Secretária de Saúde apresenta na Câmara dados sobre a situação da pandemia em Bento
Na última sessão ordinária da Câmara de Vereadores de Bento Gonçalves, na segunda-feira, 01/03, a convite do vereador Rafael Fantin – Dentinho (PSD), a secretária municipal de Saúde, Tatiane Fiorio, usou a tribuna para falar sobre a situação da vacinação no município e do enfrentamento à pandemia.
Ela destacou que o munícipio segue a ordem de vacinação estipulada no Plano Nacional de Imunização do Ministério da Saúde, que prevê a priorização de oito categorias: trabalhadores da saúde, idosos a partir de 60 anos, população indígena, pessoas com comorbidades, trabalhadores da educação, pessoas com deficiência, trabalhadores e pessoas privadas de liberdade. Somente depois desse público, a vacinação deve ser aberta à população em geral.
Vacinação dos profissionais da saúde
A respeito da polêmica que envolveu a imunização de quem atua na área da saúde, a secretária esclareceu que o município segue as determinações do governo do Estado. “O Estado fez um ordenamento prioritário dos profissionais da saúde. Ele subdividiu os profissionais da saúde em dez categorias. O primeiro grupo foram os profissionais de linha frente, os que atendem UTI, CTI, Samu, UPA, diretamente da rede de urgência e emergência”. Por determinação do Estado, foram incluídos todos os profissionais que atuam nesses ambientes de urgência e emergência. “Um exemplo: UTIs e CTIs, eles consideram a área fechada, devem ser vacinados todos os profissionais de nível superior, técnico, higienização, segurança, administrativo ou qualquer outro trabalhador da área de CTI ou UTI”.
Vacinação dos idosos
Em relação à organização da vacinação dos idosos, a secretária explica que a estimativa de doses foi feita com base nos números disponíveis pelo SUS. “Para estabelecer qual era o grupo que iria receber a vacina naquele momento, nós fizemos um levantamento no nosso sistema de todos os cadastros ativos.” Também estão sendo utilizados os dados levantados na última campanha de vacinação contra H1N1.
Para a secretária, o formato de vacinação por drive-thru garantiu a agilidade do processo. “Todas essas ações foram muito positivas. A gente pode dizer que, no município de Bento Gonçalves, nós não temos conhecimento de alguém que tenha ficado mais de 15 ou 20 minutos para receber a vacina”. Até esta semana, haviam recebido a primeira dose idosos acima de 81 anos. Equipes da saúde ainda trabalham na vacinação de idosos acamados, por regiões da cidade.
Atraso no recebimento de novas doses
Sobre o recebimento de novas doses, ela revela que Bento recebeu apenas 30% das doses previstas no calendário do Ministério da Saúde para o mês de fevereiro. “A partir de agosto existe uma estimativa de uma quantidade de doses mais volumosa para a gente conseguir fazer uma imunização maior da população”.
Diante do atraso no calendário, o prefeito Diogo Siqueira buscou, junto ao Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento Sustentável da Serra Gaúcha (Cisga), contato com a União Química para tentar a aquisição da vacina Sputinik. “O município de Bento está se antecipando, na verdade nós estamos deixando o caminho pronto para quando a gente conseguir efetivar, quando tiver essa aprovação [da Anvisa] a gente conseguir dar andamento nessa questão.” Na quinta-feira, 04/03, em sessão extraordinária, será votada na Câmara uma rubrica para a liberação dos recursos destinados à compra de vacinas pelo município.
Lista de vacinados
Questionada pelo vereador Dentinho (PSD) sobre a possibilidade de divulgar uma lista dos pacientes vacinados, a secretária esclareceu que não é permitido identificar os vacinados, mas que seria possível fazer essa relação não nominal, embora, no momento, o grande volume de trabalho das equipes para acompanhar e alimentar os sistemas não tenha permitido divulgar o levantamento. Ela também confirmou que cerca de 90% dos idosos até 81 anos já foram vacinados.
Vacinação de profissionais da educação
Sobre o planejamento da vacinação de professores e profissionais da educação, ela foi enfática ao destacar a obrigatoriedade de seguir a ordem do Plano Nacional de Imunizações. “Nós temos que concluir os profissionais de saúde, temos que concluir os idosos de no mínimo até 60 anos, a gente ainda tem 20 anos para atingir essa população, temos todo o contingente de população com comorbidades, aí entra uma série de comorbidades, e após isso a gente pode então vacinar os profissionais da educação. Enquanto o Ministério da Saúde não alterar esse ordenamento, nós não podemos [vacinar] a não ser que nós tivéssemos vacina suficiente para vacinar todo esse contingente e chegar aos professores”, detalhou.
Testagem de Covid
Com relação à disponibilização de testes de Covid-19, a secretária afirmou que a central municipal do Programa Testar RS é capaz de atender a demanda do município. “Todo paciente que sentir qualquer sintoma gripal pode se dirigir à nossa tenda lá na UPA e vai ser encaminhado para testagem. O Programa Testar RS tem dois fluxos: o fluxo de emergência, que são aqueles pacientes que a gente precisa ter uma resposta mais rápida, como um profissional da saúde, um óbito, uma internação, que vão para o Lacem em Porto Alegre. E o fluxo 2, que é um convênio com laboratório Bio Manguinhos do Rio de Janeiro. Uma vez por dia todos os exames são encaminhados para a 5ª Coordenadoria, que envia ao Rio de Janeiro”, explica.
