Quem é a mulher de biquíni que viralizou em Bento?

Nas últimas semanas, vídeos e fotografias de uma mulher desfilando e dançando de biquíni pela área central de Bento Gonçalves chamaram a atenção dos moradores e viralizaram nas redes sociais. A mulher foi flagrada tomando banho de sol na avenida Osvaldo Aranha, passando álcool em gel no corpo e se alongando em frente ao Shopping Bento Gonçalves e, mais recentemente, dançando em frente ao Banco do Brasil, no Centro. Alguns dos rumores que se espalharam foram de que ela estaria “protestando” em prol da abertura de boates noturnas em Bento, ou que estaria fazendo “marketing” para um estabelecimento em específico. 

A mulher é a carioca Paula Bonassa dos Reis Ferreira de Souza, de 31 anos. Natural de Copacabana, nos últimos anos ela passou por diversas regiões do Brasil, trabalhando como garota de programa em diferentes Estados. Sem ajuda de familiares, Paula conta que sempre viajou de ônibus ou pegou carona com caminhoneiros nas estradas. “A maioria das casas tem alojamento, então eu ficava nesses alojamentos. Às vezes eu alugava um lugar pra morar. Sempre viajei bastante”, relata. 

Entretanto, recentemente ela descobriu uma grave doença nos pulmões, que a impediu de continuar trabalhando.  Desde então, ela aguarda sua aposentadoria por invalidez, mas ainda não teve retorno do INSS. “Eu sinto pontadas no pulmão e na cabeça e o coração acelera de vez em quando, tenho taquicardia. Não tenho mais muito tempo de vida, porque mesmo se eu tratar, não tem cura”, afirma. 

Sem a possibilidade de trabalhar e sem dinheiro para se sustentar, ela conta que decidiu voltar a Bento Gonçalves, onde já havia morado por um tempo, por motivos pessoais. Na região, ela já morou em Caxias do Sul e Farroupilha. “Eu fiquei um tempo em Fortaleza, depois viajei com um caminhoneiro até São Paulo, depois para Itajaí (SC). Lá eu conheci um cara [morador de rua] e nós viemos juntos até Bom Princípio (RS), de bicicleta. Mas por causa do meu problema, meu coração começou a disparar e não consegui continuar. Eu tinha R$ 24  na carteira e aí comprei uma passagem para Bento e ele veio de bicicleta”, conta. 

Paula explica que chegou ao município com R$ 4 na carteira e decidiu esperar seu companheiro ao lado da rodoviária. “Eu comecei a ficar com fome e decidi pedir ajuda para as pessoas da rua, mas ninguém dava bola. Então decidi tirar a roupa para as pessoas me notarem. E foi aí que eu comecei a ser ajudada”, recorda. Quando seu então companheiro chegou à cidade, Paula conta que os dois passaram a sobreviver com o dinheiro do auxílio emergencial e com a refeição disponibilizada pelo Lar da Caridade. “Meu auxílio do Coronavírus saiu só o primeiro, depois não saiu mais. E nós nos mudamos para trás do Caitá [em uma barraca instalada na linha férrea], aí ficamos menos visíveis e deixamos de ganhar ajuda. Então comecei a ficar com fome, aí me irritei de novo e fiz aquele showzinho”, explica. “Só que não adiantou nada, porque as pessoas não entendem. Elas pensam ‘a, a guria é maluca, ela tá tirando a roupa, tá fazendo escândalo’. Mas as pessoas que trabalham como garotas de programa, se tiverem algum problema de saúde e tiverem que parar de trabalhar, elas ficam sem dinheiro”, alega.  

Na terceira vez que Paula desfilou de biquíni, ela conta que decidiu colocar uma “laranja” de isopor na cabeça, para que as pessoas entendessem que se tratava de um protesto. “Eu fiz para chamar a atenção mesmo. Estava com raiva. Queria dizer: ‘alguém, por favor, me vê? Admite que eu tenho a porcaria do problema no pulmão para me dar logo meu INSS?’”, revela. Agora, Paula conta que algumas pessoas estão a auxiliando com marmitas ou dinheiro. 

“Agora ele [seu então companheiro] foi embora e eu fiquei sem nada. Vou fazer minha reconsulta logo e espero que dessa vez não escondam que eu tenho problema. Enquanto isso, vou continuar fazendo meu crochê e vendendo na rua como os haitianos. Depois que vier meu INSS, vou continuar fazendo meu crochê e vivendo normal. Aproveitando meu restinho de vida”, afirma.

Fotos: Reprodução/WhatsApp