Segurança: morte de operário reacende preocupação

Os recentes casos de acidentes em locais de trabalho estão motivando órgãos de Bento Gonçalves a intensificar ainda mais as fiscalizações e orientações aos funcionários e responsáveis. Neste ano, duas pessoas já perderam a vida em função de situações desse tipo em Bento Gonçalves. Na região de atendimento do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), que abrange a Serra Gaúcha e os Campos de Cima da Serra, o número chega a 22, três a menos do que no ano anterior. Entre os órgãos mobilizados no município estão o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário de Bento Gonçalves (Sitracom) e o Ministério Público do Trabalho (MPT), além do MTE. 

Somente neste ano, fiscais do Sitracom visitaram mais de 300 canteiros de obras. Conforme o fiscal Vicente Kinalski, a maior preocupação continua sendo em relação à altura e ao uso de equipamentos necessários. “Os maiores problemas estão nas áreas de vivência, como banheiros, refeitórios e alojamentos, que em alguns casos não apresentam condições de higiene. Mas nossa maior preocupação continua sendo preservar a vida dos trabalhadores, por isso observamos e orientamos sobre como evitar quedas”, enfatiza. O fiscal ainda ressalta que todo operário deve sempre utilizar os equipamentos necessários e deixar de lado a crença que pelo simples motivo de ainda não ter sofrido nenhum acidente, isso não possa acontecer com ele. 

As vistorias são realizadas de forma permanente e também após denúncias, que são atendidas de imediato. Depois das notificações, uma nova visita é feita e, caso os critérios elencados não tenham sido observados, é emitida uma comunicação ao MTE. 

Morte e obra embargada

Kinalski relata que a obra onde dois trabalhadores sofreram parada cardíaca após descerem em um espaço confinado havia sido fiscalizada (veja quadro). “A existência do local não foi mencionada aos fiscais”, conta. Um dos trabalhadores, Elcir João Munik, de 51 anos de idade, não resistiu e faleceu na manhã do dia 11. O outro, de 53, permanecia internado em estado grave na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Tacchini até o fechamento desta edição. 

Após o acidente, o MTE foi acionado e embargou a obra por diversas irregularidades. “Até eles não resolverem vários problemas, ela deve permanecer parada. Em relação ao acidente, no dia seguinte foi iniciada uma análise sobre a fatalidade e as conclusões serão as mesmas, independente da morte do trabalhador. Assim que for finalizado, o laudo será encaminhado ao Ministério Público do Trabalho e à Polícia Civil”, destaca Vanius João Araújo Corte, gerente regional do MTE. Segundo ele, os responsáveis pela obra receberão autos de infração. 

O caso ainda está sendo investigado pela 1ª Delegacia de Polícia (1ª DP). Conforme a delegada titular, Cristiane Pasche, um inquérito será aberto para apurar as circunstâncias dos fatos que levaram à morte do trabalhador.

Como denunciar

Denúncias de irregularidades em obras de construção civil podem ser realizadas ao Sitracom pelo telefone 3452 2538.

O caso

O acidente aconteceu no início da tarde de quarta-feira, dia 5, em um prédio em construção na rua José Mário Mônaco, no centro da cidade. Segundo o fiscal Vicente Kinalski, um dos trabalhadores desceu em um espaço confinado para realizar a limpeza na galeria que fica embaixo da obra e desmaiou. Outro funcionário, ao perceber que o colega estava passando mal, tentou descer e acabou ficando desacordado. Um terceiro ainda fez menção de ir ao socorro da dupla, mas percebeu que havia pouco oxigênio e recuou, acionando equipes de socorro. Os dois colaboradores que desceram tiveram parada cardíaca e foram socorridos pelo Corpo de Bombeiros e pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). “Na obra não existem equipamentos como cilindro de oxigênio, máscara especial e nem o acompanhamento de técnicos de segurança para orientação dos trabalhadores em espaços como esse, com pouco oxigênio”, destaca Kinalski. Conforme o fiscal, ao medir a quantidade de oxigênio existente no local foi constatado que existia apenas 3,5%, quando o indicado é, no mínimo, 19%. A vistoria da obra, após o acidente, foi acompanhada também pelo diretor do Sitracom, Ivo Vailatti, e pelo técnico em segurança do trabalho do sindicato, Ricardo Vargas.

Reportagem: Katiane Cardoso


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