Quatro meses à espera de uma consulta

O que parecia ser uma esperança de vida melhor está se tornando aflição para a família Fantin. A possibilidade de colocação de um marca-passo diafragmático, apresentada pelo cirurgião torácico Rodrigo Afonso da Silva Sardenberg, de São Paulo, fez renascer a esperança que o jovem Charles Fantin, 32 anos, tetraplégico desde os 20, após ser baleado durante um assalto, pudesse ter mais autonomia e uma vida melhor, sem as constantes internações devido a pneumonias. Após uma longa espera para conseguir realizar a cirurgia através do Sistema Único de Saúde (SUS) e nenhuma resposta, a família decidiu acionar a Justiça contra o Estado. No dia 28 de maio deste ano, a juíza Romani Terezinha Bortolas Dalcin deu prazo máximo de cinco dias para o Estado encaminhar Fantin a uma consulta médica com um especialista. Passados quatro meses, eles ainda aguardam.

O marca-passo diafragmático incentiva o paciente a respirar sozinho e custa em torno de R$ 388 mil. A ação na Justiça foi motivada pela falta de condições financeiras da família. Conforme a advogada Caroline Barbieri Tancini, uma ação de antecipação de tutela foi criada a fim de conseguir que o Estado compre o marca-passo diafragmático e pague os custos do procedimento. Até o momento, a decisão da juíza não foi cumprida. A reportagem do SERRANOSSA entrou em contato com a assessoria de imprensa da secretaria estadual da Saúde, que alega, segundo apurado junto ao setor jurídico, que eles não foram intimados sobre a atual decisão da Justiça. No local, haveria apenas registros de uma antiga decisão, proferida no começo do ano, a qual permitiu que Charles realizasse uma consulta com um especialista no Hospital de Clínicas de Porto Alegre. A advogada da família relata que a intimação já foi emitida. Caroline ainda explica que o laudo da consulta feita em março não informa sobre a urgência ou não da realização do procedimento, fato que a juíza considera essencial para a tomada de sua decisão. A reportagem ainda entrou em contato com a assessoria de comunicação social da Procuradoria-Geral do Estado do Rio Grande do Sul (PGE-RS), para buscar informações sobre o processo, mas até o fechamento desta edição eles não haviam se pronunciado sobre o assunto.

Preocupação constante

Iraci Fantin, mãe do rapaz, explica que Charles fica muito exposto a doenças pulmonares devido à traqueostomia – ele convive com uma abertura na garganta por onde são conectados os tubos do respirador artificial e que acaba sendo porta de entrada de bactérias. A família também enfrenta problemas com a alimentação em função de um balão na garganta que obriga que o ar injetado pelo aparelho siga obrigatoriamente seu trajeto até os pulmões, dificultando a ingestão de alimentos e a fala. Outra situação que traz angústia para a família é que o respirador precisa estar sempre ligado à energia elétrica e uma simples queda ou falta de luz coloca a vida dele em risco. O rapaz ainda sofre espasmos com frequência, o que causa a soltura dos fios e interrompe o envio de ar, o que pode sufocá-lo. 

O assalto

Charles Fantin foi vítima de um assalto no dia 26 de julho de 2002. Por volta das 20h20, ele foi abordado e baleado quando estava no interior de seu automóvel, junto com a então namorada, no Parque de Eventos da Fenavinho. O projétil ficou alojado no pescoço, deixando-o tetraplégico. Ele ficou nove meses internado no hospital, mas precisa, até hoje, permanecer conectado ao respirador artificial, doado pela prefeitura. Charles passa boa parte do dia assistindo a filmes e programas na televisão ou utilizando o computador, que aprendeu a operar com o queixo em sua terceira viagem ao Hospital Sarah Kubitschek, em Brasília.

Autonomia e alto astral

O pequeno Jackson Rafael Ferreira Bottim, de oito anos, morador de Caxias do Sul, ficou conhecido em todo o Estado em função da luta da família para colocação de um marca-passo diafragmático. O garoto ficou tetraplégico após ser atropelado em 2010 e respirava somente com a ajuda de um aparelho. Após ter o pedido para realização da cirurgia negado por duas vezes – tanto pela prefeitura quanto pelo Estado –, os familiares dele recorreram à Justiça e, em novembro do ano passado, conseguiram o tão almejado aparelho.

A cirurgia foi realizada em 12 de abril deste ano, no Hospital Geral de Caxias do Sul. Passados cinco meses, Jackson já passa seis horas por dia respirando sozinho. “Após a cirurgia, esperamos 30 dias para ligar o aparelho, até que estivesse bem cicatrizado. O processo foi sendo realizado aos poucos, para não forçar muito o diafragma e provocar fadiga. Começou com ele respirando sozinho por cinco minutos, hoje ele fica três horas durante a manhã e o mesmo período à tarde”, comemora Simone Ferreira, mãe do garoto.

Com a colocação do aparelho, o menino passou a frequentar novamente a escola e está no 3º ano do Ensino Fundamental – antes ele tinha aulas em casa. “Estamos percebendo bastante melhora, principalmente no astral dele, que mudou bastante. Ele está com maior autonomia e está se sentindo mais livre. Sem contar que pôde voltar à sala de aula”, comemora.

Reportagem: Katiane Cardoso


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