Segredo para atrair visitantes é deixá-los felizes

O turismo é uma grande oportunidade de negócio e que cresceu muito nos últimos anos. Em 1950 eram 25 milhões de viajantes internacionais; em 2020 estima-se que sejam mais de 1 bilhão. Mas o segredo para atrair turistas não é pensar em uma cidade para agradar os visitantes, mas sim em um local que funcione bem para o cidadão. É o que defende o espanhol Pere Muñoz Perugorria, uma importante referência mundial em destinos de sucesso, responsável pela área de Projetos Estratégicos da Barcelona Media. “O lugar que tem qualidade de vida para o morador vai funcionar bem para o turista. Não temos que pensar em tirar os moradores de rua dos pontos turísticos, mas em não ter moradores de rua na cidade”, observa.

Ele veio direto da cidade espanhola para colaborar com as micro e pequenas empresas gaúchas voltadas aos negócios com turismo passando sua experiência durante a 1ª edição do Seminário de Inovação no Turismo, realizado em Bento Gonçalves na última quarta-feira, dia 19. Investir em uma cidade boa para os moradores também fará despertar nos visitantes o desejo de retornar para residir ali, não necessariamente para o resto da vida, mas pelo menos para uma temporada de trabalho ou estudos. “Nós trabalhamos para que as pessoas fiquem felizes, para que se divirtam nas férias e esqueçam os problemas em casa. Os destinos bem sucedidos são aqueles em que as pessoas ficam felizes. Vamos ganhar muito mais dinheiro e futuro se trabalharmos para que as pessoas fiquem felizes”, comenta.

Durante sua fala, ele abordou os quatro pilares do turismo: oferta, demanda, gestão e infraestrutura. “O setor não pode pensar apenas em faturamento, em gerar receita. Nós precisamos da ideia e da ideologia por trás das empresas. É preciso criar algo diferente e apostar em produtos, não apenas em eventos”, aconselha. Uma importante ferramenta que pode auxiliar no planejamento e que é ainda pouco explorada é a base de dados. Os questionários preenchidos por turistas nos destinos são pouco explorados e poderiam ajudar a traçar um perfil do visitante e também detectar o que pode se melhorado. Para isso, é preciso também aceitar as críticas.

Internet x divulgação

Hoje os turistas estão muito mais informados. As pessoas não descobrem mais nada, já viram fotos na internet. Ele cita que é comum os turistas ao verem a Estátua da Liberdade achar que ela parece menor do que nas fotos. O ideal, segundo ele, seria viajar sem pesquisar nada antes, para descobrir o lugar sozinho. Entretanto, reconhece ser algo impossível com o advento da tecnologia e das redes sociais. “Devemos trabalhar para que o visitante descubra novas experiências. Se eles não descobrirem nada novo, não estaremos melhorando sua experiência”, acrescenta.

A internet também é usada para procurar opiniões das outras pessoas que viajaram. “Os turistas não acreditam na nossa publicidade, nas fotos que colocamos, porque sempre colocamos as melhores e às vezes até fotos que não existem”, alerta. Ele compara com as selfies, sempre tiradas no melhor ângulo para a pessoa parecer mais magra e mais bonita. “Os clientes são os melhores embaixadores do nosso negócio. Não devemos trabalhar para colocar boas fotos, mas para conseguir a satisfação”, resume.

Público x privado

Segundo ele, não existem destinos consolidados. “O turismo é como futebol: o time pode ganhar o campeonato e o ano seguinte ser rebaixado. O turismo é um campeonato, temos que conhecer os concorrentes e se esforçar todos os dias”, explica. A Espanha hoje ocupa o primeiro lugar do mundo em competitividade no turismo, mas precisa batalhar para que se mantenha nesta posição. Barcelona recebe 20 milhões de turistas por ano e um dos grandes incentivadores do potencial turístico foi a realização das Olimpíadas na cidade em 1992, que divulgou a cidade para o mundo trouxe um importante incremento na qualidade de vida.

O mundo mudou muito, mas, na avalição dele, os setores público e privado não mudaram. Um dos erros, segundo ele, é focar muito em feiras, tal como era feito no passado. Para ele a nomenclatura correta deveria ser setor público e poder privado e deve haver mais união. Conselhos e demais entidades ligadas ao segmento devem ser comandadas pelos empreendedores para não sofrer problemas de continuidade com a troca da gestão pública.

Turismo destinado também para os pets

Foi para contar as aventuras que fez com a Golden Retriever Cleo que Larissa criou o blog que mais tarde deu origem à Turismo 4 Patas, em São Paulo

Se há vinte anos alguém dissesse que o setor turístico poderia voltar-se para os pets, muita gente poderia achar loucura. Mas em uma época em que os lares brasileiros têm mais cachorros do que crianças, faz sentido investir nesta fatia de mercado. Foi para relatar as aventuras que fazia com a Golden Retriever Cleo que a turismóloga Larissa Rios criou em 2007 um blog que se transformou na Turismo 4 Patas (www.turismo4patas.com.br), primeira empresa brasileira especializada na promoção de atividades de lazer para animais de estimação e seus donos.

No início ela apenas divulgava as aventuras com a sua companheira, com texto sempre focado na experiência do animal. Os serviços foram evoluindo e se moldando a partir das necessidades do mercado, como um guia de busca com locais que aceitam animais, o primeiro selo brasileiro para certificação de hospedagem pet friendly (onde os animais são bem-vindos), manual do pet viajando e até “eventos”, espécie de excursões para quem deseja aventurar-se com os peludos. Cleo, hoje com 10 anos e com displasia coxofemoral, segue  sendo “consultora de aventuras caninas”, mas faz atividades mais leves. Os roteiros mais difíceis ficam por conta da Golden Retriever Alegria, a “estAUgiária”, que há três anos chegou para completar a equipe. Os programas são testados previamente e, a partir das experiências das peludas, Larissa sugere adaptações. “O dono muitas vezes é um mero acompanhante”, conta. Os grupos para os passeios chegam a contar com até 40 animais e, para maior segurança, a empresa contrata o acompanhamento de um adestrador. “Muitos são cães de apartamento, que ficam sozinhos a maior parte do dia. É uma forma dos donos compensarem a ausência. É o momento deles”, conta.

Segundo Larissa, muitos de seus clientes deixavam de viajar por não ter onde deixar os pets ou por não poder levá-los. Ao mesmo tempo, muitos estabelecimentos ainda não aceitam a presença de animais por receio ou por não saber como se adaptar. “Os estabelecimentos que não aceitam animais estão deixando de atender uma grande fatia de mercado. Não precisa quebrar paredes, nem fazer grandes re-formas ou investimentos. São pequenas adaptações, como disponibilizar sacos para recolher as fezes, dispor de um local cercado e treinar funcionários”, analisa.

Larissa presta consultoria e treinamentos para quem quer adaptar seu negócio. Para o próximo ano os planos incluem ampliar a atuação da empresa, hoje mais focada em São Paulo. O objetivo é formar consultores que possam desenvolver as mesmas atividades em outras localidades. Pelo pouco que conheceu de Bento Gonçalves e região durante sua vinda para participar do seminário, Larissa acredita que é possível adaptar vários produtos turísticos já existentes. “Porto Alegre tem um mercado pet muito grande e que certamente viriam para cá”, acredita.

A Turismo 4 Patas promove atividades para os animais de estimação e seus donos, especialmente nos segmentos de aventura e ecoturismo