Rede coletora da bacia do Barracão pela metade

Iniciadas em setembro de 2011, as obras de implantação da rede coletora de esgoto na bacia hidrográfica do Barracão, que compreende bairros como Imigrante, Santa Helena, Fátima e Santo Antão, avançaram pouco além da metade do que estava previsto no contrato entre a prefeitura de Bento Gonçalves e a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan). De acordo com dados apresentados nesta semana na Câmara de Vereadores pelo superintendente regional da estatal, Alexsander Pacico, apenas 53% da instalação estão concluídos após 30 meses de trabalho. Um dos seis lotes está começando somente agora e outros quatro já extrapolaram os prazos originais.

O lote de número 5, que contempla a construção da Estação de Tratamento de Efluentes (ETE), e cuja obra deveria correr de forma paralela à abertura de ruas para a colocação da tubulação, ainda não iniciou. O projeto foi paralisado em dezembro de 2012, após a descoberta de um muro colonial de pedras no terreno escolhido para o empreendimento, que poderia abrigar um sítio arqueológico. Desde então, a Corsan esperou um posicionamento do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que só veio nos últimos dias, autorizando o prosseguimento dos trabalhos. A nova promessa é de que em cerca de 30 dias, a obra seja retomada – o prazo de conclusão, entretanto, é de dois anos, o que indica que o tratamento efetivo de esgoto deva reiniciar somente em 2016.

De acordo com Pacico, um dos problemas que têm afetado diretamente o andamento da instalação da rede coletora é o relevo bento-gonçalvense. Há casos em que os canos chegam a ser alojados a até sete metros de profundidade, exigindo a detonação de rochas. “É claro que temos alguns momentos em que vai andar mais rápido, mas o que temos aqui é a pior obra de infraestrutura que um município pode enfrentar”, argumenta o superintendente.

Questionado por vereadores sobre constantes rompimentos no sistema de abastecimento de água, Pacico também afirmou que a topografia é um dos componentes que mais contribuem. “Bento, hoje, dos 400 quilômetros de adutoras, tem apenas 15 que são antigos, de fibrocimento. O restante é de PVC, de primeira linha. Mas é difícil operar o sistema. Primeiro, precisamos de uma grande força para que a água chegue à Estação de Tratamento, no bairro Planalto, e são 200 metros de desnível. Depois, quando ela vai para bairros como Fenavinho, temos que ter válvulas redutoras, porque a pressão é muito grande. Tentamos fazer o melhor, mas nem sempre é suficiente”, pondera Pacico.

Prazo descumprido

As metas do Plano Municipal de Saneamento, aprovado em 2010, previam que, ainda no final de 2011, Bento já deveria ter coleta e tratamento de pelo menos 20% dos efluentes gerados no município. Em 2012, seriam 30% e, no ano passado, 60%. Ao final de 2014, 65% do esgoto de Bento deveria passar por tratamento, mas o serviço ainda não saiu do zero.

Atrasos

No início de novembro de 2013, a reportagem do SERRANOSSA ouviu a empresa Bripaza, que mantém com o Poder Público contratos de quatro dos seis lotes de obras na bacia do Barracão. Alguns dias antes, no Legislativo, o vereador Gilmar Pessuto (PSDB) havia afirmado que os trabalhos executados pela companhia estavam parados em função de atrasos em pagamentos por parte da Caixa Econômica Federal, financiadora dos R$ 26 milhões que serão investidos pela Corsan naquela região da cidade. O diretor, José Ângelo Baldissera Schuvartz, garantiu na época que as equipes se mantiveram em campo, mas tinham deixado de realizar novas escavações para recuperar trechos que apresentaram problemas na repavimentação. A colocação de tubos iniciaria ainda naquele mês, mas, conforme Pessuto, só teria sido retomada há alguns dias. 

Nesta semana, por telefone, Schuvartz garantiu que a Bripaza manteve escavações nos últimos meses, mas em um ritmo mais lento do que o habitual. O motivo foi a necessidade de revisão nas planilhas orçamentárias, para aditivos e supressões de alguns itens, situações que foram verificadas no decorrer das atividades e agora devem ser atualizadas em contrato. 

Os ajustes em um dos lotes devem ser assinados ainda março, fazendo com que as intervenções nas ruas retomem gradativamente ao ritmo de trabalho normal. Os demais serão efetivados em, no máximo, 60 dias, diz Schuvartz. “Isso não implicará em uma mudança em termos de valores, mas nós precisamos dessa revisão para depois poder fazer a medição correta e receber os próximos pagamentos sem problemas. Também temos que pensar em nosso fôlego financeiro. Nós sabemos que vamos receber, a questão sempre é saber quando”, destaca o diretor. No último dia 14, a empresa também recebeu um passivo de aproximadamente R$ 800 mil, referente a serviços já executados.

Burati

A Corsan já tem garantidos R$ 49 milhões para obras na bacia de captação do Burati, a segunda etapa de instalação do sistema de tratamento de esgoto em Bento, e que abrange, inclusive, a região central da cidade. A projeção – apresentada pelo presidente da autarquia, Tarcisio Zimmermann, que visitou Bento em meados de janeiro – é iniciar as obras ainda neste ano, com estimativa de conclusão no início de 2017. A estatal já está adiantando alguns investimentos próprios, como a aplicação de R$ 500 mil para aquisição de tubos e R$ 1,5 milhão para contratação do serviço socioambiental a ser desenvolvido na área.

Estudos

Segundo Pacico, a Corsan já contratou uma empresa para realizar estudos sobre o sistema de água e esgoto em Bento Gonçalves, ao custo de R$ 1,2 milhão. O resultado da análise deve indicar a necessidade de projetos essenciais para as próximas décadas. “Chegou a hora de olhar Bento de cima, pensar ações para os próximos 40 anos. Um dos pontos é projetar de onde virá nossa água, talvez tenhamos que ter uma nova barragem”, conclui o superintendente.

Metas do Plano de Saneamento

Confira o cronograma original do programa de tratamento de esgoto em Bento, que ainda não tem nenhuma das metas cumprida:

Curto prazo
Dezembro de 2011: 20% 
Dezembro de 2012: 30%  
Dezembro de 2013: 60% 
Dezembro de 2014: 65%

Médio prazo
Dezembro de 2015: 70% 
Dezembro de 2016: 75% 
Dezembro de 2017: 80% 
Dezembro de 2018: 85% 
Dezembro de 2019: 90%

Longo prazo 
Dezembro de 2024: 95%

Reportagem: Jorge Bronzato Jr.

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