Reinvenção: empresárias mudam de segmento para enfrentar a crise

Reinventar-se. Essa tem sido a solução para muitos empreendedores da região da Serra Gaúcha em meio à crise causada pela pandemia do novo Coronavírus. As restrições impostas pelos decretos municipais e estaduais ocasionaram o fechamento de diversos estabelecimentos. Alguns estão fechados desde a metade do mês de março e ainda não conseguiram retomar suas atividades. 

É o caso do setor de entretenimento. A empresária Andrea Biasotto é proprietária da Kid Play, uma empresa de recreação localizada no Shopping Bento Gonçalves e de seis parques itinerantes que são montados em todo o Brasil. Além disso, ela trabalha com a realização de festas infantis. Desde o dia 18 de março, entretanto, ela viu seus negócios serem totalmente paralisados, sem qualquer previsão de retorno. “No ano passado nós investimos muito em brinquedos. Todos os nossos investimentos estão dentro desse ramo”, lamenta Andrea. 

Após a necessidade do fechamento da recreação e dos parques e do cancelamento de festas, ela conta que tentou pensar em uma solução para garantir seu sustento e de sua família, que fosse dentro do ramo infantil. “A gente chegou a lançar as festas on-line, nas quais as pessoas se encontram em uma plataforma e nós enviamos um ‘kit festa’ para todos os convidados. E tem um personagem on-line, escolhido pelo aniversariante, que interage com os convidados. Mas não teve muita procura”, relata a empresária. “Também pedi para o shopping para a gente vender livros ou jogos, mas eles acharam que não seria legal, porque outros lojistas que trabalham lá já vendem esses produtos”, complementa. 

Diante de um cenário desanimador, a solução para garantir um sustento em meio à crise foi mudar totalmente de segmento. “Então eu decidi: vou vender bolo. Mas eu não posso vender qualquer produto alimentício sem um licenciamento, então fui atrás de um fornecedor. Bati na porta da equipe da Kidelizz, que é minha parceira há dez anos, e já estou vendendo bolos há mais de 15 dias. O dono foi muito acolhedor. Já o Shopping Bento me cedeu um espaço nobre para eu conseguir montar um quiosque. São nesses momentos que a gente percebe quem realmente está do nosso lado. Quantas pessoas queridas existem ao nosso redor”, analisa Andrea. 


 

Desde então, a empresária tem recebido os bolos todas as manhãs e tem dado um toque especial, com a ajuda da mãe, Teresa Duarte. “A cobertura a gente faz, com uma receita antiga dela, de família. Por isso demos o nome de ‘Bolos da Vovó Teresa’, em homenagem a ela. E também estou tendo a ajuda do meu filho Eduardo Valcarenghi e do meu noivo, Gotardo Nicolao”, comenta. 

Desde então, Andrea já vendeu mais de 200 bolos no quiosque do shopping e por meio de tele-entrega. Segundo a empresária, mais do que uma maneira para garantir uma renda em meio à pandemia, a iniciativa tem proporcionado uma série de aprendizados. “Não é pelo dinheiro. É uma forma de a gente não parar, de manter contato com as pessoas e de se fazer visível. Nós formamos a ‘corrente do bolo’, com pessoas comprando todos os dias para nos ajudar. E nós também estamos conversando com outros que se inspiraram na nossa ideia. Com certeza, depois dessa experiência, nós iremos sair bem mais fortes, dando valor para muitas pessoas, vestindo a camiseta da solidariedade e da humildade”, finaliza Andrea. 

Escolinha vira padaria

Outro setor que está parado desde o início da pandemia é o da educação. Em Bento Gonçalves, diversas escolas particulares se viram diante de um cenário de cancelamento de mensalidades e da necessidade de descontos, a fim de auxiliar pais e/ou responsáveis. A proprietária da escolinha Officina da Criança, Paula Araújo, afirma que a nova realidade da instituição inviabilizou o pagamento das colaboradoras – que trabalham há anos no local. “A escola tem uma equipe muito antiga. Eu não tinha como deixar minhas professoras na mão, não podia demiti-las, por uma questão de empatia”, declara.

A solução encontrada para superar a crise tem se tornado cada vez mais popular entre a comunidade: a fabricação de pães. Também proprietária da loja Maria Fulana, Paula vem utilizando o pão como simbologia de afeto desde o início da pandemia. “Quando a loja fechou eu pensei em fazer algo para entregar na casa dos clientes, para as crianças. Achei que não seria hora de mandar roupa, então comecei a mandar pãezinhos. Era o pãozinho do bem”, relata Paula. 


 

Com a ideia em mente e uma equipe disposta a ajudar, a escolinha viu sua cozinha se transformar em padaria. “Eu e as 13 colaboradoras começamos a fazer pães na semana passada. No início criamos um grupo no WhatsApp e vendíamos para os pais. Depois a ideia foi se espalhando e agora recebemos pedido de toda comunidade. Fazemos uma média de 60 pães por dia. E logo vamos começar a fazer capeletti também”, conta, com animação. 

Assim como o exemplo da empresária Andrea Biasotto, Paula também afirma que a experiência está sendo uma verdadeira jornada de aprendizado. “Minha lição é de humildade. De me renovar e nunca deixar ninguém na mão”, conclui. 

Ficou interessado nos bolos da Vovó Teresa? Entre em contato pelo (54) 99124 5543. Para comprar os pães da Officina da Criança, o telefone é o (54) 99605 0580.

Fotos: Arquivo Pessoal