto, não são suficientes para compensar os danos para os produtores. “O volume da quebra foi muito grande e eles precisaram investir em tratamentos e defensivos agrícolas, que são cotados em dólar. Então, o custo da produção ficou alto, apesar do preço pago pela matéria-prima ter valorizado”, conclui Didoné.

Já o consumidor poderá contar com produtos excelentes, conforme o técnico do Ibravin. “A safra de 2016 não pode ser considerada excepcional, como a de 2005, por exemplo. Mas está acima do padrão normal e dos últimos anos”, garante Bottega. 

(Foto: Priscila Pilletti/Arquivo SERRANOSSA)