Retomada do crescimento ainda é incerta
As incertezas no meio político também afetam o cenário econômico do país. A crise que assola o país nos últimos anos e que se agravou em 2016 segue tendo reflexos negativos nos números dos diversos setores empresariais. A aposta para driblá-la, na visão dos empresários, é manter os investimentos, como foco especialmente em competitividade e soluções criativas que possam não apenas a minimizar os prejuízos financeiros, mas também evitar novas demissões. Confira o que as lideranças de entidades e sindicatos locais disseram ao SERRANOSSA.
Henrique Tecchio, presidente do Sindmóveis
“A desaceleração econômica generalizada da economia brasileira, alta da inflação, diminuição do crédito e aumento de incertezas políticas e econômicas afetaram o desempenho do polo moveleiro de Bento Gonçalves. Além disso, enfrentamos uma série de dificuldades como o precário ambiente de negócios, burocracia, impostos e falta de infraestrutura, que comprometem a competitividade de toda a indústria brasileira. O fechamento de postos no setor moveleiro começou há mais de dois anos na região. Iniciamos o ano de 2014 com 8.973 empregos diretos na indústria moveleira de Bento Gonçalves. Em 31 de maio, estávamos com 6.959”, detalha o presidente do Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Bento Gonçalves (Sindmóveis), Henrique Tecchio. Ele conta que 2012 foi o último ano com balanço positivo para o polo moveleiro de Bento Gonçalves, tendo, inclusive, resultados superiores à produção industrial como um todo naquele período. “No ano seguinte, o saldo nominal já beirou os 3%, o que não representa um crescimento real, considerando o aumento dos custos de produção. Em 2015, houve uma queda nominal de 13,4% em comparação ao ano de 2014. Ou seja, o cenário vem se agravando e exigindo cada vez mais das empresas em se tratando de planejamento, redução dos custos de operação e busca de novos mercados”. Entre as medidas que estão sendo tomadas pela entidade para minimizar os impactos da crise, Tecchio cita o investimento na diversificação de mercados e estratégias de promoção comercial. “A própria Movelsul Brasil é uma dessas ações. Adicionalmente, o Sindmóveis promove o design, tecnologia e sustentabilidade do setor moveleiro. Nesse sentido, as ações como o Salão Design, premiação nacional de design realizada desde 1988, o Comitê Internacional, iniciativa promovida para estudar e ampliar a atuação no mercado externo, e o Projeto Orchestra Brasil, de promoção às exportações dos fornecedores da cadeia moveleira, com o Projeto Raiz de promoção comercial internacional aos designers de móveis, têm como objetivo aumentar a competitividade das indústrias moveleiras valorizando tais atributos”, argumenta. Quanto às perspectivas de recuperação, Tecchio estima que não deva ocorrer neste ano. “O desempenho negativo generalizado está afetando de forma aguda os empregos no setor. Não existe uma previsão de que os níveis de contratação e produção sejam retomados neste ano. As empresas que têm conseguido evitar demissões o fazem com a redução de jornada e utilização dos bancos de horas. O trabalho delas tem sido voltado a mitigar os efeitos da crise evitando o máximo novas demissões”, comenta.
Laudir Miguel Piccoli, presidente do CIC
“De forma geral, é possível dizer que a crise afetou sim e profundamente as empresas locais. Há empresas que perderam muito mercado, que acabaram tendo que demitir profissionais e que encontram dificuldades para se reencontrar”, comenta o presidente do Centro de Indústria e Comércio de Bento Gonçalves (CIC-BG). Como a entidade congrega vários setores, segundo ele, é difícil analisar de forma isolada um único setor da economia local ou regional. “As dificuldades existem e sempre existirão. Essa não é a primeira e nem a última crise econômica brasileira. O que percebemos é que Bento Gonçalves é muito diferenciada mesmo. Possuímos uma matriz econômica diversificada e dinâmica. Há empresas de tecnologia crescendo, há empresas de móveis que retomaram suas exportações, o setor de turismo é maduro e consegue crescer em meio aos problemas, o setor de vinhos desponta e solidifica no mercado brasileiro”, acrescenta. Tanto trabalhadores como empresários precisam adaptar-se para sobreviver. “Os ajustes necessários agora serão a sobra depois que esse período passar”, acredita. O foco dos esforços tem sido o apoio às reivindicações das entidades setoriais. “Um dos principais legados das entidades locais ao longo dos últimos anos – e isso inclui muitas gestões do CIC, por exemplo – foi o alinhamento profundo entre as ações de classe. Hoje atuamos fortemente para gerar melhorias por meio da interferência privada na área de segurança. A ExpoBento é um ótimo exemplo de ação que minimiza crise, fortalecendo vendas diretas. Além disso, o CIC vem atuando com força