Quase metade da população de Bento é migrante
Uma constatação comumente ouvida pelas ruas de Bento Gonçalves foi confirmada pelos dados do Censo realizado em 2010: a cidade atrai muitas pessoas de outros municípios. Quantos familiares, amigos ou conhecidos que não nasceram no município convivem com você diariamente? Se você próprio não for um deles, é provável que conheça pelo menos uma pessoa que deixou a sua cidade natal e veio tentar a vida em Bento.
Enquanto a média de migração nos municípios brasileiros é de 35,43%, na região os índices são bem superiores. As cidades vizinhas de Bento Gonçalves possuem mais de 40% de sua população não natural do município. Em Bento, 45,21% vêm de outras cidades. O destaque fica para Farroupilha, onde o número de migrantes já supera o de moradores naturais do município: 51,37%.
A qualidade de vida acima de outras regiões e a prosperidade econômica e social da Serra Gaúcha costumam ser o principal motivo da mudança. Na avaliação do o secretário de Habitação e Assistência Social, Roberto Locatelli, a principal motivação das famílias que desembarcam em Bento Gonçalves é a oferta de trabalho e o mercado aquecido. Outro fator é o reconhecimento dos muitos que construíram uma nova vida na cidade. Ele conta que o Departamento de Habitação da secretaria atende constantemente migrantes que chegam sem estrutura ou ocupam ilegalmente áreas não regularizadas.
Apesar da expectativa, muitos não conseguem prosperar, principalmente por não terem qualificação para o mercado de trabalho. Para esses, segundo Locatelli, são ofertadas viagens de volta às cidades de origem. “Essa mesma ferramenta é usada para aqueles que manifestam o interesse de ir embora, sempre mediante comprovação e estudo social da família”, explica o secretário, dizendo que esse serviço é utilizado quase que exclusivamente por famílias vindas de regiões de fronteira do Estado.
Do Estado
A maioria das pessoas de fora que chegam a Bento Gonçalves vem de outras partes do Rio Grande do Sul. Segundo o Censo, dos 107.278 habitantes, 42.900 são de outras cidades gaúchas. O restante dos migrantes veio, em maior número, de outros Estados ou países e há ainda uma minoria de naturalizados brasileiros morando no município.
Migrantes na Serra
Bento Gonçalves – 45,21%
Carlos Barbosa – 49,19%
Caxias do Sul – 41,91 %
Farroupilha – 51,37%
Garibaldi – 45,03%
Expectativas superadas
O assessor de magistrado da 1ª Vara Criminal, Luís Jovani de Magalhães Rodrigues, saiu de Palmeira das Missões rumo a Bento Gonçalves há pouco mais de seis anos. A mudança ocorreu por questões profissionais. Desde que chegou aqui, ele trabalha no Fórum. Rodrigues conta que veio sozinho e foi bem recepcionado na cidade. “Minhas expectativas foram superadas. Fiz boas e importantes amizades e também por elas, a continuidade do trabalho que aqui desenvolvo se faz prazerosa”, relata.
De maneira geral, ele classifica Bento como bastante acolhedora, mas faz uma ressalva apenas para migrantes de outras regiões, especialmente de outros Estados. “Estamos em um Estado bastante bairrista”, observa.
A formação em Direito e a atuação em um ramo de trabalho considerado dinâmico, faz com que ele não tenha como escolher onde firmará residência. Apesar disso, ele conta que, se pudesse escolher, continuaria em Bento Gonçalves. “É uma cidade bem posicionada geograficamente, com um clima agradável, dotada de belezas naturais e com interessante potencial econômico”, resume. No rol dos principais problemas da cidade, ele cita a questão do trânsito.
Vontade de trabalhar
A empresária Eliana Bertamoni veio para Bento Gonçalves em 1978 para fazer o curso de Técnico em contabilidade. Além de estudar, precisava trabalhar para custear sua formação. Atuou em diferentes ramos de atividades até que, há 27 anos, abriu o próprio negócio, uma loja de tintas. A escolha por Bento se deu por que ela já tinha irmãos que residiam aqui. “Tinha conhecidos morando aqui e que estavam se dando bem. É uma cidade muito acolhedora, com boas ofertas de emprego. Quem tem vontade de trabalhar se dá bem. Comecei de baixo e cresci. Naquela época não esperava que as coisas dessem tão certo”, conta
Ao longo destes 34 anos, Eliana conta que já pensou em deixar Bento para abrir uma pousada em alguma praia nordestina. A opção de permanecer aqui se deu em função do desejo dos filhos, que nasceram em Bento e gostam da cidade. “Sempre gostei de Bento Gonçalves. Aqui é onde tenho minha vida”, resume. Entre os pontos negativos, ela fala do custo de vida. “Uma casa bem localizada com quatro quartos em Muçum, por exemplo, pode ser alugada por menos de R$ 400. Em Bento, por esse valor é difícil encontrar um apartamento de um quarto, mesmo em bairros mais distantes”, compara.
A diversidade de origem da população, segundo a empresária, pode ser percebida na loja. “Dos mais de cinco mil clientes que tenho cadastrados, 60% vieram de fora”, observa. Proporção semelhante também é verificada entre os seus oito funcionários: apenas dois são naturais de Bento, incluindo seu filho. As origens são diversas, entre elas Guaporé, Lagoa Vermelha, Muçum e Alpestre.
Reportagem: Carina Furlanetto
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