“Se a intenção é me cansar, não conseguirão”, diz prefeita de Santa Tereza sobre oposição na Câmara

Em entrevista ao SERRANOSSA, Gisele Caumo (PTB) avalia seu primeiro ano como prefeita da cidade e comenta sobre as dificuldades de governar com forte oposição na Câmara de Vereadores: “tudo o que está se vendo são objeções infundadas, as quais levam a crer que não se tem nada mais do que uma oposição política, que deseja colocar obstáculos para que o governo atual fracasse”, assegura.


Primeira mulher a comandar Santa Tereza, Gisele Caumo (PTB), 38 anos, já tem muito a comemorar no primeiro ano de seu governo. Uma das principais conquistas foi o início da pavimentação asfáltica para a Rota Pão e Vinho, um anseio de mais de 20 anos da comunidade local e regional, que, no final do ano passado, foi autorizado pelo Governo do Estado. As obras já iniciaram em fevereiro e devem fomentar o turismo e melhor o escoamento da produção local, atraindo novas empresas e investimentos.

No entanto, nem tudo são boas notícias. Com frequência Gisele utiliza as redes sociais para se defender de acusações e ataques feitos nas sessões da Câmara de Vereadores, que é composta por maioria de oposição. Nesta entrevista, a prefeita comenta sobre os desafios que tem enfrentado e sua visão sobre a política.


SERRANOSSA: Gisele, como surgiu à oportunidade e a vontade de ser prefeita de Santa Tereza?
Gisele Caumo: Cresci ouvindo meu pai falar e praticar política. Certamente ele é a minha maior inspiração, meu orgulho, meu exemplo! Desde jovem me envolvo em campanhas eleitorais, sendo transparente e demonstrando nitidamente minhas preferências, enfatizando-as com coerência. Em 2016, recebi o convite do candidato a prefeito Denis Jorge Acco (primeiro chefe do Executivo de Santa Tereza), para pleitear um cargo no Poder Legislativo e, com apoio da minha família, resolvi aceitar o desafio, que me proporcionou o feliz resultado de ser a vereadora mais votada. A partir daquele momento, me dediquei intensamente às funções concernentes ao Legislativo, desenvolvendo um trabalho para todos, sem distinções ou exclusões, ação esta que foi fundamental para não somente o partido, mas especialmente a comunidade reconhecer e vislumbrar meu nome para ocupar o cargo de primeira prefeita de Santa Tereza. Decidi ser prefeita, não somente por não temer novos desafios, mas, especialmente, com o objetivo de desenvolver um trabalho de resultados palpáveis e um legado que possa ser aliado a sinônimo de prosperidade e evolução para esta terra que eu tanto amo e venero.

SN: Qual sua avaliação de seu primeiro ano como prefeita?
Gisele:
Creio que a avaliação não deve ser efetuada por mim, e sim por todos aqueles que vivenciam os resultados provenientes do trabalho de nossa gestão, ou seja, a comunidade. As mudanças e resultados benéficos são perceptíveis e tangíveis, no que condiz ao primeiro ano de gestão, porém, não omito os problemas existentes e sou convicta em afirmar de que há muito ainda por se fazer por Santa Tereza para se chegar ao desenvolvimento que objetivo alcançar enquanto prefeita.


SN: Uma das principais conquistas foi o investimento na Rota do Pão e do Vinho, tão aguardada há anos pela comunidade local e regional. Como foi estar à frente desta conquista e o que foi fundamental para que ela se concretizasse?
Gisele:
O anseio da rota Pão e Vinho foi há mais de 20 anos! Esta obra não representa apenas a conclusão de um sonho imponente que já estava sendo conceituado pelas comunidades inseridas no projeto como inexecutável, mas exprime a magnificência do desenvolvimento econômico, especialmente no que condiz ao escoamento de produção e também, traduz a relevância do setor turístico de duas regiões extremamente substanciais ao Estado do RS, Serra através do Vale dos Vinhedos e Vale do Taquari. Desde o primeiro encontro com os prefeitos dos municípios englobados nesta rota, expressei com veracidade minha opinião, de que o momento deveria objetivar resultados concretos e não ser utilizado para fins de promoções eleitorais ou partidárias, em virtude da eleição presidencial de 2022. E assim, em um propósito unificado, fragmentando o projeto e apresentando-o às autoridades dos governos estadual e federal, alcançamos o êxito endossado pelo governador do Estado do RS. Tenho a plena convicção de que a união, a coerência, o trabalho em conjunto e especialmente a ausência de interesses individuais, foram fatores essenciais para alcançar tal conquista, que começou a tornar-se tangível no dia 8 de fevereiro de 2022, data em que iniciamos a pavimentação asfáltica da Rota pelos Caminhos do Pão e do Vinho – Trecho de Santa Tereza.

SN: Falando em turismo, a cidade tem um apelo histórico e cultural muito grande para receber cada vez mais turistas e investidores. A prefeitura tem projetos para atrair novos visitantes e novos negócios?
Gisele:
Julgo ser importantíssimo aliar turismo e agricultura, tendo em vista que a economia do município é baseada no setor agrícola, ou seja, 90% do retorno do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) provêm desse segmento. São dois ramos que podem e devem andar juntos. Santa Tereza é belíssima, possui uma geografia privilegiada, podendo desta forma ser explorada em ambos os segmentos. O êxito é evidenciado, desde que haja incentivos. Valorizar o interior e incentivar os munícipes a tornarem-se empreendedores é fundamental para que o turismo ganhe ainda mais força. A agroindústria é essencial para a integração do meio rural com a economia do mercado turístico. Faz-se necessário alentar e ser aliado do nosso produtor para regularizar e comercializar a sua chimia, o seu queijo, o seu pão e tantos outros produtos feitos com tanto amor. Os setores público e privado precisam estar e trabalhar juntos para o avanço do turismo, ação esta que vem sendo desenvolvida desde que assumi como prefeita. Estamos planejando e agindo para ofertar uma estrutura adequada ao munícipe, ao turista e também ao empreendedor externo, para que o mesmo vislumbre e aposte em Santa Tereza como um local propício para exploração econômica deste setor.

