Santa Tereza: memória à espera de restauro
Segue tramitando na Justiça Federal a ação civil pública contra a União e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), sob alegação de descaso com o patrimônio histórico e cultural do município de Santa Tereza. A acusação foi levada à Procuradoria Federal no último mês de junho, por iniciativa da Associação do Patrimônio Histórico e Artístico de Santa Tereza (Aphat) e da prefeitura. “A Associação só vai parar os procedimentos assim que forem concluídas as restaurações”, garante o historiador presidente da Aphat, César Augusto Prezzi.
Desde que o centro do município foi tombado como Patrimônio Histórico Nacional em 2010, cerca de 20 casas de madeira e de alvenaria originais dos séculos 19 e 20 ficaram sob responsabilidade das famílias e do Iphan – que deve realizar os reparos caso os proprietários comprovem insuficiência de recursos para a obra. “Ocorreu um restauro anterior ao tombamento da biblioteca pública e da prefeitura, mas a partir de 2010 não mais”, afirma Prezzi, que teme pelo futuro das construções. “Só existem duas colônias de imigração italiana tombadas fora da Itália: Antonio Prado e Santa Tereza. O patrimônio histórico é uma poupança para a cidade, como forma de atrair turismo e cultura. Prova disso é que o município sempre está entre os cenários escolhidos por cineastas”, destaca.
Obstáculos
Infestação de cupins e falta de manutenção por décadas são os principais fatores que estão levando as construções à deterioração, na análise do engenheiro da prefeitura de Santa Tereza, Mário Cella. “Algumas casas estão fechadas há anos. Os últimos proprietários eram idosos e seus descendentes residem em outras cidades. Por questões de partilha e também pela burocracia necessária para formular um projeto de restauro, os imóveis são abandonados e assim permanecem por tempo indeterminado”, descreve.
A alta quantia necessária para elaborar um projeto de restauro e o isolamento geográfico de Santa Tereza também agravam a situação, já que a recuperação do valor investido não é garantida. “Cabe ao Iphan arcar com o restauro quando a família não possui condições financeiras. Caso não seja comprovada a carência, é preciso fazer um projeto ao custo aproximado de R$ 60 mil. O restauro das casas Ferri e Miele [citadas na ação da Justiça Federal], por exemplo, é estimado em R$ 500 mil cada”, acrescenta.
O SERRANOSSA entrou em contato com o Iphan, porém não obteve retorno até o fechamento desta edição.
Na mira da justiça
Casa Ferri
Localizada na esquina entre a avenida Itália e a rua Abramo Caumo, a casa de Dianei Ferri, resiste à ação do tempo e às periódicas enchentes do Rio Taquari somente com o amparo de escoras. A edificação, toda em madeira, data de 1910. É reconhecida nacionalmente como berço da fabricação do acordeon no Brasil, a partir da técnica trazida da Itália pelo casal de imigrantes Cesare Appiani e Maria Savóia.
Atualmente encontra-se abandonada à espera do restauro para a instalação do Memorial do Acordeon. A arquitetura do início do século 20 é evidenciada pelo telhado de duas águas com beiral, lambrequim, telhas de aço galvanizado e esquadrias de madeira com verga reta. A Aphat reivindica ao Iphan seu restauro imediato, estimado em R$ 500 mil.
Casa Miele
A casa de madeira encomendada pelo casal Fausto Miele e Ernesta Vignatti Miele ao engenheiro italiano Maximiliano Cremonese – também idealizador do campanário da Igreja Matriz – foi edificada por volta de 1910. Nos últimos anos de ocupação, funcionava como sede da barbearia e da fábrica de calçados de Fausto. Em acelerado processo de desintegração, o imóvel será restaurado por iniciativa familiar. O início está previsto ainda para o mês de agosto.
Reportagem: Priscila Boeira
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