Série especial: Dona Valda, aos 80 anos, incansável na arte de ajudar as pessoas

Um exemplo de força, vitalidade e determinação. Assim pode ser descrita a dona Valda Ferronato. Do alto de seus 80 anos de idade, ela é incansável, sobretudo na arte de ajudar o próximo. 
A rotina atribulada inclui academia duas vezes por semana (ela ama musculação!), trabalho voluntário em três entidades assistenciais de Bento Gonçalves, além das tarefas domésticas – ela se orgulha de fazer até o próprio pão e de nunca ter precisado de uma faxineira. Manter-se ativa tem sido constante na vida de Valda desde os tempos em que morava no interior, porém ela conta que ocupar a mente virou uma necessidade vital há 14 anos, quando seu filho Marcos morreu após sofrer um acidente de trânsito em Bom Princípio. “Ele tinha 29 anos de idade, havia voltado há uma semana de um intercâmbio na Itália, onde ficou por seis meses. Foi visitar uns amigos em Porto Alegre e se acidentou na volta. Foi muito difícil”, emociona-se. 
Para superar a perda, ela encontrou forças na união da família – o marido, José, e as filhas Márcia e Marisa – e descobriu que ocupar a mente é um dos segredos para suportar os problemas. “Se eu não tivesse a cabeça ocupada, não estaria bem hoje. A vida nos reserva surpresas e precisamos nos manter firmes, é preciso se ocupar para poder levar a vida adiante”, ensina. O trabalho voluntário virou uma paixão. “Gosto muito de ajudar os outros, melhor do que se fosse um trabalho normal, remunerado. Adoeço se eu ficar em casa, me sinto velha. Eu sei que eu estou velha, de corpo, mas de mente eu não me sinto assim. Quando fiz 80 anos, perguntei para mim mesma ‘será que é verdade isso?’ Se eu pudesse dar um conselho para as pessoas, diria que não fiquem em casa, que procurem algo para ocupar o corpo e a mente. Não dá para ficar em casa curtindo a dor. Esse é o segredo para levar a vida adiante, de forma mais feliz”, comenta. 

Dona Valda é voluntária em três entidades de Bento Gonçalves: na Paróquia Santo Antônio, onde ela auxilia na confecção de fraldas geriátricas uma tarde por semana, cortando, dobrando e fixando etiquetas; no Lar do Ancião, onde ela ajuda no reparo de roupas dos idosos, pregando botões, fazendo barras ou crochê ou costurando; e na Farmácia Dr. Heitor Benedetti, setor da Sociedade Civil Nossa Casa que distribui medicamentos a pessoas necessitadas, onde, junto com outras voluntárias, ela auxilia na separação e na organização de remédios, trabalho supervisionado por farmacêuticas. Como se não bastasse, ela ainda faz trabalhos em ponto-cruz para uma loja de Bento Gonçalves. Detalhe: vai de um lado a outro a pé. Carona só quando é realmente muito necessário. “Meu marido às vezes me xinga, pergunta por que eu não consigo sossegar um minuto sequer. Mas eu adoro essa agitação. Precisei parar por uns dias em função de uma gripe forte e agora estou toda atrasada na minha rotina”, diverte-se. Mas não se engane. Aos 80 anos, seu José é tão incansável quanto. “Ele trabalha como comprador de uva para uma empresa de sucos de Farroupilha. Até tentou parar de trabalhar por uns três ou quatro meses, mas não aguentou ficar parado. Ele me xinga, mas também não sossega”, ri.
Para dona Valda, um dos maiores benefícios de fazer trabalho voluntário são as amizades. “Fazemos muitos amigos, tem muito companheirismo. É bom para quem ajuda e bom para quem recebe ajuda. Às vezes só fazer companhia é de grande valia. Ajudar faz a vida ficar mais leve”, comenta. 
 
Incansável
A necessidade de se ocupar é tanta que, enquanto responde às perguntas desta entrevista, dona Valda não sossega. Recorta plaquinhas que servirão para organizar diferentes tipos de remédios e forra cada uma delas com papel adesivo. “Se é um trabalho que vocês, jovens, podem fazer, eu também posso. Por que não?”, questiona, incansável. A única exceção é para atendimento de pessoas no balcão da farmácia. “As receitas médicas são muito ruins de entender, deixo esse trabalho para as farmacêuticas. Então prefiro me manter nos bastidores, onde sou mais útil”, comenta. “Às vezes eu penso que não vou conseguir fazer tudo, mas tudo é questão de organização”, ensina. 
 
Tecnologia
Apesar de se considerar “das antigas”, dona Valda se orgulha de ter feito curso de informática e de ter aprendido a usar computador. “Aprendi a ler jornal na internet e pesquisar na internet. É bem útil”, diz.
 
Bento Gonçalves 
Na visão da dona Valda, a cidade evoluiu bastante, especialmente no que diz respeito a voluntariado. “Hoje as pessoas se preocupam mais em ajudar o próximo, tem muita gente que procura ajudar. Quanto mais união, mais se vai adiante e melhor”, diz. O crescimento da cidade trouxe também problemas relacionados à segurança. Mas nem isso afeta dona Valda. “Eu saio sem medo. Óbvio que tem que se cuidar, mas não dá para parar a vida por causa do medo, senão não se faz mais nada. E eu também não tenho medo da morte. Sempre digo para as pessoas, quando morre alguém querido: o importante é se ocupar, sair de casa. É a melhor forma de lidar com o luto e com a perda”, acredita.

Esta é a 32ª reportagem da Série “Vida de…”, uma das ações de comemoração aos 10 anos do SERRANOSSA e que tem como objetivo contar histórias de pessoas comuns, mostrando suas alegrias, dificuldades, desafios e superações e, através de seus relatos, incentivar o respeito. 

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