SN: A cidade, assim como a região, enfrenta os problemas e prejuízos provocados pela estiagem. Santa Tereza, inclusive, decretou estado de emergência. Quais são as medidas que estão sendo tomadas para amenizar os prejuízos e quais são os planos para que no futuro os impactos sejam menores?
Gisele:
Infelizmente, assim como grande parte dos municípios gaúchos, Santa Tereza também sofre com a estiagem. Somos um município agrícola, 90% do retorno de ICMS provêm da agricultura, situação esta que preocupa, mas que necessita de ações para amenizar as perdas do setor. Decretamos situação de emergência na zona rural em 03 de janeiro de 2022, objetivando auxiliar nossos produtores na renegociação de dívidas do PRONAF e PROAGRO, garantindo a exoneração de obrigações financeiras relativas à operação de crédito rural de custeio, cuja liquidação seja dificultada pela ocorrência de fenômenos naturais. Também, este decreto nos possibilita o enquadramento em programas governamentais, como é o caso do Avançar na Agricultura, ao qual requisitamos nossa inclusão junto a Secretaria competente. Porém, não podemos também depender exclusivamente de recursos federal ou estadual, por isso, já estamos traçando ações correlatas a capacidade de realização por parte do poder público municipal, como é o caso da perfuração de poços. Estamos findando um estudo com geólogo e dentro dos próximos meses iremos realizar perfurações, que, sendo exitosas, amenizarão significativamente os problemas de escassez de água, beneficiando assim as comunidades do nosso interior.

SN: Falando em política: quais são as suas principais dificuldades em governar a cidade? Sabemos que a maioria na Câmara é de oposição. Isso tem atrapalhado?
Gisele:
Quem me conhece e caminha ao meu lado sabe que não sou uma pessoa partidária! Vislumbro pessoas e não partidos políticos, os quais em minha análise precisam ser utilizados para pleitear benefícios, recursos que contemplem a todos. Desde que assumi como prefeita, procurei buscar uma relação harmoniosa com a Câmara, deixando evidenciado o meu anseio de manter um diálogo saudável junto aos nove vereadores que compõem o Legislativo Municipal, porém, até o presente momento, tal ensejo não foi concretizado, tudo o que está se vendo são objeções infundadas, as quais levam a crer que não se tem nada mais do que uma oposição política que deseja colocar obstáculos para que o governo atual fracasse. Entristece identificar que o maior obstáculo para o crescimento de Santa Tereza é alguns daqueles que foram eleitos pelo povo como seus representantes para um futuro melhor. Já alertei para “estes vereadores” que se a intenção é me cansar, não conseguirão. Continuarei administrando e enfrentando tais situações, apenas abatida porque tenho consciência que o prejuízo real quem sofre é Santa Tereza, justamente num momento histórico para o Município, onde conseguimos medidas visíveis que realmente representam o progresso da cidade.


SN: Assim como em outras cidades, houve um aumento no subsídio dos agentes políticos de Santa Tereza, o que também foi alvo de polêmicas e divergências. Qual foi a principal divergência entre o Executivo e o Legislativo nesta pauta?
Gisele:
Houve a compreensão, pela Câmara de Vereadores, que o Projeto de Lei seria, em parte, de competência do próprio Legislativo, mesmo tendo sido demonstrado o contrário mediante pareceres jurídicos específicos. Bastava, na questão, o diálogo, sendo que estou sempre de portas abertas para receber os senhores vereadores. Entretanto, entendeu-se, penso, que era mais apropriado agitar a matéria para descredibilizar, injustamente, o Executivo. Assim, mesmo com todas as urgências municipais e projetos importantes, foi necessário empregar grande quantidade de tempo para lidar com um problema que, em sua origem, era inexistente, dificultando mais uma vez as atividades da administração.


SN: Você acredita que por ser mulher as dificuldades são maiores?
Gisele:
Sou feliz e afirmo que nunca enfrentei alguma situação de preconceito enquanto prefeita, aliás, preciso enfatizar que sempre fui muito respeitada e exaltada, especialmente pelos meus colegas prefeitos. Evidentemente que as dificuldades existem, mas acredito que as mesmas não devem ser mensuradas ou definidas pelo sexo que possuímos, e sim pela capacidade que dispomos para lidar e enfrentar as contrariedades que o próprio cargo nos apresenta diariamente. No que tange à representatividade das mulheres na política, esse debate ainda se encontra muito distante do desejado. Muitas mulheres ainda têm dificuldades de ocupar cargos de poder, serem eleitas ou terem voz ativa nas tomadas de decisões políticas. Estamos ainda muito abaixo da média mundial no que concerne a representação feminina no meio político. Para driblarmos as dificuldades da paridade entre os sexos, o primeiro passo é nós, mulheres, acreditarmos em nós mesmas, no empoderamento. É preciso reconhecer o poder que carregamos dentro de cada uma de nós. Precisamos ter autoconhecimento, autoconfiança e autogestão.