Reciclagens encaram montanha de incertezas

Responsáveis por processar grande parte do lixo seco produzido em Bento Gonçalves, as oito associações de reciclagem que mantém convênios com a prefeitura encaram, principalmente desde o início deste ano, uma série de dúvidas quanto à manutenção dos trabalhos. Pelo menos seis delas ainda estão com os repasses de verbas públicas bloqueados, por não terem licença de operação. Na maioria, a ausência de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) é outro problema.

Nesta semana, o Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (Condema) votou – a pedido da secretaria do Meio Ambiente (Smmam) – os primeiros recursos do ano, que sairiam do caixa do Fundo e não da prefeitura. Somente as duas associações que estão regulares em seus locais de funcionamento, a JSA Vidros e a Jardim Glória, tiveram os pedidos financeiros aprovados, e terão depósitos retroativos ao primeiro trimestre, com R$ 4 mil e R$ 6 mil para cada mês, respectivamente.

De acordo com o presidente do Condema, Luiz Ricardo Espeiorin, o aviso já havia sido dado ainda no ano passado. “O Conselho avisou que, naquela época, aprovaria pela última vez os repasses para todos. Depois, ganhariam somente os que estivesse regulares. É inadmissível que a gente aprove verbas para os que não têm licenciamento ambiental, por exemplo”, ressalta.

Há poucos dias, o próprio Condema remeteu à Smmam um ofício solicitando informações a respeito da situação de cada uma das seis associações impedidas de acessar dinheiro público. A resposta ao documento indicará quais precisarão promover adequações mais significativas e, nos casos menos complexos, poderá agilizar os repasses. “Para as que tiverem a possibilidade de licenciamento, poderemos fazer uma reunião extraordinária e aprovar os recursos com o processo em andamento. As que não estiverem em locais passíveis de regularização precisarão se mudar”, completa Espeiorin.

Para o presidente do colegiado, a situação das recicladoras em Bento não tende a melhorar significativamente em pouco tempo, mas é preciso pensar em começar a reverter o quadro atual. “Não vejo uma perspectiva muito positiva para os próximos anos. Mas eu espero que haja uma mudança e que não parta somente do Conselho, porque ele não vai conseguir modificar um sistema que está assim há tanto tempo. Depende da prefeitura e também das associações”, conclui.


Sem segurança

Em meio às incertezas, muitos trabalhadores encaram, ainda, as dificuldades diárias de uma atividade que nem sempre é executada com as condições ideais. Em visita a algumas das recicladoras, a reportagem do SERRANOSSA constatou facilmente a ausência de equipamentos de proteção, como luvas, aventais ou calçados adequados. “A gente usa o que acha no lixo, vai se virando com o que tem. Mas, a cada pouco, aparece um com o pé cortado aqui. ‘Tá’ feia a coisa”, diz Luis da Silva, o Dinho, tesoureiro da Associação de Recicladores Universitário. 

Na vizinha Progresso, que tem o pavilhão ao lado, a situação é ainda mais crítica. “O pessoal sempre pede pelo menos luvas, que seria o básico, mas fica difícil comprar porque é muito caro”, conta a presidente da associação, Mari Cleuza Siqueira. As duas também reclamam que, neste ano, ainda não receberam o rancho que até 2013 estava sendo encaminhado pela prefeitura aos grupos.


De 12% para 30%

O secretário de Meio Ambiente, Luiz Augusto Signor, afirma que não cabe ao Poder Público comprar os EPIs solicitados pelos grupos de recicladores. Segundo ele, os repasses da prefeitura deveriam ser utilizados também para essa finalidade. Quanto às associações que enfrentam problemas como a licença de operação, justamente o que travou o encaminhamento de verbas, Signor ressalta que elas deverão promover a regularização dos espaços. “Não tem outro caminho, eles terão que se adequar”, avalia.

Mesmo assim, o secretário apresenta uma expectativa bastante otimista para os próximos meses em Bento. De acordo com Signor, até setembro, o objetivo é saltar de 12% para 30% de lixo reciclado na cidade, com a execução de um projeto que terá escolas e clubes de serviços como parceiros. A proposta prevê visitas a famílias em todos os bairros e a distribuição de material informativo à comunidade. “Vamos ter uma melhora significativa em quantidade e também em qualidade, o que irá refletir diretamente no trabalho das recicladoras”, projeta Signor.

Reportagem: Jorge Bronzato Jr.


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