Representantes da Funai tentam resolver impasse

A proposta da prefeitura de acolher com mais dignidade os indígenas que, costumeiramente, chegam a Bento Gonçalves no final de ano não surtiu o efeito desejado. Em meados de novembro, a administração municipal começou a preparação de um terreno no bairro São Roque, próximo ao entroncamento da RSC-470 que leva à linha Eulália, com a expectativa de evitar que eles voltassem a acampar no entorno da Pipa Pórtico, o que mais uma vez ocorreu. 

Nesta sexta-feira, 20, representantes regionais da Fundação Nacional do Índio (Funai) vêm a Bento para tentar resolver a situação, em discussão com a secretaria municipal de Habitação e Assistência Social (Semhas) e o Ministério Público Federal (MPF). A reunião está marcada para as 14h.

O grupo chegou à cidade há cerca de duas semanas e, como o local em que normalmente se instalava – perto da entrada principal do município – foi obstruído com montes de pedra, ergueu as barracas do outro lado da pista, onde há um gramado. Durante o dia, é comum ver crianças dormindo ou brincando enquanto os mais velhos cozinham em fogões improvisados.

A poucos metros dali, uma fonte junto ao trevo de acesso é usada para banhos e lavagem de roupas, que depois ficam estendidas em arbustos à beira da estrada. Em meio a esse contexto, a venda dos produtos de artesanato, principal justificativa para a vinda e permanência deles em Bento, é mantida praticamente em segundo plano.

Enquanto isso, no lado norte da cidade, a área que os abrigaria, e que teria sido visitada e aprovada por representantes dos caingangues anteriormente, segue inabitada. Para preparar o terreno, a prefeitura derrubou eucaliptos e abriu uma clareira no mato, onde foi colocada uma grande quantidade de brita, instalou um poste de luz e um reservatório de água com uma torneira. A movimentação causou polêmica na internet, com a divulgação de fotos da derrubada das plantas.

De acordo com a secretária Rosali Faccio Fornazier, há resistência dos indígenas até para dialogar com equipes do departamento. “Não conseguimos conversar com eles, para tentar uma solução amigável. E não podemos nos precipitar, tentar forçá-los. Mas a Funai tem condições de resolver tudo e, pelo que nos disseram, se eles não cumprirem as ordens deles, vão ter que voltar para as aldeias de origem”, destaca.

Esmolas no Centro

Outra situação que voltou a se repetir é a presença de crianças indígenas pedindo esmola no Centro. Em anos anteriores, o semáforo nos arredores da praça Vico Barbieri era o ponto mais frequentado pelos pequenos que pedem moedas aos motoristas – agora, contudo, eles são vistos em horários de pico em locais ainda mais movimentados, como a rua Marechal Floriano. No final da tarde, parte do grupo costuma se instalar nos fundos da Estação Rodoviária, onde passa a noite.

A necessidade de destinar um local específico para o grupo surgiu de negociações entre o governo e o Ministério Público Federal e foi cogitada ainda no início de 2012. Como próximo passo, a prefeitura pretendia ajardinar a área escolhida e até sinalizá-la como sendo de acampamento indígena, já que eles também costumam retornar na Páscoa. A reportagem do SERRANOSSA tentou, durante a manhã de quarta-feira, 18, contato com o procurador federal Alexandre Schneider, que conduz um inquérito sobre o assunto, mas ele não foi encontrado.

Reportagem: Jorge Bronzato Jr.


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