Saiba quais os primeiros socorros durante um AVC
A cada ano, cerca de seis milhões de pessoas morrem de Acidente Vascular Cerebral (AVC), sendo essa a primeira causa de morte e incapacidade no Brasil, de acordo com a Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares (SBDCV) e Academia Brasileira de Neurologia (ABN). “O AVC, que atualmente é chamado de AVE (Acidente Vascular Encefálico), ocorre quando existe a interrupção da oferta de oxigênio e nutrientes em um território do cérebro, cerebelo ou tronco cerebral”, explica o cardiologista Rafael Munerato. Essa interrupção pode ocorrer devido a um entupimento, que é o AVC isquêmico, ou rompimento de um vaso, caso do AVC hemorrágico.
Sintomas sutis
É muito comum acharmos que, em caso de derrame cerebral, a pessoa irá passar mal e desmaiar, devendo ser encaminhada para o hospital. Entretanto, os sintomas são muito mais sutis. “Dormência e fraqueza em uma metade do corpo, alteração da fala e desequilíbrio são alguns dos sintomas de AVC”, explica a neurologista e neurofisiologista Adriana Ferreira Barros Areal. É importante entender que o AVC se manifesta como uma perda neurológica súbita, ou seja, mudanças em seus movimentos, fala, visão ou qualquer outra coisa que funcionava de uma determinada maneira e parou de repente ou então você começou a fazer de outra maneira. É extremamente importante saber reconhecer o AVC o mais rápido possível, pois o tratamento precoce fará toda a diferença no futuro desse paciente.
Não espere o pior passar
Outra mania muito perigosa – principalmente quando o assunto é derrame cerebral – é esperar a dor passar para, então, procurar um médico. No geral, pensamos que é melhor deixar a pessoa se estabilizar, para evitar qualquer sofrimento em uma viagem ao hospital ou socorro. Entretanto, na suspeita de um AVC, o ideal é encaminhar essa pessoa para o hospital o mais rápido possível. “Cada minuto perdido poderá fazer diferença lá na frente, na hora da recuperação, uma vez que quanto maior é o dano cerebral, maiores são as sequelas”, lembra o neurologista André Felício. Os danos de um AVC são consideravelmente maiores quando o atendimento demora mais de três horas para ser iniciado. Inclusive, no caso de AVC isquêmico, o médico pode dar ao paciente um medicamento antitrombótico chamado alteplase, que deve ser aplicado em até quatro horas e meia após o início dos sintomas. Esse medicamento diminui em 30% o risco de sequelas do AVC isquêmico e em 18%, a mortalidade.
Não dê remédios
Muito se fala também sobre ministrar uma pílula de AAS (ácido acetilsalicílico) quando uma pessoa está sofrendo um AVC, já que ela afinaria o sangue e impediria um novo êmbolo. Apesar de ser um raciocínio correto, ele só traria algum benefício para pessoas que sofreram um AVC isquêmico – e ainda sim não é nada muito expressivo. “Nos casos de AVC hemorrágico, o ácido acetilsalicílico pode piorar ainda mais o sangramento, agravando o quadro”, explica a neurologista Adriana. E como não é possível saber qual tipo de derrame cerebral a pessoa está tendo sem avaliação médica, o conselho é não dar qualquer medicamento e encaminhá-la para o hospital. “Nos casos em que o paciente tem hipertensão, a atenção com o rápido atendimento deve ser redobrada, e o controle do nível de pressão vai depender do tipo de AVC, do tratamento proposto e da história prévia da pessoa”, explica a neurologista Adriana.
Diabéticos
Em pacientes do diabetes, a glicose muito alta ou muito baixa pode imitar os sintomas de AVC, explica a neurologista Adriana. “Portanto, a verificação da glicemia ajuda a distinguir um problema de outro”, diz. Dessa forma, é importante fazer medição e, caso não seja o caso de uma alteração na glicemia, correr para receber o atendimento adequado.
Chamar a emergência ou correr para o hospital?
Se você estiver perto de um hospital ou pronto-socorro de confiança e tem condições de ir ou levar o paciente para lá com rapidez, não há porque esperar a ambulância. “Entretanto, se você está longe de um pronto atendimento, não tem carro, a viagem até lá seria muito difícil ou você não está em condições de ir sozinho, não hesite em chamar a emergência, pois o tratamento pode iniciar já na ambulância”, aconselha a neurologista Adriana. Além disso, o neurologista André Felício lembra que o ideal é dar preferência a hospitais que sabidamente têm um serviço dedicado ao tratamento agudo do AVC, que são aqueles capazes de realizar procedimentos neurológicos, como exames e cirurgias.
Toda recuperação é igual?
