Queremos viver

Nessa segunda semana do ano de 2021, o número de mortes pela pandemia da COVID-19 ultrapassou os 200 mil. E não para de subir…

Fui questionado, falando do assunto, por um amigo próximo, pessoa por quem tenho muita admiração e que me faz refletir, sempre, o porquê nunca havia escrito, aqui, sobre esse número assombroso, se isso não me espantava, ou o porquê isso talvez não tivesse, para alguns, o impacto que as pouco mais de 200 mortes ocorridas no caso da Boate Kiss teve. 

Primeiramente, minha reação foi de tentar justificar talvez a polêmica que essa comparação poderia gerar ou, até, que isso poderia trazer um desconforto coletivo, inclusive frente à própria redação deste meio de comunicação ao qual eu tenho total respeito e agradecimento.

Posteriormente, refletindo sobre, muitas coisas passaram pela minha cabeça, dentre elas o fato de a Sophia, aquela guriazinha por quem eu dei um pedaço de mim, não nos permitir falar a palavra “coronavírus” pelo fato de que, na ingenuidade dos seus seis anos, mais um vírus se formaria. 

Ora, sabemos que não é assim que o vírus se dissemina entre nós, mas talvez por isso que, semanalmente, eu evito falar sobre o assunto. Tento, dentre outras razões, tratar de outros assuntos ou de reflexões paralelas para que o leitor, metralhado diariamente por esse assunto, possa divagar sobre outras coisas, nos mais diversos universos.

Mas e aí? Haveria comparação entre as mortes? Ou entre os números de mortes? Ou, ainda, na comoção social sobre elas? É mais relevante e tenebroso tratar de 200 mortes havidas em um local ou de 200 mil em todo o país? Qual dos fatos seria mais impactante?

Eu não sei a resposta. Talvez nunca saberei essa resposta. Creio que poucos, racional e conscientemente, a saibam. O que eu sei é que, ao fim e ao cabo, nós somos frutos de nossas escolhas. Ninguém de nós, de maneira razoável e em sã consciência, escolheu contrair o vírus. Ou espalhá-lo. Ao mesmo tempo, e é quase que óbvio, ninguém que estava, naquela noite, no interior da Boate Kiss, escolheu morrer. Ou quis que mais de 200 pessoas morressem. Porém – e isso é uma verdade inafastável – elas escolheram estar lá.

Faço, por outro lado, um mea culpa aqui. 

Muitos de nós, em época de faculdade ou mesmo hoje, queríamos e insistíamos para os responsáveis pela fiscalização dos acessos ou diretamente pela realização dos eventos, ou dos estabelecimentos comerciais, para que “nos deixassem entrar”; “que havia saído gente”; “que os amigos entraram”; “que o lugar da mesa estava vago”; “que o gatinho/gatinha estava lá dentro” etc., até que nos fosse franqueado o acesso. E com certeza nenhum de nós queria ou quer morrer. Ao contrário, todos queriam e querem viver, na mais pura acepção da palavra. 

É hora, talvez, de pensarmos em como queremos viver: se enfrentando um mal, afastando um mal ou, talvez, negando um mal. Na dúvida, prefiro acreditar que a cura está próxima. E, antes que me perguntem, sim, eu vou tomar a vacina, qualquer uma delas.

A verdade, ao fim e ao cabo, é que falar sobre um fato ou sobre o outro, por certo faz com que tomemos mais cuidado, em todas as circunstâncias. Afinal, como eu disse, ninguém quer morrer…

Até a próxima!

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