Retorno do Ensino Médio em Bento tem baixa adesão de alunos

No começo deste mês, o governo do Rio Grande do Sul divulgou um novo calendário para a volta às aulas no Estado. Na ocasião, deixou claro que a retomada não era uma exigência, devendo ser avaliada individualmente pelos municípios. Em Bento Gonçalves, a administração municipal está seguindo as datas propostas, com a então liberação do ensino infantil nos dias 08/09 e 14/09 e, nesta semana, com a liberação do Ensino Médio, Superior e Técnico. 

Na segunda-feira, 21/09, a Escola Alfredo Aveline abriu suas salas de aula para os primeiros, segundos e terceiros anos do Ensino Médio. Já na quarta-feira, 23/09, o Colégio Marista Aparecida também decidiu voltar com as aulas presenciais. Para tanto, foram testados todos os profissionais das duas escolas, instalados equipamentos sanitizantes, distribuídos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) para todos os profissionais e aplicado o distanciamento e, quando necessário, o revezamento de alunos. Os protocolos adotados foram aprovados pelo Centro de Operações de Emergência em Saúde para a Educação (COE-Escola) estadual, municipal e de cada uma das instituições. “Nós tivemos todo um preparo junto às secretarias de Educação e Saúde. O nosso COE é formado por professores, funcionários e pais de alunos”, explica o diretor do Alfredo Aveline, Márcio Pilotti. 


 

Apesar de toda a preparação, muitos pais/responsáveis e estudantes ainda estão receosos quanto ao retorno. Prova disso é que, no Alfredo Aveline, cerca de 20 alunos retornaram presencialmente – aproximadamente 20% do total do Ensino Médio. No terceiro ano, todos decidiram permanecer com o ensino remoto até o final do ano. “Temos cinco períodos de aula, com um intervalo de cerca de 15 minutos. Depois, os professores ficam até meio-dia para tirar dúvidas dos alunos que permaneceram com o ensino on-line”, esclarece o diretor. 

Por conta da pouca adesão ao retorno presencial, a escola fará uma dinâmica diferente: uma semana presencial e a outra inteiramente on-line. “Caso voltem mais alunos, aí vamos analisar a capacidade das salas de aulas e fazer o esquema de 50%”, explica Pilotti. 



 

No Marista Aparecida, a volta está sendo gradual entre as turmas. Na quarta-feira, 23/09, retornou o terceiro ano do Ensino Médio, na quinta-feira, 24/09, o segundo ano e nesta sexta-feira, 25/09, retornam as turmas de primeiro ano. No sábado, 26/09, haverá aula com todas as turmas. 

Para tanto, foi realizada uma pesquisa com os pais e com os estudantes, a fim de saber quais famílias gostariam que seus filhos retornassem e quais prefeririam continuar no ensino a distância. “No terceiro ano, todos os estudantes, praticamente, optaram por retornar. Então tivemos que organizar a turma em Grupo A e Grupo B. Já a turma do segundo ano e dos primeiros anos nós tivemos um número reduzido, que nos permitiu organizar somente um grupo em cada turma”, explica a diretora Silvia Pagot Marodin. Com isso, cerca de 60 estudantes voltarão às salas de aula nesse primeiro momento. 

No Aparecida, as aulas on-line e presenciais serão as mesmas, com transmissões ao vivo feitas pelos professores em sala de aula. Ainda, será mantida a opção de realizar a avaliação diretamente de casa, como já vinha sendo feito no ensino remoto. “Entendemos que, nesse primeiro momento, retornar com as pressões das avaliações presenciais não era a melhor maneira de acolhê-los. O que queremos é que eles se sintam confortáveis nesse retorno”, explica a diretora. 

Em relação às medidas de segurança sanitária, Silvia explica que o colégio estava se preparando para o retorno presencial mesmo sem uma posição das autoridades estaduais e municipais. “A Rede Marista se posicionou de maneira a aderir protocolos seguros, desde o home office para colaboradores que precisam permanecer em casa, até a organização dos espaços seguindo os decretos estaduais e municipais. Nós trabalhamos com o Hospital São Lucas, da PUCRS, e com o município de Bento Gonçalves, para construir protocolos de saúde. Nesse momento, a área da educação precisa procurar a expertise da área da saúde”, afirma. 

Visão de alunos e professores

Apesar de muitos estudantes optarem por permanecer em suas casas, aqueles que decidiram retornar às salas de aula se mostraram felizes e satisfeitos com o que encontraram. “Eu sou professor à noite na rede estadual e sei que as aulas on-line não são a mesma coisa. Então eles estavam bastante ansiosos para o retorno”, conta o diretor do Alfredo Aveline, Márcio Pilotti. 


 

Para a estudante do primeiro ano do Aveline Natália de Oliveira Darui, a falta do diálogo presencial com colegas e professores dificultou o aprendizado durante o ensino remoto. “Eu, particularmente, tive bastante dificuldade em aprender. Sem o professor ali, explicando e te orientando, fica bem difícil. E se não voltássemos agora, ficaria complicado ter uma base para seguir no ano que vem. Mas a gente sabe que tem muitos alunos que ficam preocupados com a família, principalmente quem mora com pessoas do grupo de risco”, comenta a aluna. 

Também estudante do primeiro ano, Téo Stringhini afirma que estava inseguro com o retorno, mas que ficou tranquilo após constatar as medidas de segurança que estão sendo adotadas pela escola. “No começo eu não queria vir, então conversei com os meus pais e decidi voltar. Agora só espero que tudo volte ao normal, e que logo a gente possa ver todo mundo de novo aqui na sala”, diz. 

A professora de matemática Gladis Brandelli Zandoná trabalhou como educadora substituta durante todo o período de suspensão das aulas presenciais – a fim de suprir a demanda daqueles profissionais que precisaram se afastar devido à pandemia. Durante seu expediente, atendia os estudantes que estavam tendo dificuldades em aprender a distância. “Teve bastante gente com dificuldade de aprender, mas fomos resolvendo da melhor forma que pudemos. Então eu acredito que esse retorno será positivo para eles, principalmente pelo convívio com os demais colegas e com os professores. Afinal, a gente tinha que voltar, em um momento ou outro”, comenta. 

Para a diretora do Aparecida, Silvia Pagot Marodin, o colégio está se dedicando em cuidar não apenas da saúde física dos alunos, mas também da saúde mental. “Quando nossos alunos e professores se reencontraram, a emoção era visível. E a nossa emoção também. A gente entende que a educação das emoções também faz parte do aprendizado. São as emoções que nos movem e por isso temos que trabalhá-las da melhor forma”, declara. 

“Nós sabemos que é um ano bem atípico. Tivemos apenas 30 dias de aula presencial. Não tivemos tempo de conhecer todo mundo. Os professores conseguiram dar uma revisão e um pouco de matéria nova. E pelo que se escuta, até que se tenha uma vacina, vai longe. Então eu sou a favor do retorno sim, com todos os cuidados necessários”, analisa Márcio Pilotti. 

De acordo com a prefeitura de Bento Gonçalves, até o momento nenhuma outra escola confirmou o retorno presencial do Ensino Médio no município. Também não há definições sobre a volta dos demais níveis de ensino. 

Fotos: Eduarda Bucco