Não, o andamento do paciente após um AVC pode variar muito. Tudo depende de fatores como extensão do AVC, local do cérebro onde ele aconteceu, demora no tratamento, idade, tipo de derrame, doenças relacionadas… Não há regra. “Cada caso evolui de um jeito”, afirma Adriana Ferreira. “Todavia, quanto mais precoce e mais especializado o atendimento em geral, os resultados são melhores”, diz.
Sintomas
*Diminuição ou perda súbita da força na região do rosto, braço ou perna de um lado do corpo;
*Sensação de formigamento na face, braço ou perna de um lado do corpo;
*Perda súbita de visão em um olho ou nos dois;
*Alteração aguda da fala, incluindo dificuldade para articular, expressar ou para compreender a linguagem;
*Dor de cabeça súbita e intensa sem causa aparente;
*Instabilidade, vertigem súbita intensa e desequilíbrio, com náuseas ou vômitos.
Fatores de risco
Colesterol alto: o excesso de colesterol no sangue aumenta o espessamento e endurecimento das artérias. “Placas de colesterol e conteúdos gordurosos se depositam lentamente na artéria, fazendo com que ela se feche aos poucos e impeça a passagem de fluxo sanguíneo”, explica o neurologista Maurício Hoshino. Esse processo provoca arteriosclerose – endurecimento das artérias – e prejudica a oxigenação do cérebro, aumentando o risco de AVC.
Sedentarismo e obesidade: a prática de exercícios físicos é fundamental para controlar praticamente todos os fatores de risco de AVC. “Pressão alta, colesterol elevado, diabetes e doenças cardíacas são complicações decorrentes do excesso de peso e precisam ser prevenidas e controladas com bons hábitos, o que inclui atividade física regular”, alerta Maurício Hoshino.
Má alimentação: uma vez que diabetes, colesterol, obesidade e hipertensão aumentam as chances de AVC, todos os cuidados para controlar essas doenças servem de prevenção – e a alimentação ganha destaque. Fazer uma dieta balanceada, moderar o consumo de sódio (para pressão alta), evitar alimentos ricos em colesterol e gorduras saturadas (frituras), controlar o consumo de açúcar (para diabetes) são alguns dos hábitos que devem fazer parte da rotina.
Pressão alta: ocupa o topo do ranking de maiores causas de AVC. O neurologista André Lima explica que as paredes internas das artérias sofrem traumas por causa do fluxo do sangue mais forte. “Esses traumas formam pequenos ferimentos nas paredes, que podem obstruir a passagem do sangue (AVC isquêmico) ou romper a parede da artéria (AVC hemorrágico)”, explica.
Açúcar no sangue: o excesso de glicose no sangue – característica do diabetes – aumenta a coagulação do sangue e o deixa mais viscoso. “Isso diminui o fluxo de sangue das artérias e pode levar a um AVC”, conta André Lima. Além disso, é comum que pessoas com diabetes também apresentem sobrepeso, colesterol alto e pressão alta – todos fatores de risco de derrame cerebral. Mas vale lembrar que esses problemas – inclusive diabetes – podem ser controlados com tratamento médico regular e hábitos de vida saudáveis.
Tabagismo: substâncias do cigarro fazem com que a coagulação do sangue aumente. Com isso, o sangue fica mais grosso e fluxo nas artérias, por sua vez, fica prejudicado, aumentando as chances de um derrame. “Pessoas que fumam e usam contraceptivos orais têm riscos maiores ainda, pois os hormônios dos anticoncepcionais também interferem na coagulação sanguínea”, explica André Lima.
Doenças do coração: de acordo com o neurologista André Lima, arritmias cardíacas podem formar pequenos coágulos dentro das artérias e veias do coração. “Esses coágulos podem ser enviados às artérias cerebrais, provocando um AVC isquêmico”, explica. O neurologista Maurício Hoshino, do Hospital das Clínicas, de São Paulo, também lembra que há uma série de problemas do coração que podem atrapalhar o fluxo sanguíneo e aumentar as chances de derrame. “Um deles é o Forame Oval Patente (FOP), uma má formação do coração que atinge 15% da população e faz com que coágulos que deveriam ser filtrados pelo pulmão permaneçam na circulação, aumentando o risco de AVC, inclusive, em jovens”, explica.
Como detectar
Lembre-se da sigla S-A-MU: Sorriso, Abraço, Música
Peça para a pessoa dar um sorriso, para verificar se a boca está torta.
Peça para a pessoa dar um abraço, para verificar se há dificuldades em levantar os braços.
Peça para a pessoa cantar uma música, para verificar se há dificuldade de fala e processamento do cérebro.
Importante: quem sofrer um AVC do tipo isquêmico (com incidência três vezes maior que o tipo hemorrágico) tem até quatro horas e meia para ser socorrido e reduzir o risco de sequelas ou risco de morte.
Fonte: portal Minha Vida
(www.minhavida.com.br)
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