Série de erros levou ao agravamento da pandemia, analisa pneumologista

Mesmo com a adoção de medidas emergenciais e com a reestruturação de serviços de saúde, o médico pneumologista Adriano Alves Müller afirma que o Coronavírus poderia ter sido melhor controlado em Bento e no mundo. “Começou completamente errado. A Organização Mundial da Saúde não assumiu como pandemia desde o início, não provocando o lockdown das regiões de origem. Isso nos atrasou bastante”, analisa. O médico também acredita que houve certa negligência por parte das instituições públicas, que não suspenderam o Carnaval do ano passado e, ainda, liberaram feriados neste ano. “Isso fez com que o caos que está acontecendo hoje atingisse as nossas famílias”, comenta. 

Müller ainda cita a falta da criação de mais leitos por parte dos estados e municípios e a falta de instrução de funcionários para que se isolassem e procurassem atendimento em caso de sintomas. Além disso, o médico afirma que não houve um programa eficaz de testagem em massa no município e em outras regiões do Brasil e do mundo. “Até hoje, as pessoas que consultam em instituições públicas não são todas testadas”, pontua. 

Alguns protocolos importantes para evitar a disseminação do vírus, conforme o médico, deixaram de ser seguidos por falta de recomendação dos governantes. Um deles diz respeito ao uso da máscara. “Muitos prefeitos e governadores demoraram para assumir que seria importante, inclusive orientavam que não era necessário”, recorda. “O uso contínuo de máscara, higiene das mãos e distanciamento são os três pilares para o alívio da transmissão. Se tivessem feito isso desde o começo, talvez não tivéssemos tido picos tão importantes”, analisa o pneumologista. 

Vinícola Garibaldi
Vinícola Garibaldi


Pneumologista Adriano Alves Müller. Foto: Arquivo pessoal

Agravamento da pandemia

Conforme o médico, a principal causa do agravamento da pandemia vivenciado hoje no Rio Grande do Sul está ligada à circulação da nova variante de Manaus, a chamada P1. “Muito se fala sobre a ajuda do governo do RS ao Estado do Amazonas, com a transferência de pacientes para cá. Não está provado, mas pode ter sido um dos fatores. Além da continuidade de viagens interestaduais. Sabíamos que isso aceleraria a transmissão”, comenta. 

A nova cepa tem gerado casos mais graves da COVID-19 e acometido pessoas mais novas. “Os jovens demoram para perceber que estão doentes e acabam acometendo outras pessoas. É um vírus muito mais transmissível. Isso lota hospitais. Temos gente jovem na UTI e não sabemos ainda quando isso vai parar”, lamenta. 

Aceleração da vacina é a única solução

Na opinião do pneumologista, o Brasil precisa trabalhar com foco em dois pilares para garantir o controle da pandemia: a aceleração da vacina com imunizante que proteja contra internações e óbitos e a disponibilidade para toda população de um antiviral eficaz, “assim como o Tamiflu na Gripe A (H1N1)”, exemplifica.

No momento atual, apesar de ser contrário ao lockdown, o médico acredita que o fechamento completo seja a solução necessária para amenizar a situação do Hospital Tacchini. “Não adianta fazermos campanhas, aumentarmos leitos. O hospital está no limite máximo da possibilidade de atendimento. Muitas pessoas na fila de espera. A equipe médica, de enfermagem, de limpeza… estão na capacidade máxima, dobrando horário de trabalho. Nos consultórios estamos atendendo na parte da noite e até mesmo nos fins de semana”, relata. “Mas se não houver senso crítico por parte da população, de procurar atendimento em caso de sintomas e se isolar, e também por parte dos atendimentos de saúde em testar essa pessoa, corremos o risco de nunca atingirmos o padrão que os demais países desenvolvidos estão atingindo, que é a amenização dos casos”, acredita Müller. 

Para o prefeito de Bento Gonçalves Diogo Siqueira, o lockdown não é visto como solução. Siqueira acredita na autonomia dos municípios para lidarem com a pandemia diante da sua realidade, por meio da cogestão. “As atividades precisam seguir e podem seguir com restrições e um rígido cuidado com os protocolos de saúde”, opina. “O que precisamos é evitar aglomerações desnecessárias. E buscar vacinar a população, essa é a forma mais concreta de termos uma retomada das nossas atividades econômicas”, complementa. O prefeito ainda reforça que o município novamente reestruturou seu sistema de saúde para garantir atendimento a todos. “Nenhum paciente ficará sem atendimento”, garante.

Reportagem escrita para a série especial de um ano da pandemia em Bento Gonçalves. Leia mais clicando aqui. 

Leia também: Bento-gonçalvenses relatam situação da pandemia e protocolos em outros países.
 

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