Quando os filhos decidem voar sozinhos

Enquanto os filhos são pequenos os pais são os heróis e estão no comando. A casa parece mais movimentada, com brinquedos espalhados e muitas risadas. O tempo passa e a garotada cresce. Os pais estranham um pouco, mas a segurança de saber que os filhos vão voltar para dormir sob suas asas ainda os tranquiliza. Chega o dia em que os herdeiros seguem seu rumo, saem para alçar novos voos e deixam o lar. É neste momento que pode ocorrer a Síndrome do Ninho Vazio, como é conhecida a sensação vivenciada por muitos pais na fase em que os filhos saem de casa.

Para a coordenadora do curso de psicologia da Universidade de Caxias do Sul, Maria Elisa Carpena, a síndrome normalmente se dá no momento que os filhos saem de casa e os pais voltam a ser casal e precisam se redescobrir como tal. “Os filhos fazem com que eles passem a assumir outros papéis, de pais, e depois há um estranhamento por não se reconhecerem mais”, observa. Entre os sinais estão sensação de vazio, sintomas depressivos, desmotivação e choro.

Com o tempo, o problema pode evoluir para um caso de depressão. Maria Elisa salienta que quando o motivo da saída dos filhos é positivo, como casamento e estudo, pode ser mais tranquilo o processo. Caso seja por algo negativo, como morte ou brigas, costuma ser mais difícil de lidar. “Há um agravamento quando há a vivência da síndrome e a morte de um cônjuge. Fica duas vezes mais difícil”, comenta.

Ambos os pais podem sofrer com a Síndrome do Ninho Vazio, mas a mulher costuma estar mais propensa. “Normalmente a mulher vive a maternidade de forma mais intensa pelos cuidados mais diretos que possui com os filhos, mas a história tem mudado e os homens também passaram a exercer esse papel”. Ela nota que, atualmente, a mulher tem filhos mais tarde e a saída deles de casa irá coincidir com a aposentadoria. “Ela então se vê sem os filhos e sem compromisso próprio”, constata.

Prevenção e tratamento

Para prevenir que o problema apareça é preciso cuidado a longo prazo. “É necessário estar consciente de que filho é feito para o mundo”, alerta Maria Elisa. A especialista indica que o casal não fique só na função de pai/mãe. Criar e praticar atividades que gostem de fazer e manter um grupo de amigos são algumas dicas.

Os filhos também podem ajudar os pais neste processo. “Mostrar que fizeram o que cabia a eles, que existe e sempre vai existir uma ligação, que cumpriram com a função de preparar o filho para a vida”. É importante mostrar aos pais que eles continuam tendo espaço na vida do filho.

O tratamento pode ser mais eficaz se iniciado antes de o ninho ficar realmente vazio. “Se o casal se redescobrir, pode ser uma forma boa de viver. É preciso trabalhar durante o casamento”, indica. O casal precisa utilizar o espaço para fazerem o que não tinham tempo e rever as afinidades. “Na medida em que não conseguem se adaptar a essa nova forma de viver, não conseguem assimilar. Aí vêm os pensamentos: não me amam, não gostam mais de mim”, descreve. A psicóloga orienta que seja procurada ajuda especializada.

Reportagem: Francine Ghiggi

 

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