Série especial Vida de… 64 anos dedicados à contabilidade

Lênio Tregnago, 82 anos, e Walter Tesser, 86, estão à frente do escritório de contabilidade mais antigo em funcionamento em Bento Gonçalves, o Tesser Tregnago Escritório Contábil, fundado em 2 de janeiro de 1953. Os dois se conheceram no último ano do curso Técnico em Contabilidade, no Colégio Marista Aparecida, e se uniram para montar a empresa, inicialmente localizada na rua Marechal Deodoro, no Centro.

Em 1975, o escritório mudou-se para a atual sala, na rua Júlio de Castilhos. Desde o início, as atividades prestadas são exclusivamente serviços contábeis e orientação tributária, previdenciária e trabalhista a pessoas físicas e jurídicas, compreendendo a abertura de empresas e declarações de rendimento de pessoas físicas. Tregnago lembra que a empresa para a qual fez o seu primeiro balanço ainda é cliente do escritório, embora ao longo destas mais de seis décadas tenha trocado de comando, passando para os filhos e netos do antigo proprietário.  

Eles começaram a trabalhar em uma época em que quase todas as pessoas da cidade se conheciam. Além das mudanças na legislação, também acompanharam as grandes transformações na cidade – Tregnago lembra que na infância jogava futebol na rua em frente à casa, no bairro Cidade Alta, precisando interromper a diversão apenas quando – muito raramente – passava um caminhão. 

Os dois ainda seguem atendendo aos clientes, com funções divididas: Tregnago na área do Imposto de Renda e Tesser nas áreas de IPI e contratos, além de ser o responsável pelo setor financeiro. Tregnago acredita que pessoas que se aposentam ainda novas e param de trabalhar não se sentem felizes. “Meu falecido pai trabalhou até com úlcera no estômago – ele era gerente da Caixa Econômica Federal – e era abordado pela minha mãe e pelos meus irmãos para parar de trabalhar. Eu tinha mais intimidade e uma vez falei com ele, que disse ‘o que eu vou fazer depois?’ Eu quero seguir o exemplo dele”, comenta. 

Além da atuação em outras cidades na região, a dupla pretende, em breve, expandir os negócios com uma filial em Porto Alegre. A equipe atual é composta por 20 pessoas, das quais 12 são contadores ou técnicos em contabilidade, entre eles um dos três filhos de Tregnago e o único que seguiu os passos do pai – um dos dois filhos de Tesser, também formado na área, já chegou a fazer parte da equipe.  A maioria dos funcionários já está há vários anos na empresa. “O treinamento demanda de dois a três anos para aprender 10% do que a gente tem”, comenta Tregnano. “Para conhecer mais de 200 clientes não é fácil”, acrescenta Tesser. 

“A atividade contábil é bastante estática e com pequenas modificações, porém, o nosso maior desgaste é a legislação tributária, altamente dinâmica e quase sempre de difícil interpretação, o que nos faz dispendermos diariamente cerca de 20% do nosso tempo de trabalho em estudo e interpretação de legislação”, explica Tregnago, citando, para exemplificar, a nova legislação trabalhista, o novo modelo de tributação que entrará em vigor em 2018 para empresas optantes pelo Simples Nacional e o chamado e-Social.  “Leio e estudo legislação há muitos anos e quase todos os dias me aperto em alguma coisa. Tenho que me valer de telefonemas à Receita Federal ou viagens a Caxias”, comenta Tregnago, que ainda se recorda de algumas curiosidades de legislações de outras épocas, como a Lei de Proteção à Família, na época do presidente Geúlio Vargas, que fixava índices maiores de Imposto de Renda para homens solteiros ou viúvos sem filhos. 

De janeiro a junho é o período de maior movimentação no escritório – meses em que raramente tiram férias. Antes do surgimento dos computadores, era comum estender o expediente até a madrugada. Embora saiba utilizar as novas tecnologias, Tregnago ainda não aposentou a máquina de escrever, que considera mais prática para registrar algumas informações. O segredo para a disposição, ensinam os sócios, é manter a cabeça ativa e gostar do que faz. 

Esta é a 50ª reportagem da Série “Vida de…”, uma das ações de comemoração aos 10 anos do SERRANOSSA e que tem como objetivo contar histórias de pessoas comuns, mostrando suas alegrias, dificuldades, desafios e superações e, através de seus relatos, incentivar o respeito.