Sem produção por conta da seca, família em Bento sobrevive com auxílio emergencial 

A falta d’água em Bento Gonçalves tem gerado um alerta para todos os moradores, que poderão enfrentar medidas de racionamento nas próximas semanas, conforme vem sendo noticiado pelo SERRANOSSA. A Barragem São Miguel, principal fonte de abastecimento do município, está cinco metros abaixo do nível normal – maior baixa desde sua inauguração. Entretanto, o desafio não é de hoje: os efeitos da estiagem já estão sendo sentidos há alguns meses por produtores locais. É o caso de Anderson Mattiello e Vanusa Candaten, moradores da Linha Ferri, em Tuiuty. 

Há cerca de três anos, os produtores têm sido um dos principais fornecedores de tomate-cereja para os restaurantes de Bento, se destacando no quesito sabor e durabilidade. Em 2019, foram cerca de 6 toneladas entregues do produto. Também no ano passado, o casal passou a entregar tomates longa vida para a merenda escolar do município, chegando ao total de 16 toneladas. Em tempos normais na propriedade de Anderson e Vanusa, a grande estufa [fruto de um alto investimento] permite que os produtos sejam colhidos durante o ano todo, mesmo no inverno. Entretanto, desde novembro do ano passado, os produtores perceberam que 2020 seria um ano atípico. “A gente usa captação do telhado [da estufa], que desce para o bueiro e vai para o açude e para as caixas [alocadas em frente à estrutura]. Toda nossa irrigação é pela água da chuva, mas desde novembro do ano passado que não chove com volume”, lamenta Anderson.

 


 

Hoje, o açude utilizado para regar os tomates está quase seco, sem poder sequer abrigar peixes. “Essa é a terceira vez que estamos tentando plantar, mas até agora não conseguimos colher nada. Estamos nos virando com o auxílio emergencial [do governo federal] que eu recebi ontem e que o Anderson vai receber nos próximos dias. Estamos usando esse valor para pagar algumas contas e conseguir comer”, relata Vanusa. 

Questionados sobre as alternativas para enfrentar a seca, o casal conta que está tentando perfurar um novo poço na propriedade, para encontrar água. “Nós furamos 160 metros, mas acabou o dinheiro e não encontramos água. Fomos pedir ajuda na prefeitura, mas eles falaram que estão furando poços comunitários, para abastecer mais de cinco famílias”, conta Anderson. Levando em consideração anos normais de plantação, com a estufa atingindo 100% de sua capacidade, são utilizados cerca de 8 a 10 mil litros de água diariamente. 

 


 

Além da plantação de tomates, o casal cultiva culturas como aipim e chuchu, que também foram prejudicadas pela falta d’água. Dessa forma, sem muitas alternativas, Anderson e Vanusa torcem para que a chuva retorne nos próximos dias, a fim de conseguir plantar cerca de 1.000 mudas preparadas com carinho ao lado da estufa. “Estamos bastante preocupados porque as previsões são de que no final de 2020 e começo de 2021 tenha outra seca. Então se a gente não produzir agora no primeiro semestre, corremos o risco de ter um inverno com pouca chuva e uma nova estiagem no final do ano”, analisa Anderson. “A gente tenta pensar que a situação poderia ser pior e agradecer por termos o que comer”, finaliza Vanusa. 

 

Plantações em estufa são alternativas para agricultor em Carlos Barbosa

Para o produtor Lademir Chies, do interior de Carlos Barbosa, as estufas estão sendo a grande saída para evitar maiores prejuízos da seca. Contando com uma diversificada produção, Chies revela que está conseguindo manter plantações de alface, rúcula, salsa e cebolinha. “Eu estou me virando, mas limitado, porque não posso plantar outros produtos, como brócolis, repolho e couve flor”, conta. 

A principal fonte de renda do produtor é a venda desses alimentos a grandes redes de supermercado, principalmente para a região de Porto Alegre. Entretanto, mesmo ainda tendo algumas opções de produtos, ele afirma que a procura está baixa devido à pandemia. “Em Porto Alegre está tudo meio parado. Os mercados estão comprando pouco. Se colocar Coronavírus e estiagem junto, a expectativa não é muito boa não”, analisa. 

Com a baixa procura nos mercados, Chies e sua família tem dado uma atenção especial à empresa Divina Saúde, através da qual realizam a montagem e a entrega de cestas com produtos orgânicos frescos – produzidos na propriedade de Chies. “A gente imagina que vai ser muito pior daqui pra frente. Vai faltar produtos e o pessoal não vai conseguir comprar [por causa da situação financeira ocasionada pela pandemia]. Metade dessa safra já foi perdida, porque depois em outubro tu não planta mais, é muito calor. Então tu tem que se limitar para tentar produzir aquilo que tu tem. Tudo em estufa e com irrigação. Eu ainda tenho alguma coisa de água, mas tem que chover”, conclui. 

Fotos: Eduarda Bucco e Arquivo Pessoal