Sem esperanças para a ERS-431

Se para os motoristas que trafegam eventualmente pela ERS-431, rodovia que liga Bento Gonçalves a Guaporé, transitar pelo trecho é uma tarefa difícil, imagina para quem mora na beira da estrada e precisa utilizá-la todos os dias. As reclamações, que duram mais de uma década, já foram expostas em diversas reportagens do SERRANOSSA, mas, às vésperas das eleições, elas voltam à tona com ainda mais força. Cansados de ouvir promessas de melhorias e de asfaltamento dos trechos de chão batido, moradores cobram soluções, embora aparentem não ter mais esperanças de que elas cheguem.

No último domingo, dia 14, residentes do distrito de Faria Lemos, das linhas Colussi e Alcântara e de Santa Bárbara bloquearam a rodovia, exibiram faixas de protesto e exigiram melhorias nos trechos. Na estrada também há um outdoor, instalado há meses pela Associação das Entidades Representativas da Classe Empresarial da Serra Gaúcha (CICs Serra) e Câmara de Indústria, Comércio, Agronegócios e Serviços de Guaporé (CIC), que pede a recuperação imediata das estradas. As reivindicações já viraram rotina, mobilizando anualmente entidades e moradores em ações conjuntas. 

Na tarde da última terça-feira, dia 16, quando a reportagem do SERRANOSSA percorreu os trechos, funcionários do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) trabalhavam nos locais não asfaltados. “Estamos apenas patrolando”, afirmou um dos operários. Paliativa, a solução não agrada aos moradores. Isso porque, normalmente, poucos dias depois, a rodovia volta a apresentar buracos (que mais parecem crateras) e pedras soltas. 

Ajuda aos motoristas

A professora Mônica Giuriatti, de 19 anos, que mora bem na beira da estrada resume a insatisfação de sua família e dos vizinhos. “Ninguém gosta da poeira ou barro que entra nas nossas casas, mas estamos acostumados a viver com portas e janelas fechadas. O que não aguentamos mais é gastar com troca de pneus e com manutenção de carro. Não suportamos viver a angústia de esperar nossos familiares chegarem em casa, afinal, o perigo ao trafegar por essas estradas é latente”, desabafa. “Em ano de eleições, muitos políticos aparecem aqui fazendo promessas e mais promessas para conquistar nosso voto. Não acreditamos mais. Aliás, neste ano, nenhum candidato apareceu aqui. Com certeza, eles sabem que não serão recebidos”, garante. 

Sua avó, Adelina Giuriatti, que mora no local há mais de 60 anos, afirma que evita sair de casa. “Tenho dificuldades para caminhar e passear de carro por esses trechos só piora as coisas”, lamenta. A família conta que frequentemente motoristas buscam ajuda nas casas que beiram a rodovia. “Só neste final de semana, duas pessoas pediram ajuda porque furaram o pneu”, conta Mônica. Como se não bastassem as péssimas condições dos trechos, segundo os moradores, nos locais asfaltados, alguns motoristas abusam da velocidade. 


Falta segurança

Em novembro do ano passado, um grande deslizamento ocorreu no quilômetro 13, trecho asfaltado da ERS-431. As obras de recuperação duraram quase nove meses, causando prejuízos e transtornos para motoristas e moradores. Um deles é Paulo José Felippe, de 62 anos, que possui uma tenda de produtos coloniais a poucos metros do local. Segundo ele, o faturamento baixou consideravelmente. “Não parei para calcular tudo que eu perdi neste tempo, mas com certeza foi muito. Hoje, luto para recuperar os clientes que perdi, afinal, muitos migraram para outras tendas”, lamenta.

Paulo também alerta para outra preocupação: a falta de segurança. “Estamos praticamente abandonados aqui. Não vejo policiamento. Já sofri um furto e uma tentativa de furto. Mas tenho vizinhos que já foram assaltados várias vezes. Vivemos com medo constantemente”, finaliza.

O que diz o Daer

Contatado por meio de sua assessoria, o Daer informou que a instabilidade constante do terreno na área em que está a ERS-431 seria o principal fator para o órgão não pavimentar os trechos da rodovia que são de chão batido. “A opção em não pavimentar esses locais, além do elevado custo da pavimentação, busca a segurança do usuário, pois as rodovias pavimentadas geram maior velocidade e, com a formação dos degraus devido ao movimento da encosta, podem ocasionar acidentes de maiores proporções. Nos trechos não pavimentados, os degraus que surgem são mais suaves, pois não há pavimento e podem ser constantemente patrolados pelas equipes”, diz a resposta da autarquia.

Mesmo assim, o departamento voltou a prometer melhorias na estrada, mas sem detalhar prazos. “Há uma previsão de empréstimo de organismos internacionais para a execução das obras, cujo valor está estimado em R$ 30 milhões. Outro local que não está pavimentado é a cabeceira da Ponte em Santa Bárbara. A obra da ponte está concluída e existe um contrato com a empresa Encopav para a execução das cabeceiras da ponte. Porém, com o atual regime de chuvas, ocorreu a erosão nas extremidades da ponte exigindo a execução de obra de contenção (antes da execução das cabeceiras). O Daer já está providenciando a contratação do projeto e da obra para as contenções dessa ponte, que se pretende que seja com recursos do Tesouro do Estado”, conclui o comunicado.

Reportagem: Raquel Konrad


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