Radioterapia terá nova grande demanda regional
Oito anos depois de conquistar, via Consulta Popular, o aparelho de radioterapia que hoje atende a 49 municípios, a área da saúde em Bento Gonçalves deve encabeçar, nos próximos meses, mais uma grande mobilização regional. Desta vez, a briga será para que o Estado destine mais R$ 950 mil para o serviço, operado pelo Hospital Tacchini e que, com o recurso, terá a tecnologia atualizada.
Se aprovada a verba, o atendimento no Tacchini – disponível tanto para o Sistema Único de Saúde (SUS) quanto para a rede privada – passará do atual modelo 3D para o formato conhecido como Radioterapia de Intensidade Modulada (IMRT, do inglês “Intensity Modulated Radiation Therapy”). A técnica é mais precisa que a atual e permite um tratamento com menos impacto em órgãos sadios em áreas próximas aos tumores atacados.
De acordo com o administrador do Tacchini, Armando Piletti, a instituição teria condições de colocar o IMRT em funcionamento sem necessitar de mudanças estruturais no prédio que abriga o equipamento. Antes disso, porém, seria necessário aguardar os trâmites de importação do material, que poderiam demorar 90 dias. Tudo, entretanto, dependerá do resultado da próxima eleição de prioridades de investimento do Estado por parte da população.
A nova demanda deve ser o principal foco da assembleia municipal que ocorre no dia 30, e que pode encaminhar a inclusão da proposta na cédula da votação, marcada para o período de 2 a 4 de junho. Na última segunda-feira, 14, o assunto já foi debatido em uma reunião preparatória realizada na Fundação Casa das Artes, que teve a presença de representantes da Secretaria Estadual de Planejamento, Gestão e Participação Cidadã (Seplag).
Mais envolvimento
No encontro desta semana, a coordenadora do Sistema Estadual de Participação Popular e Cidadã na Serra, Ana Maria Corso, destacou que o município precisa retomar o envolvimento de anos anteriores. “A assembleia que tivemos aqui no ano passado, com 39 pessoas, não traduz como vinha sendo a participação histórica de Bento no processo”, aponta. Os votos presenciais e virtuais em 2013, por sua vez, chegaram apenas à irrisória marca de 1.862 eleitores.
Em algumas assembleias já realizadas em municípios vizinhos, a cobrança por um novo hospital público regional, que poderia ser o já iniciado Hospital do Povo, em Bento, também começa a ganhar força. No encontro realizado em Garibaldi, no último dia 11, o tema figurou como projeto estratégico, que não tem alocação de recursos prevista na consulta.
Pendências do Estado
Em agosto de 2013, com base em levantamento do Conselho Regional de Desenvolvimento da Serra (Corede Serra) e atualizações do próprio governo do Estado na internet, o SERRANOSSA apresentou um dado importante para analisar a queda na participação de Bento no projeto: o débito de R$ 3,7 milhões do Executivo gaúcho com a cidade. Neste ano, segundo o Corede, o valor, que se refere a demandas ainda de 2004, caiu para cerca de R$ 2,8 milhões, após o encaminhamento de recursos para obras no Tacchini e aquisição de uma viatura para transporte de pessoal da Brigada Militar.
Ufrgs
Uma das novidades na votação deste ano pode ser a inclusão de uma pergunta sobre a localização do campus serrano da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). A proposição partiu do Corede. Apesar de garantir o núcleo na região, a Ufrgs ainda não definiu o local – motivo de campanhas e disputa, especialmente, entre Bento e Caxias nos últimos anos – e tampouco anunciou prazos para a instalação.
Consulta municipal
Ao mesmo tempo em que é discutida a importância de se retomar um envolvimento maior da comunidade bento-gonçalvense no processo de definição de parte dos investimentos do Estado, a prefeitura trabalha internamente em um modelo de participação popular para construção do orçamento. Segundo o prefeito Guilherme Pasin, a proposta que substituirá o Orçamento Participativo adotado pelo governo anterior, já deve ser debatida no segundo semestre deste ano, mas teria condições de funcionar de forma plena apenas a partir de 2015. “Vamos retomar esse trabalho quando tivermos certeza do que vamos poder oferecer à população. Isso significa estar com todas as contas em dia, principalmente, para não criar expectativas que talvez não tenhamos condições de alcançar. Mas temos várias possibilidades a discutir e vamos buscar uma ferramenta para isso”, garante Pasin.
Nova tecnologia: IMRT permite “esculpir” dose de radiação
Com o IMRT substituindo o 3D nas sessões de radioterapias oferecidas no Hospital Tacchini, em Bento Gonçalves, a capacidade de combater tumores causando menos impacto em outros órgãos saudáveis será ampliada. “O IMRT permite ‘esculpir’ a dose de radiação que será entregue. Com ele, a toxicidade tardia, que é aquela que apresenta resultados a partir de seis meses após o tratamento e influencia diretamente na qualidade de vida, pode reduzir significativamente”, explica a médica Débora Cristina Weschenfelder.
A necessidade de uso do IMRT, entretanto, dependerá da indicação médica para cada situação. Em casos mais simples, a tecnologia adotada pode se manter a mesma utilizada hoje. “Se o paciente necessitar apenas o 3D, certamente continuará tendo um tratamento de qualidade”, conclui Débora. Cada sessão de IMRT, contudo, demorará praticamente o dobro das atuais, passando de 10 para 20 minutos.
Reportagem: Jorge Bronzato Jr.
É proibida a reprodução, total ou parcial, do texto e de todo o conteúdo sem autorização expressa do Grupo SERRANOSSA.
Siga o SERRANOSSA!
Twitter: @SERRANOSSA
Facebook: Grupo SERRANOSSA
O SERRANOSSA não se responsabiliza pelas opiniões expressadas nos comentários publicados no portal.