“Queriam atingir o presidente da República”, diz Pasqualotto sobre a demora do retorno das aulas presenciais no IFRS
Presidente da Câmara de Bento , vereador Rafael Pasqualotto (PP), celebrou retorno das aulas presenciais no Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) durante a sessão desta segunda-feira, 18/10, e criticou gestores da unidade de Bento. Para ele, a demora não foi por conta do coronavírus e, sim, por questões ideológicas e políticas.
“O que parecia impossível, Deus operou um milagre. Finalmente! Glória a Deus! O Instituto Federal do Rio Grande do Sul retornou às aulas! Uma salva de palmas! Retornou às aulas depois de, pasmem, 20 meses sem aula presencial”. Foi assim que o presidente da Câmara de Vereadores de Bento, vereador Rafael Pasqualotto (PP), comemorou o retorno das aulas presenciais do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), em Bento Gonçalves. Em sua manifestação na tribuna, Pasqualotto, que por diversas vezes ao longo deste e do ano passado usou seu espaço regimental para criticar o IFRS, comentou que a ausência de aulas presenciais foi um “assassinato à pedagogia do nosso aluno”.
O vereador pontuou que suas críticas não eram para os professores bem-intencionados ou para aqueles que amam a vocação, mas sobre a questão “ideológica” da instituição “de querer atingir o presidente da República e de não querer retornar à aula. Não era o vírus, porque não tivemos no mundo casos de adolescentes mortos. De repente, teve um caso em 7 bilhões”, comentou.
No entanto, ao contrário do que disse Pasqualotto, o Brasil registrou 3.561 mortes de crianças e adolescentes de até 19 anos por Covid-19 desde o início do surto, em março de 2020. A informação é de um estudo inédito da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que analisa dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade Infantil (SIM) e do Ministério da Saúde (MS). O país é o segundo com mais mortes de crianças pelo coronavírus no mundo, atrás apenas do Peru, em termos proporcionais. Em 2020, foram 1.203 mortes por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). Já em 2021, foram 2.293. De acordo com documento da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) sobre a covid-19 em crianças e adolescentes, a probabilidade de morte entre esse grupo no país é maior do que na comunidade internacional.
Pasqualotto falou também que os “estragos na psicologia, na pedagogia e na questão social dos alunos são irreversíveis”. “Alunos com transtornos psicológicos que agora estão se tratando com psiquiatra e psicólogo. Alunos que não querem mais retornar à sala de aula. Alunos que fugiram de casa. Tem um colega do meu filho que fugiu de casa, que queria se matar. Eu posso trazer aqui”, provocou Pasqualotto. O vereador também comentou que, enquanto muitos profissionais atuaram durante a pandemia, como atendentes de supermercado e motoboys, o IFRS optou em não retornar. “Os pais tendo que trabalhar, não sabendo mais o que fazer com seu filho, com sua filha, ah mas… mas é um ambiente contaminado”, debochou.
MOÇÃO DE APOIO
Em julho, a Câmara de Vereadores aprovou uma moção apoio ao retorno às aulas presenciais. Na oportunidade, como resposta à ação da Casa Legislativa, o IFRS alegou que o cenário da pandemia era constantemente avaliado e, assim como todas as intuições federais de Ensino Superior públicas do Estado, seguiria momentaneamente com o ensino remoto. O IFRS destacou, na época, que “a segurança e a saúde integral de seus servidores e estudantes” era prioridade e que, neste processo, a disponibilidade de orçamento para conseguir adotar todos os protocolos de segurança ao retorno presencial era uma preocupação, tendo em vista os cortes e bloqueios do Governo Federal. “Esperamos que esta situação seja revertida no decorrer do ano”, comentou.
Outro ponto rebatido pela instituição foi em relação à vacinação. Para a direção, em julho, muitos profissionais da educação ainda não tinham recebido a segunda dose e os estudantes, em sua grande maioria, não tinham sido imunizados nem mesmo com a primeira dose.
VEREADORES FAZEM CORO A PASQUALOTTO
O vereador Anderson Zanella (PP) concordou com o discurso do presidente da Câmara de Vereadores e completou: “A pergunta que fica para estes esquerdopatas que não queriam voltar numa questão única e exclusivamente política é se eles não frequentavam supermercado durante a pandemia? Se eles não tinham que ir à farmácia? Se não tinham que sacar dinheiro no banco? Aí não tinham problema do Covid? Será que eles abriram mão dos pomposos salários federais que ganhavam para ficar em casa?”, questionou, ignorando o trabalho remoto dos professores da instituição durante a pandemia. “Se comprova que foi muito mais político, sim, num ataque ao presidente da República do que qualquer outra coisa”, finalizou Zanella.
Eduardo Pompermayer (DEM), que além de vereador também é professor, afirmou que “é uma pena que uma instituição de excelência no ensino tenha entrado em uma briga política e ideológica e deixado tanto tempo nossos alunos sem ensino”, pontuou.