Reportagem mostra como está a sinalização da ERS-431, onde mais um acidente fatal ocorreu nesta semana

Um dia após mais um acidente fatal no km 9 da ERS-431, rodovia que passa pelo distrito de Faria Lemos, interior de Bento Gonçalves, e leva à linha Alcântara, o cenário é um misto de tristeza e angústia. Milhares de cacos de vidro dividem espaço com muita lama fedorenta no que era um pequeno açude da propriedade onde uma carreta tombou após uma curva acentuada. O SERRANOSSA percorreu o trecho em busca de explicações para o que pode causar tanta tragédia em um mesmo ponto – desde outubro de 2017 foram seis mortes, incluindo a de uma criança de seis anos. Nesta mesma propriedade, é o segundo capotamento fatal.

 


Placas indicando peso máximo de caminhões que circulam no trecho estão instaladas desde os primeiros quilômetros da ERS-431

 

A rodovia começa no entroncamento com a BR-470, sentido Veranópolis. Os alertas de que o trânsito é permitido para caminhões de no máximo 45 toneladas começa logo nos primeiros quilômetros, entretanto, praticamente não há locais com ângulo suficiente para manobra de retorno. Até o ponto fatídico são pelo menos 2 placas indicativas de que veículos cujo peso total ultrapasse 45 toneladas não são permitidos. Por volta do km 4 – 5km antes do ponto em que a maioria dos acidentes ocorre – começam a aparecer placas indicativas de que existe um declive acentuado. Duas estão legíveis e uma completamente descascada. Em alguns pontos da rodovia há sinalização horizontal indicando redução de velocidade para 30km/h.


Sinalização horizontal indica curvas acentuadas e necessidade de redução de velocidade

 


Sinalização horizontal indica curvas acentuadas e necessidade de redução de velocidade 

 


Pelo menos duas placas que indicam orientação de uso de freio motor estão instaladas no trecho próximo ao declive acentuado onde ocorrem os acidentes

 


Uma das placas, no entanto, está totalmente ilegível

 

Segundo moradores da região, os veículos de grande porte que se acidentam, em geral, não estão trafegando em velocidade acentuada – no caso da última quinta-feira, dia 16, um morador da localidade, Neco Cobalchini, afirmou ao SERRANOSSA que a velocidade da carreta deveria ser em torno de 30km/h pouco antes do capotamento. Entretanto, ele teria visto fumaça saindo dos pneus, o que indica possível superaquecimento dos freios.

“Muitos motoristas vem por aqui indicados pelo GPS e desconhecem o nível do aclive, a maioria é de fora da região. Quando chegam no trecho final, de cerca de 3km, justamente a descida mais acentuada, os freios não aguentam. Esses dias consegui sinalizar e convencer um motorista de Passo Fundo do perigo quando percebi a fumaça nos pneus e ele parou. ‘Barranqueou´ o caminhão e eu falei ‘salvei a tua vida’ e ele agradeceu”, conta Cobalchini.

“Barranquear”, segundo ele, é a tática de tirar o caminhão da estrada, indo em direção à valeta que fica no lado direito da pista. Isso pode danificar a lataria e a carroceria, mas pode ajudar a reduzir a velocidade quando o caminhão perde a potência dos freios. “Sempre que eu percebo a fumaça, como foi o caso de ontem, eu sinalizo, começo a gritar, faço sinal para que o motorista reduza a velocidade, mas nem sempre eles me escutam. Infelizmente em alguns casos o estouro acontece em seguida”, lamenta.

Relembre o acidente: https://serranossa.com.br/noticia/seguranca/83610/caminhoneiro-morre-em-acidente-na-ers-431