Abertura de novos leitos de UTIs
Em resposta ao questionamento do vereador Leopoldo Benatti – Raquete (Republicanos), a secretária detalhou que durante o período da pandemia o Ministério da Saúde flexibilizou o regramento mínimo para o funcionamento de UTIs, mesmo assim, há um quantitativo máximo de leitos pelos quais uma equipe pode ser responsável. “Não adianta eu abrir 30 leitos se tiver uma equipe só. Hoje nós não temos problema de equipamentos, a gente tem problema de material humano. Porque uma UTI não se faz só com monitor, respirador e uma cama. A gente precisa de um médico, um médico intensivista. Não é todo profissional médico que tem expertise de um leito de UTI”. Segundo ela, as instituições também têm enfrentado o problema de limite físico.
Segunda dose
Em relação ao procedimento para a aplicação da segunda dose, respondendo à pergunta do vereador Duda Pompermayer (DEM), a secretária explicou que as vacinas de CoronaVac e AstraZeneca têm períodos diferentes de aplicação. No caso da primeira o prazo é de 15 a 28 dias após a dose inicial. Já para a segunda o prazo é de 12 semanas. “Hoje toda pessoa quando vai se vacinar recebe um cartão de vacinação com o nome, data, qual foi a vacina que recebeu, a data que recebeu e a data a partir de qual ela está apta para receber a segunda dose.”
Tratamento precoce
O vereador Anderson Zanella (PP) levantou a questão do tratamento precoce, a exemplo de outras cidades, a fim de evitar a suspensão das atividades econômicas. A secretária destacou que defende a manutenção do sistema de cogestão em razão dos protocolos existentes e que o município trabalha com um kit preventivo. “Nós disponibilizamos, conforme entendimento médico e conforme entendimento clínico médico e paciente, um kit preventivo. Nós não estamos trabalhando com hidroxicloroquina. Nós trabalhamos com vitamina C, vitamina D, zinco e Ivermectina, e a gente tem a possibilidade, conforme entendimento clínico e médico, do profissional receitar também Azitromicina”. Segundo ela, o Tribunal de Contas do Estado e da União manifestaram que irão apontar os prefeitos que fizerem aquisição e gastos de recursos com medicamentos como a hidroxicloroquina.
Eficácia do kit precoce
O vereador José Antônio Gava (PDT) questionou a secretária sobre a eficácia do kit precoce. Com auxílio da estatística Marijane Paese, que faz parte da equipe que analisa os dados no município, foi detalhado um levantamento feito com pessoas que utilizaram o kit preventivo. A secretária destacou, porém, que não se trata de um estudo científico. “Não é um estudo científico porque nós não temos um grupo controle, nós não temos como registrar isso”. “Nós separamos somente aqueles que utilizaram o kit que tinha antibiótico [vitamina C, vitamina D, zinco, Ivermectina e Azitromicina]. Então foram 509 pacientes em Bento Gonçalves. Desses 509 pacientes, a gente teve 11 internações em leito clínico, somente duas internações em leitos de UTI e somente um óbito”. O resultado do levantamento foi apresentado ao Ministério Público.
Quantos idosos e profissionais da saúde faltam ser vacinados
A respeito da quantidade de idosos e pessoas com comorbidades a serem vacinadas, em resposta a questionamento do vereador Edson Biasi (PP), a secretária disse que não é possível estabelecer uma estimativa de pessoas com comorbidades, já que o ministério da saúde costuma alterar a lista de doenças ao longo da campanha. “De uma maneira geral, temos no nosso município aproximadamente 4.500 profissionais vinculados à área da saúde e da parte dos idosos a partir de 60 anos aproximadamente 17 mil pessoas”.
Efeito das moções de apoio
A secretária ainda destacou que as moções de apoio à vacinação dos profissionais da educação até podem pressionar o ministério da saúde a mudar os grupos prioritários, mas na prática não autorizam a prefeitura a imunizar os professores. ”Tem que fazer a alteração do Plano Nacional de Imunização. Isso vale como força, de repente como incentivo, como movimento para questionar o Ministério da Saúde quanto a esse ordenamento para isso sim, eu acho que ele é válido, é importante, mas como decisão do município para a gente fazer essa alteração, a gente não pode”. A afirmação foi em resposta ao questionamento do vereador Rafael Pasqualotto (PP), que classificou as moções desse tipo como “natimortas”.
Ampliação de leitos é fundamental na diminuição dos indicadores
Pasqualotto também questionou a situação da bandeira considerando o município de forma isolada. Segundo a secretária, ainda assim estaríamos em bandeira preta. Ela destacou que uma das vantagens de fazer parte da macrorregião é o quantitativo de leitos, que teve uma ampliação significativa desde o início da pandemia. “Todo o cálculo é feito em cima do quantitativo total de leitos. Hoje a gente está com 311 leitos de UTI. Em março de 2020, nós tínhamos 155 leitos UTI na macrosserra, contando SUS e privado. Então nós mais do que dobramos. Se não tivéssemos ampliado, nós tínhamos colapsado o sistema em abril do ano passado. Ter uma variação de dez leitos no universo de 200 é uma coisa, ter uma variação de 10 leitos no universo de 50 muda o percentual”, explica.
Como é possível ter taxa de ocupação acima de 100%
O vereador Davi Da Rold (PP) destacou que a população costuma questionar como é possível ter uma taxa de ocupação de leitos acima de 100%. De acordo com a secretária, muitos pacientes que ficam à espera de um leito são classificados em regime de UTI. “Vamos dar um exemplo: no Hospital Tacchini nós temos 45 leitos de UTI, hoje a gente tinha cinco pacientes na emergência do hospital e mais três pacientes na UPA para serem encaminhados. Eles não estão num leito de UTI, dentro do espaço de UTI, mas eles já estão em regime de UTI. A gente tem pacientes na UPA que estão entubados, então eles já estão em regime de UTI, eles já estão recebendo os cuidados de um paciente de UTI e eles estão aguardando essa transferência. Então por isso que se passa muitas vezes 110%, 120% dessas taxas de ocupação”, detalha.