Residencial Novo Futuro: “O sonho virou pesadelo”
O que era para ser um novo lar para 420 famílias, está trazendo dor de cabeça para muitas famílias. “O sonho virou pesadelo”, define uma das moradoras do residencial Novo Futuro, localizado no bairro Ouro Verde, em Bento Gonçalves. Quatro meses depois da inauguração, a situação dentro do condomínio é bastante delicada. Brigas, gritarias, atos de vandalismo e até tráfico de drogas são apontados pelos moradores como os principais problemas enfrentados. Nos finais de semana, a Brigada Militar chega a ser acionada de cinco a seis vezes por dia para intervir no local.
Esses motivos fizeram com que os moradores do entorno apelidassem o residencial de “Carandiru”, fazendo referência à Casa de Detenção de São Paulo, famosa penitenciária desativada em 2002. Na segunda-feira, dia 5, quando a equipe do SERRANOSSA esteve no local, para produzir as fotos desta reportagem, foi abordada por diversos moradores que fizeram denúncias, demonstrando estarem bastante descontentes. Palavras como vergonha e medo estavam presentes na maioria dos relatos (veja quadro).
Entretanto, o descontentamento não é comum a todos os moradores. “Depois do nascimento do meu filho, foi a melhor coisa que me aconteceu”, relata Chaiane da Silva. “Quando escuto alguém chamar o Novo Futuro de ‘Carandiru’, defendo o lugar onde moro e explico que eles estão desinformados. A situação é bem tranquila. As brigas que acontecem são mínimas”, comenta.
Conduta social
Para o subcomandante do 3º Batalhão de Policiamento de Áreas Turísticas (3º Bpat), Reni Onírio Zdruikoski, a maioria dos problemas não é caso de polícia, mas de conduta social. “São consequências de questões que não foram bem trabalhadas”, acredita. Zdruikoski defende uma ação conjunta entre diversos órgãos para tentar solucionar os conflitos antes que a situação fique pior. “Não se pode ficar jogando a bomba de um lado para o outro. É preciso buscar soluções”, pondera.
A Brigada Militar (BM) não pode atender a todos os chamados no local. Quando o deslocamento é realizado, porém, nem sempre é possível realizar o flagrante, o que impede ações concretas. Os moradores já acionaram a BM, inclusive, em casos no mínimo curiosos, como a denúncia de que um condômino estaria retirando água do chafariz para economizar na própria conta de água. “Entendemos que os moradores fiquem desesperados diante de algumas situações, mas infelizmente não podemos atuar em todas as áreas”, comenta o comandante da 1ª Companhia do 3º Bpat, Capitão Evandro José Flores. Por ser uma área privada, não é possível fazer o policiamento no interior do condomínio, pois o trabalho da corporação é em prol da segurança pública. Em chamadas que envolvem crimes e contravenção penal, a Brigada Militar age de acordo com os encaminhamentos previstos na lei.
Para prefeitura, situação é comum
De acordo com o diretor do Departamento de Habitação da Secretaria Municipal de Habitação e Assistência Social (Semhas), Volmir Dall’Agnol, os problemas verificados no Novo Futuro são comuns em qualquer condomínio. “A situação está sob controle. Tem pessoas que estão criando um bicho de sete cabeças onde não teria motivo”, afirma. Segundo ele, o residencial é um condomínio particular como qualquer outro, com a diferença de que a construção foi viabilizada com recursos do governo federal e do município.
Alguns problemas enfrentados já foram solucionados, como o caso de um morador que foi preso e de outra adolescente usuária de crack que teria sido encaminhada para reabilitação. Dos 420 apartamentos, apenas dois estão vagos, pois as famílias foram desclassificadas de acordo com os critérios da Caixa Econômica Federal. Outras famílias estão passando por processo de seleção para preencher essas vagas. Dall’Agnol diz estar contente com o resultado do empreendimento.
Antes das mudanças, a Semhas desenvolveu um trabalho social com as famílias, através do qual explicou as regras do condomínio e abordou questões como a importância da reciclagem de lixo. Além disso, periodicamente uma assistente social da Caixa vai até o residencial para fazer acompanhamento com os moradores. Entretanto Dall’Agnol defende que o condomínio deve ser autogerenciável e ter os problemas resolvidos internamente. Ele acredita que dentro de seis ou sete meses as reclamações e os problemas diminuam.
Na próxima semana serão entregues os carnês do Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU) aos moradores do Novo Futuro. O diretor de habitação explica que será feito um trabalho de conscientização sobre a importância do pagamento do tributo, já que para muitas famílias que antes viviam em área de risco é a primeira vez em que a cobrança será efetuada. Segundo ele, as famílias já foram conscientizadas sobre a importância de pagar o condomínio e estar em dia com as parcelas do imóvel junto à Caixa. “Quem não quitar a dívida, não receberá a escritura do imóvel no futuro”, destaca.
Reclamações dos moradores
“Já vi crianças recebendo balas junto a pedras de crack”.
“Toda a semana tem briga. Na última vez que teve uma discussão séria no pátio tinha inclusive moradores armados”.
“Sonhei tanto com isso, mas agora sinto vergonha”.
“Soube que muitas famílias estão se recusando a pagar condomínio. O fundo reserva teve que ser usado para cobrir essas dívidas”.
“Até pegarmos a chave foi uma realidade, depois que viemos morar aqui é outra”.
“Já pensei diversas vezes em sair daqui. Só não saio porque estou pagando por algo meu não dependo mais do aluguel”.
“Não deixo meu filho sair para brincar no pátio, pois tenho medo de que algo possa acontecer com ele”.
“Coloquei grades ao redor da janela, com medo de que alguém entre no apartamento para roubar em troca de droga”.
“Não falo que moro no Novo Futuro. Falo apenas que moro no Ouro Verde por vergonha”.
“Embora o problema exista, os moradores sentem receio em tocar no assunto nas reuniões com a assistente social por medo de repreensão”.
Saiba mais
O Residencial Novo Futuro foi construído através do Programa Minha Casa Minha Vida, financiando pela Caixa Econômica Federal. A inauguração aconteceu no dia 6 de novembro de 2011. O residencial destina-se a famílias em diversas situações, priorizando as que possuem idosos, pessoas com deficiência, que são chefiadas por mulheres e que estão em situação de risco. A seleção foi feita de acordo com a renda familiar. O empreendimento é composto por 20 prédios, que ocupam uma área de 2,2 hectares. Cada apartamento conta com 44m² de área e possui dois quartos, sala e cozinha, banheiro e área de serviço.
Reportagem: Carina Furlanetto
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