Saúde pública: coordenador médico aponta falta de condições de trabalho e deixa a UPA

A inauguração da Unidade de Pronto-Atendimento (UPA 3), no bairro Botafogo, em junho de 2015, animou muitos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) em Bento Gonçalves. Após quatro anos no papel, a nova estrutura possibilitou um melhor atendimento aos pacientes, organização apontada como positiva ao desenvolvimento do trabalho dos servidores na época. Como uma unidade de porte 3 (com capacidade para atender a uma área de abrangência de até 300 mil habitantes), no entanto, o local passou a receber uma demanda maior de pacientes, para a qual não estaria apta, conforme o ex-coordenador médico e responsável técnico da unidade, Paulo Jandrei Rodrigues. 

Após três anos no cargo, o médico se afastou nesta semana, alegando falta de recursos e apontado carências no atendimento. “As condições de trabalho são péssimas. A UPA não estava cumprindo com os atendimentos de urgência e emergência que a população merece, não tem medicação, aparelhos modernos e atendimento a pacientes graves, e há dificuldade para internação. Estava colocando meu registro no Conselho Regional de Medicina em risco”, afirma Rodrigues.

A defasagem e a ausência de equipamentos de diagnóstico foram algumas das necessidades apontadas. Segundo ele, se um paciente tiver uma obstrução arterial, por exemplo, é preciso mandá-lo para outro município para exame, dependendo da disponibilidade de leito. “Já fiquei com paciente infartado por dias na UPA, esperando leito”, relata. 

Ainda de acordo com a carta de demissão, não há medicação suficiente para emergências cardíacas. “Concordo que, em qualquer farmácia pública, falte remédio, mas já tive que comprar itens mais comuns, como aspirina infantil, para pacientes com dor torácica. E há um único tipo de antibiótico disponível”, acrescenta. 

Além da escassez de recursos, Rodrigues denunciou o comportamento de funcionários comissionados, que estariam pressionando os colegas a filiações partidárias. 

Contraponto

Em nota de esclarecimento enviada à imprensa nesta quarta-feira, dia 6, a secretaria municipal de Saúde (SMS) se defende das acusações. Conforme o documento, a UPA está equipada com todos os aparelhos exigidos pelo Ministério da Saúde. “Nenhuma UPA do país tem aparelho de tomografia”, justifica o coordenador médico da SMS, Marco Antônio Ebert, que considerou a atitude de Rodrigues “exagerada”. 

Um novo equipamento de radiografia está em licitação e deve estar em funcionamento dentro de 60 dias, segundo Ebert. “Além disso, o Hospital Tacchini nos oferece retaguarda nos serviços de diagnóstico, se necessário”, diz o médico. 
Na nota, a secretaria garante que nunca deixou de disponibilizar medicamentos na unidade e que faltas eventuais podem ocorrer devido a impedimentos nos processos de licitação ou a atrasos nos repasses por parte dos governos federal e estadual, já que parte das medicações é de sua competência.

A secretaria ainda informa que não foi comunicada anteriormente sobre as deficiências relatadas, para buscar saná-las. “Continuaremos nesse modelo de atendimento e estamos avaliando novos nomes para a coordenação”, conclui Ebert.

(Foto: Priscila Pilletti)