Quarenta e cinco dias de luta contra a COVID-19

Bento Gonçalves tem, atualmente, 984 moradores que já se recuperaram da COVID-19. O número representa cerca de 70% do total de pacientes infectados desde o início da pandemia. Apesar de a maioria das pessoas acometidas pela doença ser assintomática ou apresentar sintomas mais leves, há dezenas de moradores que vivenciaram o pior estágio da doença. O aposentado Moacir João Menegotto é um deles. 

Colecionador de camisetas de clubes de futebol, futsal e vôlei, Moacir é uma figura já conhecida pelos bento-gonçalvenses – principalmente pela equipe do Esportivo. Há cerca de 15 anos, o aposentado vem auxiliando voluntariamente o clube, por meio da recepção dos times visitantes. “Ele é uma pessoa forte e ativa, trabalha por amor ao clube”, garante Maikon. 


Moacir coleciona cerca de 1,3 mil camisetas

No início do mês de maio deste ano, entretanto, Moacir se viu acometido pela COVID-19, após apresentar os primeiros sintomas. De acordo com Maikon, o pai tem diabetes, pressão alta e problemas renais, o que agravou as complicações pelo novo Coronavírus. “Ele começou a sentir falta de ar, mas não tinha febre. Nós levamos ele na UPA do São Roque quando a falta de ar se intensificou. Aí nos transferiram para a UPA do Botafogo. Fizemos o teste na barraca [ambulatório de triagem] e depois nos mandaram para o Tacchini. Mas até então ele estava normal”, recorda Maikon. 

Com a suspeita de Coronavírus, Moacir foi encaminhado para a ala de isolamento do hospital. “Até então não tinham falado nada para nós que poderia ser suspeita de Coronavírus. Mas aí no domingo do Dia das Mães uma funcionária do Tacchini me ligou dizendo que iriam transferir meu pai para Campo Bom, porque lá tinha os equipamentos necessários para o tratamento dele. Quando vi o pessoal que colocou meu pai na ambulância vestindo todas aquelas roupas de proteção, comecei a me preocupar. Perguntei para o motorista e ele me falou que era suspeita de COVID-19”, conta. 

Três dias depois, a família de Moacir recebeu a confirmação do exame. “Até então eu estava conversando com ele por um vidro [na UTI de Campo Bom], mas depois ele começou a piorar e precisou ser sedado e entubado. Aí tive que voltar para Bento e ficar em isolamento com a minha mãe [Neusa]”, comenta Maikon. “A gente não sabia se meu pai iria sobreviver, porque em um dia ele apresentava melhoras, no outro pegava uma bactéria, uma infecção e piorava”, continua. 

Após algumas semanas de internação, Moacir começou a apresentar melhora efetiva. “O que salvou meu pai, pelo que escutamos dos médicos, foi o adiantamento no processo. Eles não esperaram ele ficar mal. Antes mesmo do resultado positivo, já estavam medicando ele e fazendo procedimentos utilizados nesse tipo de tratamento”, afirma Maikon. 


Moacir e Maikon no Hospital Tacchini

Moacir recebeu alta da UTI no dia 25/06 e, no mesmo dia, foi transferido para o Hospital Tacchini. De acordo com Maikon, foram realizados três testes e todos deram negativo para a COVID-19, o que significa que ele já está curado. Mesmo assim, os testes também indicaram que Moacir não adquiriu os anticorpos da doença, ou seja, ele pode voltar a se contaminar. Dessa forma, os cuidados deverão ser mantidos. “Saber que meu pai estava com essa doença foi a pior notícia que a gente poderia ter recebido. Ver ele nessa situação, entubado, é a pior sensação que existe. Ainda mais estando longe. Ficamos em casa com o coração na mão”, lamenta.  “E eu também não podia ter muito contato com a minha mãe, para preservar ela. Via ela chorando pelo meu pai e não podia abraçar. Não poder confortar as pessoas que amamos machuca. Mas nós nunca desistimos. Rezamos todos os dias e com certeza isso ajudou a gente a superar e a salvar meu pai. Minha noiva, Franciele, também está nos ajudando bastante”, comenta. 

Agora, Moacir já voltou a comer sozinho e logo tirará a sonda. Serão apenas mais alguns dias de internação para que ele possa, finalmente, voltar para casa ao lado da família. Com essa vitória, o aposentado conseguirá juntar ainda mais camisetas para sua coleção, que já conta com cerca de 1.300 unidades, e também poderá ter a alegria de continuar contribuindo com o time do coração, assim que os jogos forem retomados na Montanha dos Vinhedos.


Maikon (à direita) e os pais, Neusa e Moacir, em registro feito antes da
pandemia do novo Coronavírus

Fotos: Arquivo Pessoal