Queda nas vagas na indústria preocupa

Bento Gonçalves vive em retração econômica e a desaceleração advém ainda do ano passado. O que empresários e trabalhadores já percebiam no dia a dia foi revelado em números nesta semana: o Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves (CIC-BG) divulgou, na última segunda-feira, dia 23, os dados coletados na 44ª edição do Panorama Socioeconômico do município. O cenário revelado, referente a 2014, elucida – e preocupa – a respeito da situação na atualidade. 

O dado mais alarmante é o número de demissões em comparação a 2015. Os índices não constam na revista publicada, por serem deste ano, mas foram revelados no evento de apresentação. De janeiro a outubro do ano passado, havia saldo positivo de 1.462 novos empregos gerados. No mesmo período deste ano, 1.098 vagas foram fechadas. O doutor em Administração e diretor de Gestão e Inovação do CIC, Fabiano Larentis, que participou da pesquisa, compara o índice de contingente humano ao de outras cidades gaúchas: Bento tem o 14º maior saldo negativo do Rio Grande do Sul. 

“Essa é a fase mais cruel da crise, quando as pessoas começam a perder seus trabalhos. Desde o ano passado, percebíamos que este não seria um ano fácil”, comenta Larentis. Ele refere-se à queda na geração de empregos iniciada ainda em novembro de 2014: apenas nos dois últimos meses do ano, houve déficit de cerca de 700 vagas. No último ano, o saldo foi de 602 pessoas empregadas no setor de serviços e 578 na construção civil, com 528 dispensadas da indústria. O administrador relaciona os 1.224 empregos fechados pelo ramo industrial em 2015 a 1% da população bento-gonçalvense. 

Alerta na indústria

A indústria representa o setor de maior faturamento em Bento, com R$ 5,72 bilhões movimentados no ano passado. O crescimento de 2% em relação a 2013, no entanto, foi pouco significativo, já que o comércio registrou alta de 11% e os serviços, 10%. No total, o faturamento bruto ampliou o desempenho do ano anterior em 5%, o menor percentual em cinco anos. O aumento real, contudo,  foi negativo, de 1,8%, considerando-se o deflator econômico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que é a variação percentual do Produto Interno Bruto (PIB) em relação ao mesmo período do ano anterior.

“Nosso motor é a indústria, que é quem sente primeiro impacto”, avalia o presidente do CIC, Leonardo Giordani. O setor moveleiro, que tem a maior participação industrial em Bento Gonçalves, foi o que mais sentiu a queda, ficando com a fatia de 44% da economia local – 3% a menos que no ano anterior. As vinícolas e empresas de alimentos, entretanto, cresceram na participação, representando 14% e 13%, respectivamente. O setor metalmecânico manteve-se estável em 19%. Para Larentis, o principal fator que influencia a variação negativa é a situação estadual e nacional, já que a indústria depende de mão de obra e insumos, além de produzir bens de consumo, no caso de Bento Gonçalves. 

As exportações do município atingiram US$ 89,5 milhões, enquanto as importações alcançaram US$ 65,3 milhões. Apesar da queda nas vendas externas (5% em relação a 2013), o decréscimo ainda maior nas importações (21%) possibilitou um aumento do saldo na balança comercial. “As fábricas de móveis, responsáveis por muitas importações, passaram a comprar mais internamente”, cita Larentis. O saldo de US$ 24,2 milhões é o segundo maior em cinco anos. 

Otimismo

Para os representantes da entidade, as bases econômicas e sociais bem estruturadas do município representam otimismo para o futuro. “É um momento cíclico e esperamos que passe. As pessoas ficam amedrontadas, mas temos o elemento cultural do empreendedorismo em Bento. Levando-se em conta a estrutura, acredito que consigamos absorver a crise melhor que outros municípios”, avalia Larentis.  “Conversando com associados, temos um sentimento de que já batemos a pior fase, há dois ou três meses. Vamos sofrer em 2016, mas estamos no processo de superação da crise”, conclui Giordani.

Reportagem: Priscila Pilletti


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