em um aspecto que representa um dos maiores gargalos para a produção brasileira, de forma geral: formação de lideranças e retenção de talentos. Nesse ano implantamos o programa Claro que Podemos. Tratam-se de treinamentos focados na liderança”, explica. Ele ressalta que para minimizar crises e enfrentar períodos de forte mudança –que culminará com maior presença externa e maior competitividade no mercado interno – não bastam ações de entidades. “O empresário precisa se reinventar constantemente, produzir mais, com custos menores e chegar ao mercado com produtos mais competitivos e de maior qualidade. Só isso irá garantir a perenidade de negócios. Depende, sobretudo, de nós mesmos. Nesse sentido o CIC realiza tradicionalmente palestras e cursos que buscam mostrar como é possível competir em cenários variados e como existem sim oportunidades de negócios e de crescimento”, destaca. No cenário macro, Piccoli acredita que há perspectivas de melhora. “Em setores específicos é difícil avaliarmos. Por exemplo, não sabemos direito quando a melhoria na macro economia afetará o setor moveleiro. O certo é que há claros sinais de melhora no cenário macro brasileiro. E já acompanhávamos o crescimento substancial em setores como o de tecnologia, que possui algumas empresas muito fortes no município. Acreditamos em uma estabilização no curto prazo, a partir dos próximos dois meses – principalmente pela sazonalidade de setores importantes, como móveis e vinhos. Em 2017 acreditamos em crescimento econômico e retomada do emprego de forma gradual”, finaliza.
Juarez Piva, presidente do Simmme
“A crise no ano de 2015 para o setor metalmecânico foi muito severa. As empresas sofreram uma drástica redução no número de pedidos recebidos e, por consequência, houve o corte em investimentos nas mais diversas áreas. Não somente os empresários, mas todos os envolvidos com a cadeia produtiva voltaram a sentir medo da inflação. Em 2014 o faturamento do setor metalomecânico, em nossa base territorial (Bento Gonçalves, Monte Belo do Sul e Santa Tereza), girava em torno de R$ 1 bilhão. Em 2015, esse montante reduziu para R$ 790 milhões, representando uma queda de 27% no faturamento. A consequência foi sentida com a redução no quadro de funcionários, que diminuiu 23%”, analisa Juarez Piva, presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Bento Gonçalves (Simmme). Ele avalia que, a curto prazo, não há muito que possa ser feito para minimizar os efeitos da crise. “Infelizmente não temos nem perspectivas. A médio prazo, algumas medidas talvez possam fazer com que sintamos alguma melhora, como a redução de taxa de juros, o aumento no prazo de pagamento dos impostos e medidas políticas que tragam confiança para investimentos com a observância de garantia dos contratos vigentes. Já a longo prazo, o Brasil precisa passar por uma reforma política para dar condições de mexer na carga tributária, realizar a reforma trabalhista, promover investimentos em infraestrutura e a diminuição da burocracia instalada no país”, comenta. Apesar da falta de perspectivas, Piva acredita em uma recuperação. “Não tenho dúvidas de que o setor irá se recuperar, mas não sei por quanto tempo nós ainda teremos que pagar esta conta que ficou muito alta nos bolsos dos brasileiros. O Estado deverá reduzir muito as suas despesas, gastando menos e melhor. Não fomos atingidos como Caxias do Sul, pois nossa economia é bem diversificada. Temos diversos segmentos que atendem a diversos setores e podemos driblar a crise com um pouco mais de criatividade, atendendo outras regiões ou outros países”, finaliza.
Volnei Benini, presidente da Movergs
“A crise afetou principalmente as vendas. O consumidor deixou de ter remuneração ou emprego e ficou com receio de gastar e não está consumindo”, diz Volnei Benini, presidente da Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do Sul (Movergs). Segundo dados apresentados pelo economista Marcelo Prado no 26º Congresso Movergs, realizado em junho, no Brasil a produção recuou 8,9% em 2015, resultando na perda de mais de 23 mil empregos. Desde 2005 a produção acumula um avanço de 46%, mas em 2015 recuou aos níveis registrados em 2011 (430 milhões de peças). “Estamos tentando fazer mais com menos, buscando novos produtos, mais design, mais produtividade e melhorar as exportações. É um somatório de ações que estão sendo feitas. É o que o setor indica, mas nem todas as empresas estão fazendo. É o momento de investir em novas tecnologias, design, infraestrutura e novos produtos. Enquanto não for resolvida a questão política nacional, vamos ter entraves para que a economia possa voltar a dar alguns sinais de recuperação. Ela já deu alguns sinais, mas ainda são incipientes. Se alguma decisão for tomada em agosto, acredito que no terceiro trimestre possa ter uma melhora na questão do consumo”, analisa.