Sapatinhos brancos

“Você não vai poder engravidar”. Essa foi a frase que Luciane Tonato Somensi, 30 anos, ouviu durante uma consulta. Não foi só uma vez, mas para cada afirmação semelhante a essa, ela tinha uma frase pronta: “Eu vou ser mãe, sim”. A farmacêutica tinha 18 anos quando descobriu uma má formação no útero, que divide o órgão em dois. Porém, nunca desistiu de realizar um sonho que tinha desde os 15 anos. “Eu tinha certeza que ia engravidar. Sabe quando você sente?”, lembra.

Com 24 anos, Luciane se casou e o desejo ficou ainda mais forte. Fez uma videolaparoscopia para ver quais eram as suas chances. Queria alternativas, tratamentos, soluções. Ganhou outro obstáculo. Tinha mais uma doença: endometriose. Apesar disso, meses depois, recebeu a notícia de que estava grávida. No segundo mês de gestação, durante uma ecografia, mais uma tristeza. “O médico só me disse ‘não tem mais bebê aqui’. Não conseguia parar de chorar”. Para ela, foi um dos momentos mais difíceis que passou, pois não percebeu que seu sonho não estava mais ali. “Uma coisa é perder um filho, outra é perder e não sentir”, afirma.

Luciane precisou fazer curetagens para retirar o feto. Na primeira tentativa, o procedimento foi realizado no útero errado. Na primeira tentativa, o procedimento foi realizado no útero errado e na segunda acabaram perfurando o órgão. A saída era fazer uma cirurgia. Ou removia todo útero, procedimento mais simples, ou retiraria apenas uma parte, com maior risco. A decisão foi tomada pelo marido, que optou por manter uma parte.

Recomeço

Em 2009, um ano após a cirurgia, Luciane voltou a tentar. Havia sobrado apenas uma parte do útero, mas o sonho estava ali, inteiro. Muitos não a apoiaram por causa dos riscos. “Preferia morrer a não tentar”, afirma.

Após muitas tentativas, procurou a inseminação artificial e depois de alguns exames, outro diagnóstico: descobriu que tinha ovários policísticos, que ao invés de liberarem os óvulos, formavam cistos no ovário. Iniciou um tratamento hormonal, pois a inseminação era muito arriscada. “Cada vez que alguém me dizia não, minha busca aumentava ainda mais”, ressalta.

Felicidade

Atraso na menstruação, um exame de sangue e muita expectativa. Luciane foi ao consultório, pois poderia estar grávida. Ao chegar, a médica não falou nada e só lhe entregou uma caixinha. Dentro, um par de sapatinhos brancos de lã. “É uma sensação fora do comum”, relata.

Foi uma gravidez que exigiu muitos cuidados. “Eu passava mais no hospital do que em casa”, lembra. Mais cautelosa, ela fez mais de 30 ecografias. “Precisava ter a certeza de que ele estava vivo”, diz. Por isso, a interação com o bebê ainda na barriga foi intensa. “Mexe, a mamãe quer falar contigo”, foi uma das frases mais ditas pela nova mamãe.

Depois de 32 semanas, nasceu Luís Felipe. “Quando o rosto do nenê fica perto do nosso, é inexplicável”, lembra. Hoje, com um ano e seis meses, Luís Felipe é a alegria da casa. Luciane deixa claro que não se pode deixar de tentar. “Ouvi-lo dizer ‘mamãe’ faz valer a pena todos os dias deitada e as noites de sono perdidas”, finaliza.

 

Josiane Ribeiro

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